Jamil Chade – Temendo China, Europa faz ofensiva por acordo com … – UOL Confere

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Jamil Chade é correspondente na Europa há duas décadas e tem seu escritório na sede da ONU em Genebra. Com passagens por mais de 70 países, o jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparência Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Vivendo na Suíça desde o ano 2000, Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti. Entre os prêmios recebidos, o jornalista foi eleito duas vezes como o melhor correspondente brasileiro no exterior pela entidade Comunique-se.
Colunista do UOL
27/01/2023 04h00
As maiores forças políticas da Europa fazem uma ofensiva para fechar o acordo comercial entre o bloco europeu e o Mercosul. Para isso, sabem que precisam chegar a um entendimento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e transformam Brasília em um destino obrigatório dos principais líderes do Velho Continente.
Entre uma ala dos europeus, há um temor de que, sem um acordo comercial com as maiores economias da América do Sul, a região possa ser alvo de uma ofensiva ainda maior por parte da China. Em conversas reservadas com a reportagem, deputados europeus confirmaram que a Comissão Europeia tem alertado que um fracasso por parte de Bruxelas em estabelecer uma aliança com a América do Sul deixaria a região aberta a uma influência comercial e política ainda maior por parte de Pequim.

Os gestos do governo do Uruguai de flertar com um acordo comercial com os chineses acendeu o sinal de alerta nas capitais europeias, cientes de que Pequim não fará exigências ambientais, trabalhistas ou sociais para entrar em um entendimento com os sul-americanos.
Hoje, os chineses já são os maiores parceiros comerciais do Brasil, realidade que ameaça deslocar empresas europeias de um mercado que é considerado como tradicional para as exportações da Alemanha, França ou Espanha.
Em 2022, o mapa do comércio brasileiro já era revelador dessa nova realidade política:
A China foi o destino de 27% de toda a exportação brasileira. Veja ranking:
Outro interesse europeu é o de consolidar a aliança estratégica com a América do Sul, como parte da construção de um cenário internacional mais equilibrado e que possa amenizar uma disputa de hegemonia entre EUA e China.
A ofensiva diplomática, de fato, é considerada em Bruxelas como “sem precedentes” nos últimos anos. Ela inclui:
Segundo o UOL apurou, em todas as conversas, o objetivo é buscar formas de lidar com as pendências ainda existentes no acordo e concluir o processo iniciado em 1999.
O peso de três das maiores economias da Europa também é interpretado como um sinal claro de que existe pressa por parte do Velho Continente.
Fontes no Itamaraty confirmaram que Lula usou a viagem para Buenos Aires para conversar com os demais líderes da região sobre a posição de cada um em relação a um eventual acordo com a Europa.
A ordem também foi para que o chanceler Mauro Vieira realizasse consultas com os demais ministros do Mercosul sobre a posição de cada um deles.
Em Buenos Aires, Lula ainda ouviu do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a existência de um interesse firme por parte dos europeus para concluir o processo e finalizar a tramitação do tratado.
As pendências, porém, não são pequenas:
Entre os europeus, o discurso de Lula no Uruguai surpreendeu pela clareza do presidente brasileiro sobre a disposição de colocar a UE como prioridade para fechar um acordo comercial.
Em Montevidéu, Lula tentou abafar a rebelião uruguaia de sair em busca de um entendimento sozinho com a China, anunciando sua intenção de concluir o acordo com os europeus.
Essa foi a primeira vez que tal postura foi adotada, até mesmo com maior ênfase que a do próprio chanceler Mauro Vieira.
Tanto no Itamaraty como em Bruxelas, o tom sinalizou que o processo agora ganha velocidade.
A fala deixou os europeus entusiasmados e, internamente, a ordem é a de sinalizar que a oportunidade não deve ser desperdiçada. Do lado da Comissão Europeia, o acordo é visto como mais vantajoso para Bruxelas que aos interesses do Mercosul.
Não se disfarça na capital europeia que, sob Ernesto Araújo, o Brasil fechou um acordo em 2019 com cotas modestas para os exportadores brasileiros de carnes e de açúcar.
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