Lei Bosman: como ela mudou com o futebol de clubes e seleções … – Ludopédio

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Apesar de nunca perder sua essência de ser um esporte jogado por dois times de 11 jogadores cada, o futebol vem sofrendo alterações ao longo do tempo – não só dentro de campo como fora também. Os novos hábitos da sociedade fizeram ele se tornar muito mais do que esporte. Segundo o presidente da FIFA, Gianni Infantino, cerca de US$286 bilhões são movimentados por ano. Falando de receitas anual dos clubes, são US$45 bilhões. Porém, 75% de todo esse dinheiro se concentra em um continente: a Europa .
Falar do futebol no Velho Continente hoje se resume em muito dinheiro, diversidade étnica e fluidez. Grande parte das principais estrelas do esporte jogam em solo europeu. Como os clubes arrecadam cada vez mais dinheiro, é cada vez mais difícil de ver jogadores com um sentimento de pertencimento ao clube. O futebol acaba ganhando mais um ar de produto rentável para se adaptar ao show business. Neste artigo, falaremos sobre a  Lei Bosman e como ela modificou e reinventou o que o mundo conhecia como futebol.
Jean-Marc Bosman era um meio-campista belga que jogou grande parte da sua carreira no Standart Liège, onde estreou profissionalmente em 1983. Em 1990, o jogador decidiu não aceitar o novo contrato que o clube tinha proposto porque diminuiria 75% de seu salário. Apesar de nenhum time ter manifestado nenhum interesse,  o contrato foi feito com o time USL Dunkerque, da segunda divisão francesa. Porém, os negócios não deram tão certo quanto planejado. 
[…] houve um impasse com relação ao contrato pactuado entre os dois times, mais especificamente, com relação ao certificado de desvinculação do jogador, o que culminou na suspensão deste, que ficou impedido de jogar durante a temporada (WOLTMANN, 2019).
No mesmo ano, o contrato foi rescindido e o meio-campista conseguiu se transferir para o Olympique Saint-Quentin (FRA), mas não deixou o que passou barato. Resolveu processar o clube belga por impedi-lo de exercer seu trabalho. A decisão favorável a Bosman só saiu em 1995, mas foi apenas o início da revolução que se transformou no futebol moderno.
Basicamente, a Lei Bosman deu fim ao passe e deu uma maior liberdade aos jogadores para decidir trocar de clubes e buscar contratos mais favoráveis financeiramente. Quando o contrato com um clube acaba e não é renovado, o jogador está livre no mercado para se transferir para um novo clube – e esse não paga nenhum centavo para ter a nova peça no plantel. Se o contrato ainda estiver vigente, o acordo de transferência tem que ser em comum acordo e o novo clube paga uma multa rescisória já pré-estabelecida.
No mercado de jogadores até 1996 os atletas podiam ser caracterizados como os produtos negociados pelos clubes, que eram ao mesmo tempo os demandantes e ofertantes. Notavase também um produto altamente heterogêneo, devido às características particulares de cada atleta. Cabe ressaltar ainda que a propriedade do direito de jogar em uma equipe não pertencia ao jogador, o que gerava problemas de agência. Em especial, pode-se dizer que, na relação entre os clubes demandantes e os jogadores ofertantes de mão-de-obra, existia um significativo poder de monopsônio (SOUZA,2005). 
Outro aspecto que o futebol moderno ganhou graças a Lei Bosman foi o fim do sistema de cotas para jogadores europeus. Eles ganharam o mesmo direito que qualquer outro cidadão europeu de livre circulação, sem nenhuma restrição de nacionalidade. A lei também abrange os jogadores que apesar de não terem nascido no continente, obtinham o passaporte europeu. Por esse motivo, fica muito mais fácil para jogadores se transferirem e permanecerem na Europa por grande parte da carreira.
Apesar de ter acontecido fisicamente fora das quatro linhas, a Lei Bosman foi o estopim do que conhecemos hoje como futebol moderno. Porém, além das questões extracampo como o mercado de transferências e as leis trabalhistas, é possível ver influências dela no futebol dentro de campo também – tanto em clubes como em seleções.
Com a liberdade que a Lei Bosman deu para os jogadores decidirem seus destinos, os clubes mais tradicionais foram favorecidos por ganhar ainda mais poder – principalmente financeiro – para seduzir os jogadores a deixarem seus clubes.  Atualmente, principalmente com o crescimento exponencial que o futebol europeu ganhou mundialmente, é muito mais fácil e rápido para as grandes jóias saírem de seus clubes de formação para outros maiores. Porém, esse movimento  não é de agora.  A reação foi imediata.
O ano era 1995.Enquanto a Lei Bosman entrava em vigor e revolucionou o futebol fora de campo, o Ajax  ficava com a parte das mudanças dentro das quatro linhas . Apesar de um time muito novo e com a maioria de suas estrelas formadas na base do clube, a campanha invicta na UEFA Champions League de 1994/95 e a sequência impressionante de 71 jogos sem perder colocou o futebol holandês no mapa. Treinados por Louis Van Gaal, um time que apresentou grandes  jogadores como Van der Sar, Frank e Ronald de Boer, Reiziger, Davids, Seedorf e Kluivert para o mundo foi base para a seleção holandesa semifinalista na Copa Do Mundo disputada em 1998.
Como a Lei Bosman afetou um Ajax recém campeão europeu? Com a perda de peças importantes no elenco. Edgar Davids e Patrick Kluivert, por exemplo, saíram em 1996 e 1997 respectivamente e o clube holandês não recebeu nenhum centavo pela venda por estarem em fim de contrato. O mesmo clube viveu situação bem parecida em 2018/19, quando o clube foi semifinalista da UEFA Champions League e viu seu elenco se desmanchando nem uma temporada depois com a venda de jogadores importantes como Frenkie de Jong, Matthijs De Ligt, Hakim  Ziyech e Donny Van De Beek.
Como a mudança nas legislações e na mentalidade de como conhecíamos o futebol, ações foram e são tomadas pelas federações dentro e fora da Europa até hoje.  Um exemplo que deu certo é o Elite Player Performance Plan, criado pela Federação Inglesa de Futebol em 2011. O plano envolve jogadores dos nove aos 23 anos e faz com que clubes não possam captar jogadores antes deles completarem 17 anos. Isso faz com que os atletas não fiquem concentrados em clubes de maior porte e permaneçam perto das cidades que nasceram.
Além da preocupação com as instituições, a FA faz questão que o elenco profissional também integre os jogadores da base criando a regra da utilização de pelo menos oito jogadores formados no país em um elenco de 25. O resultado no plano já é visto na geração atual da Seleção Inglesa de Futebol, como é explicado na matéria A reestruturação da seleção da Inglaterra e o futebol multicultural (RODRIGUES, 2020).
Em linhas gerais, a Inglaterra viu o que aconteceu na Premier League, pegou seu caderno e anotou tudo. Aprendeu que o intercâmbio de ideias e culturas é positivo para um futebol mais plural e melhor jogado. Na próxima Copa do Mundo, a Seleção da Inglaterra deve ser representado por atletas com ascendência imigrante: Tomori, Tammy Abraham e Ross Barkley (Nigéria), Aaron Wan-Bissaka (Congo), Callum Hudson-Odoi (Gana). Também devem estar presentes jogadores criados nas zonas industriais inglesas, onde o futebol de rua é uma verdadeira paixão, como Trent Alexander-Arnold, Marcus Rashford, Declan Rice e Harry Kane. Como resultado desta transformação, já vieram os títulos mundiais sub-17 e sub-20. O próximo objetivo é a Copa do Mundo. E essa pode ser a receita perfeita para reconquistar uma glória que não vem desde 1966.
Apesar de seus termos jurídicos terem afetado muito mais os clubes , a Lei Bosman também teve ubma grande interferência  no futebol de seleções. Isso se deu ao fato do fim do sistema de cotas para europeus e da livre circulação de jogadores pelo continente. Com isso, a diversidade de etnias e nacionalidades foi ganhando palco nos grandes clubes.
Um dos maiores exemplos atuais de como a competitividade do futebol europeu cresceu é a Itália, que não se classificou para a segunda Copa do Mundo seguida. Em 2018, ainda caiu no mesmo grupo da Espanha nas Eliminatórias e terminou com a segunda posição . Porém, quando foram enfrentar a Suécia na repescagem, perderam o primeiro jogo e ficaram de fora do Mundial . Em 2022, a história se repetiu. Após ficar em segundo em um grupo com Suíça, Irlanda do Norte, Bulgária e Lituânia, os italianos perderam na repescagem para a Macedônia do Norte.
Além da queda da invencibilidade das gigantes europeias, é possível observar a ascensão de seleções com menos holofotes no cenário mundial. Um dos maiores exemplos é a seleção portuguesa que, apesar de não ter nenhum título expressivo até 2016 – com a conquista heróica da Eurocopa, atualmente é vista como potência europeia e é sempre dada como uma das favoritas aos títulos que concorre. E, apesar disso passar muito pelos pés de Cristiano Ronaldo, ele não é o único jogando em alto nível nos principais campeonatos europeus. Na Copa do Mundo do Catar, os lusitanos apareceram em 4º lugar com a equipe mais valiosa, atingindo os 937 milhões de euros com seus 26 convocados. Além do alto valor por seus jogadores, 19 dos jogadores convocados (73,1 %) jogam em times fora de Portugal.  É uma das provas que o legado de Cristiano Ronaldo deu certo, mas nada seria possível sem a Lei Bosman.es e seleções de menor porte econômico foram ganhando espaço e competitividade.
Para se adequar a realidade que a sociedade vive, o futebol também deve suas alterações dentro e fora de campo. As crises econômicas e sociais talvez não deixariam o futebol sobreviver, mas a Lei Bosman foi o estopim para as mudanças que tinham que ser feitas. Se Marrocos conseguiu chegar a uma semifinal de Copa do Mundo eliminando Espanha e Portugal no mata-mata, isso se deve muito ao processo de imigração e as mudanças nas leis que permitem naturalizações. Mas nada disso seria possível sem o início de tudo. Graças a Jean-Marc Bosman.
EBC, Portal. Itália está de fora da Copa do Mundo pela terceira vez na história. 2017. Disponível em: https://radios.ebc.com.br/copa-do-mundo-2018/2017/11/italia-esta-de-fora-da-copa-do-mundo-pela-terceira-vez-na-historia
ECONÔMICO, Valor. PIB do futebol: quanto dinheiro o esporte movimenta por ano?. 2022. Publicada por: Inteligência Financeira. Disponível em: https://inteligenciafinanceira.com.br/saiba/economia/pib-do-futebol-quanto-dinheiro-o-esporte-movimenta-por-ano/
PLACAR. Times históricos: O Ajax de 1995. 2016. Disponível em: https://placar.abril.com.br/placar/times-historicos-o-ajax-de-1995/
RODRIGUES, Mairon. A reestruturação da seleção da Inglaterra e o futebol multicultural. 2020. Publicado por: Footure. Disponível em: https://footure.com.br/selecao-da-inglaterra-reestruturacao-multicultural/
SCHWARTSMAN, Maria Fernanda. Por que a Itália não está na Copa do Mundo 2022?. 2022. Publicada por: Goal. Disponível em: https://www.goal.com/br/notícias/por-que-a-italia-nao-esta-na-copa-do-mundo-2022/bltf509abd14df24775
SOUZA, Fábio Augusto Pera de; ANGELO, Claudio Felisoni de. O fim do passe e seu impacto sobre o desequilíbrio competitivo entre as equipes de futebol. Revista de Administração – RAUSP, vol. 40, núm. 3, julio-septiembre, 2005, pp. 280-288. Universidade de São Paulo. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=223417392006
TRANSFERMARKT. Copa do Mundo de 2022. 2022. Disponível em: https://www.transfermarkt.com.br/copa-do-mundo-de-2022/teilnehmer/pokalwettbewerb/WM22
WOLTMANN, Angelita; GARCIA, Bruno Sagrilo; DAMIAN, Felipe Bochi; DOTTO, Fillipe Augusto Rosarolla; CRESTANI, Pillar Cornelli; FERRARI, Vanessa Tatsch; LORENZONI, André Lourenço. A extinção do “passe” no futebol brasileiro como consequência do “Caso Bosman”. Derecho y Cambio Social. Lima, n. 58, p. 569-592, 2019.
Substantivo Masculino
01. Futebol
02. Jogo que se joga com os pés
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