Entrevista, post, foto com Bolsonaro: por que MPF quer afastar chefe da PRF – UOL Confere
Do UOL, em São Paulo
15/11/2022 17h24
Uma entrevista em defesa do governo Jair Bolsonaro (PL) em meio à corrida eleitoral, publicações nas redes sociais em campanha aberta à reeleição do presidente e até fotos ao lado do atual chefe do Executivo.
Essas e outras atitudes de Silvinei Vasques, diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal), foram citadas pelo MPF (Ministério Público Federal) do Rio de Janeiro para embasar um pedido de afastamento por uso indevido do cargo por um período de 90 dias. O documento, assinado ontem pelo procurador Eduardo Santos de Oliveira Benones e encaminhado à Justiça Federal, se refere a episódios ocorridos entre agosto e outubro.
A reportagem enviou mensagens ao perfil no Instagram de Silvinei para que ele se posicionasse sobre o pedido, mas não obteve resposta. Procurada, a PRF não se manifestou. Assim que houver um posicionamento, ele será incluído neste texto.
Na ação de improbidade administrativa obtida pelo UOL Notícias, o MPF também questiona as abordagens de policiais rodoviários federais nos ônibus que faziam o transporte gratuito de eleitores no segundo turno. No documento, o procurador diz ver indícios de omissão na postura dos agentes nos bloqueios golpistas nas rodovias depois da eleição vencida pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para o MPF, a motivação seria política. “É notório que após o anúncio do resultado das eleições, instalou-se no país um clima de instabilidade o qual demandou a atuação imediata de vários órgãos. Não se pode afastar, de plano, que as manifestas preferências [de Silvinei Vasques] tenham influenciado e possam vir influenciar a condução das ações da PRF durante este momento de crise”, cita o órgão.
A ação cita uma entrevista do diretor da PRF à Jovem Pan em 29 de agosto deste ano, 20 dias depois do envio ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com registro de candidatura de Bolsonaro, deferido no dia 6 de setembro.
Ao ser questionado sobre uma possível “bolsonarização” da PRF, Silvinei negou qualquer tipo de aparelhamento, mas passou a defender as medidas adotadas por Bolsonaro de investimentos na entidade. “Nunca tivemos tanto investimento na Polícia Rodoviária Federal. Nunca tivemos a presença de um presidente à formatura da polícia.
No mesmo dia, Vasques postou uma mensagem aberta ao público com o seguinte trecho: “Agradeço ao presidente Jair Bolsonaro (…) pela oportunidade.”
Posts e fotos em campanha aberta a Bolsonaro. O pedido do afastamento do MPF cita outras quatro mensagens no perfil do diretor.
Em uma delas, postada no dia 9 de setembro, Silvinei voltou a publicar uma mensagem de agradecimento ao presidente, citando a participação da PRF nos atos da Independência do Brasil, comemorada dois dias antes. Na foto, aparece entre o presidente e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Na outra, publicada nos stories no dia 1º de outubro, às vésperas do primeiro turno, reproduziu uma foto com Bolsonaro e com uma figurinha da bandeira do Brasil abaixo.
Na terceira, no dia 16 de outubro, voltou a postar foto ao lado do presidente.
“Vote 22 Bolsonaro presidente.” A última publicação ocorreu em 29 de outubro, um dia antes do segundo turno das eleições. “[Silvinei] fez postagem em sua conta pessoal no Instagram] pedindo explicitamente voto para o Presidente da República e candidato à reeleição Jair Messias Bolsonaro”, diz o MPF, anexando a imagem da publicação, que dizia: “Vote 22, Bolsonaro presidente.”
Discurso em formatura. A ação de improbidade administrativa também faz referência a um discurso no dia 6 de outubro, na formatura de um curso de formação da PRF.
“Agradecer muito ao nosso presidente da República por essa oportunidade aos profissionais da segurança pública e por tudo que tem feito. Por tudo que tem feito pela nossa instituição. E, por consequência, a PRF pela sociedade”, disse, conforme cita o documento do MPF.
Na ação de improbidade administrativa, o MPF argumenta que Silvinei fez uso indevido do cargo ao fazer campanha aberta para Bolsonaro na corrida eleitoral.
“[Silvinei] participou de eventos públicos oficiais, concedeu entrevista em meio de comunicação, bem como fez publicações em suas redes sociais (…) usando da imagem da instituição [para] promover efetivas manifestações (…) de apreço ao candidato à reeleição Jair Messias Bolsonaro, com o fim de obter proveito de natureza político-partidária, inequivocamente demonstrado no pedido explícito de voto às vésperas do segundo turno da eleição presidencial”, citou.
“Os sucessivos atos, para além de configurar ilícito eleitoral, importa no reconhecimento do uso ilícito do mais importante cargo da hierarquia da Polícia Rodoviária Federal para favorecer determinado candidato, violando os princípios da legalidade, da impessoalidade e da moralidade”, complementou o documento.
Após o MPF divulgar a ação de improbidade, Silvinei apagou o seu perfil no Instagram, usado nos últimos meses para fazer campanha aberta para Bolsonaro.
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