Governo de Lula coloca em campo estratégia para construção da base aliada – Jornal Opção

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11/12/2022
11 dezembro 2022 às 00h00
Acreditamos que presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já tenha compreendido claramente que o seu governo, que iniciará em 2023, não terá semelhanças com suas gestões anteriores. Os problemas diferem, são mais amplos e o momento é ainda mais desafiador. Sua equipe de transição já conseguiu resumir esse cenário em seus relatórios preliminares, portanto, o presidente não poderá dizer que não foi avisado. 
Conciliar as demandas atuais do País com suas promessas de campanha por si só são ações que vão exigir mais traquejo político que Lula já demonstrou em toda sua carreira política. A principal barreira talvez seja a econômica. Equacionar o orçamento com o que o País precisa e as prioridades que o governo do PT quer dar logo no começo de 2023 é o que mais atraí as atenções da opinião pública. São horas de debates e entrevistas com especialistas que indicam os cálculos para que as ações de políticas públicas nos setores social, saúde e economia sejam colocadas em prática.
Essa atenção que a opinião pública tem destacado para questão orçamentária é válida. É necessária uma pressão para que haja responsabilidade fiscal e social. Mas não se pode jogar para margem o peso que o Congresso tem sobre as decisões e os rumos que o novo governo quer dar para a gestão. Lula sabe disso e precisará colocar sua experiência política em campo para formatação de uma base de sustentação que lhe garanta vitórias em projetos e evitem desgastes políticos/administrativos já no início do mandato. 
Lula se apegou, durante a campanha, a chamada frente ampla. Nem todos do PT foram favoráveis a tal postura, mas ele como líder maior conseguiu no primeiro e no segundo turno das eleições caminhar com lideranças que vão deste os partidos de esquerda e centro-esquerda. Mas após a eleição, o petista também colocou em campo sua articulação, buscando abranger partidos de centro e de direita.
A percepção de Lula é que dá para atrair todos os que se colocaram contra a extrema-direita bolsonarista, mesmo os que não estiveram com Lula nos dois turnos. A base que começou com PT, PV, PCdoB, Psol, Rede, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros, atraiu até agora o PDT, Cidadania, PSD e partes do MDB, PSDB e União Brasil. Eles entraram na equipe de transição e poderão ganhar espaço na distribuição de ministérios.
Onde mora o maior desafio de Lula? Bem, esses partidos não foram atraídos para seu lado por meio de ideias ou programas. O que une, até aqui, essa base partidária é o sentimento de que Jair Bolsonaro e suas políticas deveriam ser retirados do poder. Em 2023, após a posse, sobrará pouco em comum entre os partidos, nos trazendo a percepção de que a futura base aliada do governo de Lula não terá uma linguagem em comum, mas sim opiniões e posições que devem caminhar para rumos diferentes.
Lula tem a expertise para adiantar essas articulações, costurar uma significativa base no Congresso antes que esse sentimento que une partidos fora do espectro da esquerda caia por terra. O presidente eleito,  já de olho na construção de sua governabilidade, movimenta-se para cumprir sua promessa de pacificar o país e governar para todos os brasileiros.
A construção de uma base sólida será decisiva para que o novo governo aprove reformas estruturais e se contraponha ao bolsonarismo, que deve ganhar força na próxima legislatura. Sozinho, o PT na Câmara dos Deputados tem 68 cadeiras. O PL fez a maior bancada federal, com 99 congressistas para a próxima legislatura.
No Senado, a barreira antilulista é composta por ex-integrantes de peso, como o atual vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS), o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro (União Brasil-Paraná) e a ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF).
A disputa pelo comando das Casas Legislativas é prioridade para aliados do novo governo. Neste caminho, Lula já enviou sinais a Câmara dos Deputados. O apoio do PT à candidatura de Arthur Lira é a leitura de que a presidência da Câmara não deve ser escolhida pelo chefe do Executivo. O diálogo com Arthur Lira para a PEC da transição também vai nesta direção. Uma concessão, visto que Lira foi aliado e cúmplice dos abusos de Bolsonaro.
Lula também já colocou em prática o primeiro grande teste de sua base, mesmo antes de assumir. Me refiro a PEC da Transição, que altera o teto de gastos para viabilizar os projetos sociais e promessas de campanha do petista. Se olharmos pelo lado político, a matéria é uma peça fundamental da estratégia de construção da base parlamentar do governo e do relacionamento com as lideranças do Congresso. 
A PEC, além de medir a receptividade de seu governo, também tem aspectos previsto na própria matéria que demonstra a capacidade de negociação de Lula. Ao tentar autorização para gastar R$ 198 bilhões, o petista e seu grupo criou uma “gordura”, ou seja, uma folga nessa previsão orçamentária para que se tenha espaços para negociar com o Congresso em 2023.
Lula anda tem guardado só para si uma das mais importantes costuras para formação da base: a formação ministerial. Os indicativos são de que será no formato amplo, dando espaço aos partidos que fazem parte da coalizão. O que tem se apresentado é que o governo petista tenha de 34 a 35 membros no alto escalão. Nos bastidores dizem que a tendência é que os partidos aliados sejam acomodados entre 15 e 20 pastas. Essa composição, porém, ainda depende de novas negociações, que Lula sabe que precisa fazer  para ter maioria no Congresso e menos barreira para as políticas consideradas cruciais para o seu governo.
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