Guerra na Ucrânia: governo de Zelensky lança campanha contra corrupção – BBC News Brasil
Crédito, Getty Images
Kyrylo Tymoshenko, vice-chefe do gabinete do presidente Volodymyr Zelensky, renunciou após relatos de que ele se mudou com sua família para uma mansão
O governo da Ucrânia, comandado pelo presidente Volodymyr Zelensky, vem tentando restaurar a confiança da população na máquina pública com uma campanha anticorrupção após uma série de revelações de escândalos envolvendo autoridades.
Mas as acusações são graves e o momento é ruim.
Até o momento, 11 funcionários renunciaram ou foram demitidos no processo de combate à corrupção.
Só na última terça-feira (25/1), um conselheiro sênior, quatro vice-ministros e cinco governadores deixaram seus postos.
A movimentação gerou preocupação e fez com que políticos dos EUA pedissem que a ajuda humanitária enviada pelo governo americano à Ucrânia por conta da guerra fosse restrita, temendo desvios.
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As acusações emergiram após a publicação de reportagem do jornalista investigativo Mykhaylo Tkach, do site de notícias Ukrayinska Pravda.
Entre as revelações, está o caso de uma autoridade do governo que teria recebido milhões por meio da empresa de seu personal trainer desde que a invasão pela Rússia começou.
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Outra alegação implica o vice-chefe de gabinete do presidente Zelensky, Kyrylo Tymoshenko. Segundo Tkach, ele teria se mudado com sua família para a mansão de um famoso empreendedor imobiliário.
O jornalista também publicou imagens que pareciam mostrar o oficial dirigindo um caríssimo Porsche por alguns meses.
Tymoshenko pediu demissão dois meses depois que as informações foram publicadas, mas nega qualquer irregularidade.
O vice-ministro da Defesa, Vyacheslav Shapovalov, também renunciou, após denúncias de que ele supervisionou a compra de suprimentos militares de alimentos a preços superfaturados de uma empresa relativamente desconhecida. O departamento classificou de "erro técnico" e afirmou que não houve desvio de verba.
O próprio ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, está sob os holofotes pela mesma razão.
A lista de demitidos inclui, ainda, Oleskiy Symonenko, vice-procurador-geral; Ivan Lukeryu, vice-ministro do Desenvolvimento das Comunidades e Territórios; Vyacheslav Negoda, vice-ministro do Desenvolvimento das Comunidades e Territórios; Vitaliy Muzychenk, vice-ministro de Política Social; e os governadores regionais de Dnipropetrovsk, Zaporizhzhia, Kiev, Sumy e Kherson.
Mykhaylo Tkach é um jornalista investigativo que já cobriu algumas das alegações de corrupção
A Ucrânia tem um histórico de corrupção e, em 2021, a Transparência Internacional classificou o país como o 122º de 180 nações em seu ranking de Estados corruptos.
O combate à corrupção é uma das principais demandas da União Europeia (UE) — e o país deve atender se quiser avançar com seu pedido de adesão ao bloco.
"Muitas vezes, com deputados e outros funcionários do governo, se a origem do seu dinheiro não é clara, eles registram seus ativos em nome de pessoas próximas a eles", explica Tkach.
"São sinais de falta de transparência, num momento em que cada passo de um funcionário deveria ser conhecido pela sociedade".
O repórter reconhece que a corrupção está presente em muitos países. Justamente por isso acredita que os trabalhos de combate são tão importantes.
Dona de uma padaria em Vorzel, perto de Kiev, Ivanna está indignada com as acusações de que o governo teria pagado preços inflacionados a uma empresa desconhecida, de que um vice-ministro teria supostamente aceitado um suborno no valor de US$ 372.000 (cerca de 1,8 milhão de reais) ou de uma autoridade cultive um interesse caro demais por carros de luxo.
"Não gosto disso", diz ela, enquanto seu marido, Vyacheslav, mexe a massa na sala dos fundos. "Seria melhor que esse dinheiro fosse para algo bom para a Ucrânia."
Ela faz uma pausa: "Precisamos substituir todos aqueles políticos que estão lá há muitos anos. Eles se acostumaram; isso os alimenta".
Para a Ucrânia, receber bilhões de dólares em ajuda militar, humanitária e financeira traz responsabilidade e escrutínio. Também aumenta a probabilidade de o dinheiro acabar nas mãos erradas.
"Estamos falando da existência da Ucrânia", diz Tkach. "Não é apenas um ano comum para o nosso país. Então, acho que essa onda de renúncias, iniciada pelo presidente, é um reconhecimento importante e uma ação necessária."
Ivana quer substituir políticos que estão no poder há anos
Desde que a Ucrânia declarou a independência há 31 anos, a corrupção tem atormentado seus serviços públicos e, acima de tudo, sua política.
Em 2014, uma revolução popular derrubou o último governo de Moscou porque as pessoas queriam finalmente viver sob uma democracia.
Desde então, a Ucrânia tentou uma série de reformas, principalmente impulsionadas pela subsequente campanha de agressão da Rússia contra o país. A mudança era vista como essencial para garantir o apoio contínuo do Ocidente.
Novas agências anticorrupção foram criadas, junto com novos sistemas de gastos do governo. Uma nova força policial e os políticos foram forçados a revelar sua riqueza – muitas vezes com confissões escandalosas.
"Queríamos resultados", diz Yaroslav Yurchyshyn. Ele é deputado e vice-chefe da Comissão Parlamentar Anticorrupção.
"Sim, temos algumas sobras da corrupção do passado, mas pelo menos agora não nos calamos sobre isso. A próxima parada será a prevenção."
Yurchyshyn acredita que não há melhor momento para expor irregularidades ministeriais, mesmo com a ajuda ocidental sendo colocada em risco.
"Os parceiros ocidentais entendem que temos duas guerras", diz ele. "A primeira é contra a Rússia, depois há nossa guerra interna pelo futuro da Ucrânia."
Antes da invasão russa em fevereiro de 2022, aliados ocidentais como a União Europeia e os EUA não estavam satisfeitos com o ritmo dos esforços de Kiev para combater a corrupção.
Embora não esteja claro qual será o dano político das alegações de 2023 para o presidente Zelensky, sua resposta a elas desta vez foi descrita como "rápida e decisiva" pelos EUA.
Novas revelações são esperadas e, com isso, ele espera que outros países compartilhem da opinião americana.
Reportagem adicional de Hanna Chornous e Siobhan Leahy
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