Kart, Sauber, Fórmula 1: Roberto Faria conta trajetória e até onde quer chegar – Grande Prêmio

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Que a Fórmula 1 sente falta de um piloto brasileiro em seu grid, todo mundo sabe. E há muitos jovens percorrendo o caminho, degrau por degrau, para chegar a maior categoria do automobilismo mundial. Um deles é Roberto Faria, que foi anunciado neste ano como novo integrante da Academia de Pilotos da Sauber — marca tradicionalmente conhecida por revelar, inclusive, talentos do Brasil.
Em entrevista exclusiva ao GRANDE PREMIUM, o carioca de 18 anos contou que sua nacionalidade foi um fator importante. Mais recentemente, a escuderia suíça mostrou ao mundo, por exemplo, Felipe Massa e Felipe Nasr
“Senti que por ser brasileiro, era um fator que agradava. Eles falaram que a Fórmula 1 precisava de um brasileiro, o Beat Zehnder, diretor-esportivo da Sauber, por exemplo. Acho que me ajudou bastante, a nacionalidade me ajudou bastante”, diz ele. 
Mas para que isso acontecesse, a caminhada de Faria foi longa. Mesmo com apenas 18 anos, sua carreira começou quando tinha dez e, como a maioria, no kart.
“A primeira vez que treinei num Kart foi em Guapimirim, em 2014. Foi só para conhecer, mas acabei me apaixonando e nunca mais parei”, lembra. “Eu não tenho muita memória da minha primeira corrida, mas me lembro de ter ficado no pódio. Não tinha tantos competidores, acho que sete ou oito. Acho que foi no fim de 2014, acabei fazendo as últimas três etapas do campeonato. Meu primeiro ano completo foi em 2015, quando fui campeão carioca e também fiquei em segundo lugar na classificação pro Campeonato Brasileiro de Kart como cadete, em 2015. Na época, eram 42 karts. Era kart que não acabava mais”, comenta. 
Depois disso, Roberto conquistou mais títulos nacionais: em 2016, foi vice-campeão paulista e da Copa do Brasil na categoria Júnior Menor, além de conquistar o tricampeonato carioca em 2017. Nesse mesmo ano, ele decidiu ter suas primeiras experiências mundo afora. Aconteceu na Suécia, pelo campeonato europeu. Mesmo sendo só uma etapa para testar suas habilidades, o resultado surpreendeu…
“A decisão de ir pro exterior foi o primeiro passo natural. É muito bom todo o aprendizado que você ganha no exterior,  mesmo sendo kart. É completamente diferente de como acontece no Brasil. Foi uma experiência muito boa. Minha primeira etapa no exterior foi na Suécia, em 2017. Foi a última corrida da temporada, não disputei tudo. Era só pra aprender como era e, no fim, acabei indo pra final. Fiquei no top-20 com mais de 90 pilotos… então, foi muito bom. O campeonato europeu é, com certeza, o mais forte do mundo, então foi um bom primeiro resultado. Também me ajudou bastante no inglês e, agora, morando na Inglaterra, foi essencial”, conta. 
Hoje, ele mora na Inglaterra por dois motivos: a GB3 — antiga Fórmula 3 britânica — e os estudos. “Meu pai disse que eu deveria estudar se quisesse continuar correndo, então acabei fazendo faculdade em Loughborough, uma faculdade bem reconhecida aqui na Inglaterra. A própria Sauber me incentivou. Essa faculdade é voltada para atletas de elite. O time de natação da Inglaterra treina lá, o time olímpico de levantamento de peso também. Durante a maior parte do tempo, você como piloto está meio ocioso por não ter tantas etapas ao longo do ano. Óbvio que há vários treinos e tudo mais, e eu tenho de conciliar isso com a faculdade, mas por conta disso, meu pai e eu decidimos que eu estudaria. Estou fazendo o curso de Engenharia Automotiva”, revela.
Antes de partir para a categoria que, no passado, revelou nomes nacionalmente históricos como os de Ayrton Senna, Carlos Pace e Emerson Fittipaldi, ele fez um ano e meio de F4 britânica. O piloto do Rio de Janeiro reconhece que não foi uma estreia de tanto destaque, mas aprendeu bastante com o carro e as pistas. 
“Em 2019, foi meu primeiro ano na F4 britânica. Não foi tão bom, a equipe em si não foi tão bem. Acabei ficando na frente do meu companheiro de equipe, mas a gente foi mal no campeonato. Acabei ficando em terceiro entre os novatos. Foi um aprendizado, nosso primeiro ano. Por conta de não termos um piloto mais experiente, uma referência, ficou mais difícil de nos compararmos”, coloca. 
Por causa da pandemia da Covid-19, Faria decidiu subir para a GB3, com a Fortec. Quando questionado sobre a diferença de uma categoria para outra, ele reitera que foi um grande passo. Em 2020, fez as 13 corridas da reta final do campeonato e chegou até a um pódio na última etapa, em Silverstone
“Em 2020, mudei para GB3  e o carro é completamente diferente. Um grande passo. O carro é mais rápido, tem mais potência, mais aderência, downforce. Carrega mais velocidade nas curvas e você precisa confiar no carro para levá-lo até o limite. Por eu ter mudado no meio da temporada por causa da Covi-19, não fiz muitos treinos antes da minha primeira corrida. Acho que fiz só dois, então acho que evoluí bastante. Em Silverstone, terminei a classificação em terceiro e fiquei em segundo na corrida”. 
Em 2021, o brasileiro participou de toda a competição. E foi um ano muito positivo, para ele e sua equipe. Finalizou a temporada em quinto lugar com 360 pontos — uma vitória e nove pódios. Neste ano, terminou na quinta colocação novamente, só que migrou para Carlin, uma das referências do grid. Somou 316,5 tentos — sem vitórias e com seis pódios. 
Na conversa, Roberto comparou seus resultados e mostrou os prós e contras entre os dois times. Foi bem sincero, inclusive.
 “Meu primeiro ano completo na GB3 foi muito bom. A Fortec tinha um carro muito competitivo em pista seca, então ajudou a gente a fazer um bom campeonato. A gente estava em segundo até a última etapa, mas meu companheiro de equipe acabou batendo em mim na única etapa em que ele correu, então acabou custando meu segundo lugar no campeonato. Acho que, no segundo ano na categoria, o carro mudou demais e eu fui o último piloto a conseguir o carro novo. Isso não me prejudicou tanto por conhecer as pistas, me deu uma vantagem, na primeira etapa fui o melhor da equipe. Mas a gente precisava de mais velocidade no início do ano, mais ou menos 0s5. E por eu ter feito poucos treinos… acho que a equipe falhou em dar um carro novo pro novato, porque não sabia como melhorar o carro, mas depois a gente melhorou o ritmo. Acabei tendo alguns problemas mecânicos, então acho que prejudicou meu resultado final. Por isso tive um primeiro ano melhor que o segundo. Acho que mudaram bastante o carro, melhoraram a potência, mas o desgaste do motor era maior. Eles não queriam trocar, então foi perdendo rendimento, aí também com os problemas mecânicos… foi uma novela. Acho que 2022 não foi meu melhor ano no automobilismo em si”, explica ele. 
“Acho que a Fortec dava mais voz aos pilotos. Eu tinha companheiros de equipe rápidos, mas às vezes era só eu e mais um. Então, acho que a equipe focava mais no meu carro. Mas, em compensação, a estrutura da Carlin era melhor que a da Fortec. Eles tinham engenheiros de informações e o engenheiro do piloto. Na Fortec, era um por piloto. Isso ajudava também. Na Carlin, eu tinha dois companheiros de equipe fortes. Na Fortec, dependia da etapa. Então, me ajudou para dar referência. No geral, acho que fui mais forte na Fortec. Era uma equipe boa, só não éramos rápidos na chuva. Esse ano a Carlin demorou pra desenvolver o carro, pensei que iriam fazer diferente. Foi a primeira vez que não levaram o Mundial de Construtores nos últimos cinco anos, então foi uma surpresa”, continua. 
Ainda assim, em 2022, o dono do carro #7 teve a oportunidade de dar um outro grande passo no universo do automobilismo: ingressar na Academia de Pilotos da Sauber. A renomada companhia também tem em sua base um dos destaques da Fórmula 2, Théo Pourchaire, e Emerson Fittipaldi Jr, filho do bicampeão mundial.
Mesmo morando ainda na Inglaterra, Faria vai com certa frequência para a Suíça. E ele admite que lá pôde conhecer e experimentar a rotina de pilotos da Fórmula 1 — o que reitera que dificilmente conseguiria sem a aliança com a Sauber. 
“Estou morando na Inglaterra por causa da GB3. A base da Carlin é aqui. Mas vou de vez em quando para a Suíça. Fiz treinos físicos lá, exames médicos, tudo que precisava para melhorar minha resistência. Além disso, pude ver a fábrica, ver como tudo funciona, a rotina. Também fui chamado pra um GP, para ver como as coisas funcionam na sala de engenheiros, uma experiência que nunca tive. Estive nos briefings dos pilotos, classificação e corrida. Foi único. E, basicamente, não conseguiria isso se não fosse integrante da Sauber para aprender o que um piloto pode esperar da equipe e o que uma equipe pode esperar de um piloto. Também pude conversar bastante com o Robert Kubica, que é o piloto reserva, então foi muito bom. A Sauber também tem o preparador físico que treinou o Senna, que é o Joseph Leberer. Ele ficou comigo três dias em Zurique fazendo os treinos”, acrescenta.
Por fim, depois de muito caminhar, a pergunta que não pode faltar é feita: qual o objetivo para o futuro? 
E a resposta é aquela sonhadora e já esperada também:
“Minha meta principal é a Fórmula 1. Mas, acima da meta, seria viver no automobilismo, nem que seja no Turismo ou Endurance. Mas meu desejo seria F3, F2 e F1”, encerra.
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