Frigorífico em MG faz evento pró-Bolsonaro em intervalo de almoço de funcionários; veja vídeos – UOL

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Funcionários de um frigorífico de Minas Gerais foram pressionados a vestir uma camiseta com o slogan e o número do presidente Jair Bolsonaro (PL) e a participar de uma conversa sobre o segundo turno das eleições. O evento foi na quinta-feira (20), durante o intervalo de almoço dos trabalhadores.
O caso se soma à onda de denúncias de assédio eleitoral recebida pelo Ministério Público do Trabalho neste ano, que se agravou após o primeiro turno. Segundo balanço da entidade divulgado nesta sexta, foram recebidas 1.112 denúncias em todo o país —sendo 295 delas, de Minas Gerais, que lidera o ranking.
A ação ocorreu em Betim (município da região metropolitana de Belo Horizonte) nas empresas Serradão e Frigobet, que são do mesmo grupo. A conversa contou com a participação do deputado federal bolsonarista Mauro Lopes (PP-MG).
Um empregado afirmou à Folha que o frigorífico também prometeu doar um pernil para cada funcionário que levar o comprovante de votação na segunda-feira seguinte ao segundo turno (31) caso Bolsonaro seja reeleito. O homem preferiu não se identificar por medo de perder o emprego.
Vídeos obtidos pela reportagem mostram os funcionários reunidos no pátio da empresa vestidos com uma camiseta verde e amarela por cima do uniforme branco. Alguns estão de touca, capacete e máscara.
Empregados relataram que a camiseta foi distribuída durante o horário de almoço. Nela, aparece o slogan de Bolsonaro —”Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”— e o número do presidente nas urnas.
Nos vídeos, é possível ouvir o hino nacional e um homem falando sobre o fechamento de igrejas. Em outra gravação, uma pessoa afirma que “mataram” os prefeitos de Santo André (SP) e de Campinas (SP), porque “brigam entre eles”.

Os assassinatos dos ex-prefeitos Celso Daniel (PT) e Antônio da Costa Santos (PT), conhecido como Toninho do PT, são citados frequentemente por apoiadores de Bolsonaro em ataques aos adversários. As investigações não apontaram a participação de integrantes do PT nos crimes.
Outro vídeo mostra o deputado Mauro Lopes discursando do alto de uma escada. “Eu, como deputado federal, tenho trabalhado muito pelo nosso país. Sei da responsabilidade nesse momento da eleição. [Estou] há 28 anos no Congresso Nacional. Passei por vários presidentes da República”, diz.
Procurado pela reportagem, o deputado federal afirmou que cerca de 2.000 pessoas participaram do ato, que ele tem feito isso em todos os frigoríficos de Minas Gerais e que também vai pedir votos para Bolsonaro em empresas de ônibus.

“Tinha 2.000 pessoas lá. O dono do frigorífico colocou 2.000 camisas e convocou todo mundo. Foi uma beleza o movimento. São 81 frigoríficos no Sudeste, estão todos apoiando o Bolsonaro. Pedindo voto. Nós estamos em plena eleição”, afirmou.

O deputado negou, no entanto, que ele ou o dono do frigorífico tenham prometido um pernil para os funcionários caso Bolsonaro ganhe as eleições. Durante a conversa, Lopes mudou sua versão sobre a entrega de camisetas e disse, por fim, que foi ele quem fez a doação.
“Promessa de pernil? Negativo. Eu estava lá. Não houve nada disso, não. Que bobagem é essa? A única coisa que aconteceu foi pedir voto para o Bolsonaro. Mais nada. Eles me receberam muito bem. Eu que doei as camisas”, disse.
“O Ministério Público do Trabalho não tem nada a ver com isso. Eu entro em qualquer local. Peço voto no meio da rua, peço voto no frigorífico, com o catador de lixo. Peço voto para todo mundo. Eu entro em qualquer local e peço voto”, afirmou o deputado.
O dono do frigorífico é o produtor rural e empresário Silvio Silveira, presidente da Afrig (Associação de Frigoríficos de Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal).
A reportagem não conseguiu contato com o responsável pelo frigorífico. A Afrig afirmou que não tinha autorização para passar o telefone de Silvio Silveira e sugeriu que ele fosse procurado em suas empresas.
A Folha ligou para as empresas duas vezes, mas funcionários afirmaram que apenas a gerente do local tem autorização para falar e que ela não foi ao trabalho nesta sexta-feira (21).
O advogado Fernando Neisser, membro da Abradep (Academia Brasileira de direito Eleitoral e Político), vê indícios de ao menos duas ilegalidades no caso: propaganda eleitoral e coação. A legislação proíbe propaganda eleitoral nos chamados bens de uso comum, que incluem estabelecimentos privados.
“Uma segunda ilegalidade é o crime de coação eleitoral, que é você usar do dinheiro que você tem para fazer alguém votar ou não votar em determinada pessoa. E não há dúvidas de que a relação de emprego gera essa posição de autoridade apta a configurar crime de coação eleitoral”, afirma.
“Chefe publicamente constrangendo funcionário a manifestar apoio a um candidato não se compara a situação de um cidadão comum discutindo com outro na rua e fazendo campanha. Ainda que você não tenha ameaça explícita, essa ameaça implícita é reconhecida.”
Documento do MPT (Ministério Público Trabalho) elaborado diante do aumento de casos de assédio eleitoral afirma que os empregadores não devem “realizar manifestações políticas no ambiente de trabalho e fazer referência a candidatos em instrumentos de trabalho, uniformes ou quaisquer outras vestimentas”.

A diferença entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro em Betim foi de apenas 807 votos no primeiro turno. O petista recebeu 106.684 votos, 45,78% do total. Já Bolsonaro teve 105.877 votos, 45,43%.
Estado com o segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais se tornou o principal alvo dos dois candidatos. Os números do MPT mostram que o local lidera o número denúncias de assédio eleitoral, com praticamente 1 em cada 4 casos registrados.
O segundo estado com mais casos, Paraná, tem menos da metade: 123. 104 empresas estão envolvidas, de acordo com o MPT. Santa Catarina aparece em terceiro lugar com 113 denúncias em 95 empresas.
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