Josias de Souza – Transição mostra que enfiar política nos quartéis é mais fácil que retirar – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na “Folha de S.Paulo” (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro “A História Real” (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de “Os Papéis Secretos do Exército”.
Colunista do UOL
18/11/2022 09h57
Em ritmo de conta-gotas, o governo de transição compôs 30 grupos de trabalho. Falta o 31º núcleo, que cuidará das áreas de Defesa e Inteligência. Ou seja: em meio à indicação de quase 300 nomes nenhum pingou no grupo que cuidará dos militares. Alega-se que é preciso aguardar pela volta de Lula do exterior.
Fica entendido que enfiar a política dentro dos quartéis é bem mais fácil do que retirá-la. As hesitações do governo de transição coincidem com cenas inusitadas. Trancado no Alvorada, Bolsonaro transforma derrota eleitoral em via crucis. Concede aos comandantes militares o privilégio de acompanhá-lo com suas preces e suas notas oficiais golpistas.

Alexandre de Moraes, o Xandão, bloqueia as contas bancárias de agroconspiradores, num novo esforço para quebrar a mão que alimenta o fanatismo que acampa na frente dos prédios do Exército. Em transe, os devotos de Jair, o Messias, clamam por uma intervenção qualquer dos militares para apagar o resultado das urnas. Diante de um cenário assim, a hesitação é a pior estratégia.
Costuma-se cobrar de Lula pressa na indicação do ministro da Fazenda. A escolha do civil que chefiará a pasta da Defesa é igualmente prioritária. O time da transição não deveria tratar com tanta deferência militares que não têm sido respeitosos com a democracia. Lula e seus auxiliares talvez devessem dar ouvidos ao general Hamilton Mourão.
Indagado sobre a reação dos militares à volta de Lula, o vice de Bolsonaro foi ao ponto: “Vai continuar tudo como dantes no quartel de Abrantes.” Citando uma velha frase de Delfim Netto, disse que, no dia 1º de janeiro, ‘a quitanda precisa abrir com berinjela pra vender e troco para o freguês’. É isso que vai acontecer.”
Embora Bolsonaro tente provar o contrário, democracia é mais ou menos como gravidez. Nenhuma mulher pode estar um pouquinho grávida, assim como não se pode ser um pouquinho democrático. Quando a quitanda de Lula abrir, com um civil na pasta da Defesa, a berinjela que os militares precisam oferecer é o respeito à Constituição. O troco pela disciplina é a restauração da normalidade institucional.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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