General Villas Bôas ataca democracia ao defender atos golpistas contra Lula – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ricardo Kotscho, 72, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano
Colunista do UOL
17/11/2022 01h42
O nome do presidente eleito Lula não é citado no documento divulgado nas redes sociais pelo general Villas Bôas na terça-feira, 15, dia da Proclamação da República, mas é este o sujeito oculto presente na mensagem golpista de uma página, em que o ex-comandante do Exército ameaça o Estado Democrático de Direito, ao colocar em dúvida o resultado das eleições e apoiar os arruaceiros que há duas semanas infernizam a vida dos brasileiros, com bloqueio de rodovias e manifestações cívico-religiosas diante dos principais comandos militares do país.
Villas Bôas é aquele mesmo general que, na campanha de 2018, na véspera da votação do pedido de habeas corpus de Lula para evitar a prisão dele pela Lava Jato, publicou um tuíte para enquadrar o Supremo Tribunal Federal e impedir que o ex-presidente pudesse disputar a eleição daquele ano, deixando o caminho livre para Jair Bolsonaro. Deu até no Jornal Nacional. Estranhamente, desta vez, a grave manifestação do general teve pouquíssima repercussão na imprensa.

Agora, ele se alia aos patriotas aloprados que desde o dia 30 de outubro pedem intervenção militar para anular a eleição deste ano e evitar a posse de Lula para um terceiro mandato.
Em sua nota, o general reformado estranha que “o inusitado diante dos movimentos foi produzido pela indiferença da grande imprensa. Talvez nossos jornalistas acreditem que ignorando a movimentação de milhões de pessoas, elas desparecerão”. Ao contrário do que aconteceu em 1964 e 1986, quando a quase unanimidade da mídia e do empresariado apoiou os golpes, desta vez setores influentes da imprensa e da elite econômica estão do lado da democracia e do Estado de Direito.
Primeiro, é preciso reparar que não são milhões de pessoas, mas apenas alguns poucos milhares, inconformados com a vitória de Lula, que ainda estão enrolados em bandeiras nas ruas, debaixo de chuva, ajoelhando-se e rezando em frente aos quarteis, para pedir socorro às Forças Armadas contra o que chamam genericamente de “comunismo”, sempre o mesmo pretexto para todos os golpes.
O discurso de Villas Bôas ao apoiar os atos antidemocráticos segue a mesma linha de Bolsonaro, invertendo o sentido das palavras, a indicar que os dois continuam afinados.
“Com incrível persistência, mas com ânimo absolutamente pacífico, pessoas de todas as idades, identificadas com o verde e o amarelo que, orgulhosamente, ostentam, protestam contra os atentados à democracia, à independência dos poderes, ameaças à liberdade e as dúvidas sobre o processo eleitoral.”
Só quem ainda tem dúvidas sobre o processo eleitoral são eles dois e os generais de pijama a eles alinhados que não querem largar o poder, apesar do veredicto dado pelas urnas. Sobre os atos de vandalismo praticados pelos patriotas devotos do bolsonarismo, que desafiaram as instituições democráticas e atacaram os tribunais superiores, nenhuma palavra.
No mesmo dia da eleição, o empresário catarinense Emílio Dalçoquio Neto, do setor de transportes, interlocutor frequente de Bolsonaro, apareceu num vídeo incitando atos golpistas. Aos gritos, dizia “não aceitar o comunismo no Brasil” e clamou por uma escalada dos bloqueios das rodovias, que num primeiro momento foram ignorados pela Polícia Rodoviária Federal, outro braço dos sediciosos.
“Por enquanto, pacificamente. Por enquanto…”, ameaçou Dalçoquio nas reticências, agora já devidamente identificado pela PRF, depois do ultimato dado pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, para que as estradas fossem liberadas e os responsáveis investigados.
Ontem, enquanto o general divulgava sua nota para manter mobilizadas as tropas golpistas, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, mandou afastar por 90 dias o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, e pediu a condenação dele pela prática dolosa de improbidade administrativa, por violar os princípios da administração pública.
Como parte do golpe até agora fracassado, Silvinei foi quem deu ordem à PRF para fazer barreiras de inspeção nas estradas, principalmente no Nordeste, bem no dia da eleição, para impedir o acesso às urnas de quem pudesse ser identificado como eleitor da oposição. No dia seguinte, omitiu-se, ao permitir que caminhoneiros bloqueassem rodovias em protesto contra o resultado da eleição.
A operação casada de Bolsonaro com o Ministério da Defesa e o general Villas Bôas só não teve êxito até agora graças à atuação corajosa e eficiente do ministro Alexandre de Moraes, desarmando todas as armadilhas, uma a uma, menos a dos acampamentos em volta dos quarteis, equipados com banheiros químicos, churrasqueiras, geradores e luxuosas barracas, tudo fornecido por apoiadores do presidente.
Enquanto isso, Bolsonaro continua recluso no Palácio da Alvorada, mantendo obsequioso silêncio, esperando não se sabe o quê — talvez Villas Bôas saiba — para reconhecer, finalmente, o resultado das urnas e cumprimentar o vencedor.
Enganou-se quem, como eu, pensou que esse pesadelo de quatro anos já tivesse terminado.
Ainda faltam 46 dias.
Vida que segue.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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Ricardo Kotscho
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