Jamil Chade – Ex-chanceler de Bolsonaro: 'Não existe crise climática' – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Jamil Chade é correspondente na Europa há duas décadas e tem seu escritório na sede da ONU em Genebra. Com passagens por mais de 70 países, o jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparência Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Vivendo na Suíça desde o ano 2000, Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti. Entre os prêmios recebidos, o jornalista foi eleito duas vezes como o melhor correspondente brasileiro no exterior pela entidade Comunique-se.
Colunista do UOL
24/01/2023 10h00
Terminado o governo de Jair Bolsonaro, as revelações despontam a cada dia sobre como os cartões de créditos foram usados, quem entrou no Palácio do Planalto, quanto indígenas morreram e como funcionava a máquina do governo. Mas, nesta semana, também descobrimos que a suspeita de que negacionistas tinham tomado o poder está confirmada.
Num artigo publicado na segunda-feira, o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, abandona a diplomacia —e a ciência— para afirmar:

Não existe crise climática, mas uma oscilação de temperaturas que já ocorreu muitas vezes no passado e independe das emissões de CO2, como indica o fato de que a temperatura média da terra no período 2015-2022 teve tendência de queda de 0,11 graus centígrados por década, a despeito do aumento contínuo das emissões de dióxido de carbono.
O texto é um ataque contra o “globalismo”, contra a China, o Fórum Econômico Mundial em Davos, os governos de esquerda da América Latina e, em especial, contra o presidente da Colômbia, Gustavo Petro.
Araújo foi o responsável por transformar o Brasil em um pária internacional, romper com aliados e promover uma subordinação do país aos interesses de Donald Trump.
Agora, em apenas poucos parágrafos, ele vai na direção contrária das constatações de ambientalistas, cientistas, vencedores do Prêmio Nobel e até do Vaticano, que aceita a realidade das mudanças climáticas e de sua crise.
Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial revelou que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados.
No final do ano passado, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, declarou que:
“Estamos lutando por nossas vidas e estamos perdendo essa luta.”
“As emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo, as temperaturas globais continuam aumentando, e nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de ruptura que tornarão o caos climático irreversível.”
“Estamos em uma estrada para o inferno climático com nosso pé ainda no acelerador.”
Em 2021, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas afirmou:
“É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra. Ocorreram mudanças rápidas e generalizadas na atmosfera, no oceano, na criosfera e na biosfera.”
“A mudança climática induzida pelo homem já está afetando muitos extremos climáticos e meteorológicos em todas as regiões do globo”.
Num artigo naquele momento ano no Jornal da USP, Herton Escobar ainda explica que “não se trata de uma opinião, mas de uma constatação científica”. “Mais de 14 mil estudos foram analisados na elaboração do novo relatório, e as evidências não deixam dúvidas nem sobre o papel do homem nem sobre a gravidade do problema”.
Ou seja: “as mudanças climáticas são reais, causadas pelo homem, estão se intensificando numa velocidade espantosa, sem precedentes nos últimos 2 mil anos (pelo menos) e com consequências potencialmente gravíssimas para os seres humanos e o planeta, incluindo a intensificação de tempestades, secas e ondas de calor extremo”.
Mas, ainda assim, segue o ex-chanceler, hoje de licença do Itamaraty e vivendo nos EUA:
“Os países capitalistas implementaram desde os anos 70 inúmeras políticas que melhoraram a qualidade do meio ambiente, enquanto os países socialistas o degradavam (e destroem até hoje, como no caso da Venezuela bolivariana, que está destruindo o ecossistema do Orinoco com a extração selvagem de ouro destinada a sustentar a ditadura de Caracas apoiada por Petro)”, disse.
Em outro trecho, o ex-chanceler negacionista vai além;
“A ‘crise climática’, principalmente, tornou-se um grande mecanismo de lavagem ideológica das ditaduras”, disse.
“Por meio da adesão à histeria climática, sistemas ditatoriais e propostas autoritárias de toda ordem, desde Maduro e Petro até a China comunista, adquirem respeitabilidade internacional e ganham sua inclusão no sistema que controla os destinos do mundo”, afirmou.
Segundo a teoria desenvolvida por Ernesto, há uma aliança:
“O sistema Davos, o globalismo, quer dominar o mundo, e o seu instrumento para dominar a América Latina é o Foro de São Paulo. Os ditadores e proto-ditadores do Foro de São Paulo são parte de pleno direito no consórcio globalista, juntamente com as elites ocidentais metacapitalistas e com o Partido Comunista Chinês”, diz.
“Davos sabe que, na América Latina, o Foro de São Paulo, com seu narco-socialismo corrupto pintado de verde, se encarrega competentemente de rodar aquela máquina de destruição da liberdade e geração da tirania, a máquina de esmagar o espírito humano para produzir suco de subserviência”, completa.
Foi esse o chanceler brasileiro que liderou a política externa de um dos principais atores do mundo em desenvolvimento.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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