Escândalo de corrupção: Deputados ingleses recebem do Qatar presentes “luxuosos” avaliados em mais 300 mil euros antes do Mundial – SAPO
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Numa altura em que a União Europeia (UE) se vê a braços com o maior escândalo de corrupção de sempre a assolar o Parlamento Europeu, no chamado ‘Qatargate’, em que figuras de Bruxelas, incluindo a ex-vice do Parlamento Europeu, são suspeitas de aceitar subornos para intervir nas instituições europeias a favor do Qatar, o tema gera também polémica no Reino Unido.
Este escândalo de ‘lobbying’, vem também levantar alarme às ‘ações de charme’ levadas a cabo pelo Qatar antes do Mundial de Futebol, que decorre naquele país árabe. O governo qatari, segundo o Politico, gastou mais de 300 mil euros em presentes, viagens com tudo pago e estadias em hotéis, tudo descrito como “luxuoso”, a deputados do Reino Unido desde outubro do ano passado.
Assim, os deputados que receberam as ofertas estão agora a ver-se obrigados a justificar o porquê de lhes terem sido atribuídas pelo Qatar, perante as críticas de várias associações e organizações de defesa dos direitos humanos.
“Nenhum político deve receber dinheiro ou viagens luxuosas do Qatar. Em vez disso, devem estar é a falar contra as extensas violações de direitos humanos daquele regime”, declara Sacha Deshmukh, chefe executivo da Amnistia Internacional. Também Rose Whiffen, investigadora da associação Transparency International UK, não poupa críticas: “Estes deputados deviam perguntar-se o porquê de governos com maus registos de direitos humanos estarem a oferecer-lhes viagens pagas ao estrangeiro, antes de decidirem se é certo ou não aceitar”.
Não há para já provas que apontem para suspeitas de subornos a deputados do parlamento inglês, mas alguns dos que receberam presentes do Qatar têm sido criticados por terem iniciado debates nos quais elogiaram a defesa dos direitos humanos no Qatar, ainda que tenham declarado, por exemplo, as viagens oferecidas, de acordo com as regras parlamentares.
No total, são 36 os deputados ingleses, de vários quadrantes políticos que receberam os mais de 300 mil euros em presentes, com três deles a receberem benefícios avaliados em mais de 15 mil euros cada um. Em média, cada deputado recebeu presentes avaliados em mais de 8 mil euros e o Qatar ofereceu-lhes viagens com um valor médio que ultrapassa os seis mil euros.
Os deputados do Partido Conservador estão em maioria (23 dos 36 identificados), com Nigel Evans (porta-voz), Crispin Blunt e Mark Pritchard a receberem presentes do Qatar avaliados em mais de 11 mil euros cada um: são os que tiveram direito a maior generosidade do Qatar, com os dois primeiros deputados a terem ofertas num valor superior a 15 mil euros. Outro que recebeu ofertas no mesmo valor foi Angus Brendan MacNeil, deputado do Partido Nacional Escocês.
Alun Cairns, que recebeu presentes e viagens acima dos 10 mil euros, alegou na Câmara dos Comuns em Outubro que “o desporto pode mudar o mundo”, citando Nelson Mandela, e falou da “importância de aproximar culturas para melhor perceber, influenciar e progredir”, para que “cada nação respeite, identifique e apoio os direitos humanos”.
David Mundell, também Conservador, e que recebeu presentes dos qataris de mais de 8 mil euros, desvalorizou a falta de direitos humanos para pessoas LGBTQI+ no Qatar: “Muitas das pessoas que falam deste assunto deviam preocupar-se em lidar com os problemas LGBT no futebol profissional do Reino Unido”.
Em geral, todos os 36 deputados listados, poucas ou nenhumas vezes criticaram o Qatar nos debates.
Alguns envolvidos já justificaram as viagens e presentes recebidos, como Jackie Doyle-Price que diz que “é precisamente para os desafiar quando a problemas de direitos humanos que vamos nessas viagens”. Se vamos moralizar o Qatar, devemos ser mais honestos connosco próprios e com as nossas falhas”, declarou a deputada.
Já Gill Furniss, a deputada do Partido Trabalhista inglês que recebeu presentes do Qatar no maior valor (mais de 8 mil euros) disse que aceitou viajar para o país “para poder ter discussões francas e completas com os líderes políticos sobre questões de direitos humanos”, acrescentando que dicou “desapontada com a falta de progresso” obtido.
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