Fiocruz avisou governo Bolsonaro sobre peixes contaminados por mercúrio – Metrópoles

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24/01/2023 16:14, atualizado 24/01/2023 19:20
Publicada em julho de 2022, uma nota técnica da Fundação Oswaldo Cruz alertou que consumidores de peixes oriundos da Bacia do Rio Branco, em Roraima, estão sob risco de adoecer devido à contaminação por mercúrio. O estado é o foco da crise humanitária envolvendo os Yanomamis e o garimpo ilegal na terra indígena. Segundo pesquisadores da Fiocruz ouvidos pelo Metrópoles, tanto o governo Bolsonaro quanto o governo do estado ignoraram o alerta.
De acordo com o documento, a ingestão de metilmercúrio – um dos representantes dos compostos orgânicos de mercúrio, com alta toxidade – por crianças menores de 5 anos pode ser 32 vezes superior aos limites seguros estabelecidos pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU). A substância é bastante utilizada no garimpo de ouro, atividade que avançou sobre a Terra Indígena Yanomami (TIY), conforme o último relatório da Hutukara Associação Yanomami (HAY).
O estudo analisou peixes oriundos de quatro pontos da Bacia do Rio Branco: o Baixo Rio Branco; Baixo Rio Mucajaí, afluente da margem direita do Rio Branco; Rio Branco na cidade de Boa Vista, capital de Roraima; e Rio Uraricoera, no município de Amajari.
Os pescados foram enviados para análise do nível de mercúrio no Instituto Evandro Chagas (IEC), em Belém (PA). O resultado indica que a ingestão de metilmercúrio proveniente do consumo de pescado contaminado ultrapassa os limites seguros nas seguintes proporções:
Considerado o principal produtor de peixe da região, o município de Caracaraí fica à margem do Baixo Rio Branco. Amostras de peixes colhidas na região indicam que a concentração mediana de mercúrio foi 0,560 µg/g. Ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara (PSol) afirmou na última semana que 570 Yanomamis morreram, nos últimos 4 anos, por decorrência da contaminação por mercúrio.
Veja:
A nota é de autoria de pesquisadores da Fiocruz, do Instituto Socioambiental, do Instituto Evandro Chagas e da Universidade Federal de Roraima. O documento ainda recomenda a interrupção imediata das atividades ilegais de garimpo nas terras indígenas de Roraima e a retirada dos invasores das terras da União, além da elaboração de um plano de descontinuidade do uso de mercúrio na mineração de ouro no país, como indica a Convenção de Minamata.
“Na época que a nota foi liberada, ninguém do governo entrou em contato conosco. Com o caos sanitário denunciado nos últimos dias, houve maior visibilidade. Nós, pesquisadores que trabalhamos com contaminação, agora fomos contatados [pelo governo Lula]. Será formado um grupo técnico para discutir a situação e nós vamos participar”, diz Ana Claudia Vasconcellos, pesquisadora em Saúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz.
Quando o documento foi publicado, o Ministério da Saúde era comandado por Marcelo Queiroga. Procurado, o então ministro do governo Bolsonaro não retornou o contato até o momento da publicação desta matéria.
Procurada, a Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação do Governo de Roraima também não retornou. Como mostrou o Metrópoles, o governador Antônio Denarium (PP) proibiu a destruição de equipamentos de garimpos ilegais apreendidos por órgãos ambientais de fiscalização.
“Espero que essa nota técnica seja utilizada como subsídio para políticas públicas, os níveis de contaminação são alarmantes, inclusive para a cidade. Na verdade, toda a população da Região Norte do Brasil pode estar exposta à contaminação por peixes com mercúrio. No caso dos povos indígenas, é mais grave, pois o peixe pode ser a única fonte de proteína animal, o que aumenta a dose de mercúrio ingerida por eles”, completa Ana Claudia Vasconcellos.
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Sonia Guajajara
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