Josias de Souza – Versão tabajara do Capitólio fortalece Lula e … – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na “Folha de S.Paulo” (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro “A História Real” (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de “Os Papéis Secretos do Exército”.
Colunista do UOL
09/01/2023 19h56
A engrenagem golpista do bolsonarismo produz resultados semelhantes ao de um lança-mísseis que só atira pela culatra. A penúltima tentativa de golpe dos apoiadores do ex-presidente resultou numa versão tabajara do Capitólio. Os idealizadores da invasão das falanges bolsonaristas às sedes dos Três Poderes imaginavam que a selvageria mergulharia o país numa crise política que desaguaria em intervenção militar. Deu-se o oposto. Lula saiu fortalecido. Bolsonaro, ainda refugiado na Disney, isolou-se como nunca. As instituições respiram.
Lula abriu a segunda-feira firmando com os chefes do Legislativo e do Judiciário um pacto em defesa da democracia. No início da noite, presidiu um encontro adornado pela presença de todos os governadores. Juntou em torno da causa da normalização institucional inclusive executivos de oposição. Tarcísio de Freitas, o bolsonarista de São Paulo hesitou. Foi amaciado por um telefonema de Rosa Weber, a presidente da Suprema Corte. Deu o braço a torcer ao notar que ficaria isolado se recusasse o convite para o diálogo republicano. O clima de histeria não calha bem a quem sonha em virar uma alternativa política conservadora para 2026.

O estrago foi grande. Os criminosos deixaram um rastro de destruição. Sapatearam sobre o Estado Democrático de Direito. A reconstrução institucional se dará em duas fases. Numa, a reforma dos prédios depredados. Custará caro. Mas será mais simples. Noutra, a recuperação das avarias institucionais. Além de custosa, exigirá um trabalho mais duro. Entretanto, a intentona bolsonarista de domingo parece ter injetado ânimo nas autoridades que podem fazer a coisa andar.
Foram à garra em Brasília cerca de 1.500 devotos do mito. Além das detenções em flagrante, começaram a ser emitidas as ordens de prisão preventiva contra os financiadores da fuzarca. Alexandre de Moraes, o Xandão, atira para o alto. Aderiu ao movimento Sem Anistia. “A democracia brasileira não irá mais suportar a ignóbil política de apaziguamento”, anotou num dos despachos saneadores que redigiu na madrugada pós-invasão.
O Congresso se equipa para abrir a CPI do Golpe. Às voltas com um lote inquéritos criminais e ações eleitorais, Bolsonaro será encurralado por nova investigação parlamentar num instante em que já não dispõe da blindagem de Augusto Aras. Numa democracia, o direito de ser ouvido não inclui automaticamente o direito de ser levado a sério. Bolsonaro conquistou e consolidou, por assim dizer, o direito de ser levado às barras dos tribunais. O golpe saiu pela culatra.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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