Libertadores 2022: o que tem por trás da conquista do Flamengo – InfoMoney

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Temos um novo campeão da Copa Libertadores da América. O Flamengo venceu o Athletico no duelo entre brasileiros rubro-negros em Guaiaquil, no Equador, chegando ao tricampeonato, em sua terceira final em quatro anos.
No artigo desta semana, quero resgatar algumas coisas que estão por trás dessa final, mais que da conquista do Flamengo. Porque há aspectos bem interessantes e que nos ajudam a entender a dinâmica do futebol atual e quais caminhos que estamos trilhando. Para tanto, vou separar as análises em tópicos.
É chover no molhado ressaltar a força do Flamengo atual. Desde 2019, ele se tornou efetivamente o clube a ser batido, ao lado do Palmeiras.
Mesmo com altos e baixos, escolhas equivocadas aqui e ali, falta de critério esportivo em alguns momentos (não vou “passar pano”: em vários momentos, o rubro-negro carioca teve mais sorte do que juízo e acabou se salvando pela força financeira, mais que pela força de gestão esportiva), o Flamengo encerra 2022 com o título da Copa do Brasil e da Libertadores, além de estar bem posicionado no Brasileiro.
O rubro-negro tem praticamente duas equipes, mescla veteranos caros com jovens talentos e, não se iluda, seguirá sendo candidato aos títulos em 2023, 2024, 2025… Só não vencerá tudo porque falamos de futebol, porque tem um adversário que briga de perto, porque erra na gestão esportiva e porque é uma associação cuja gestão pode mudar de rumo a qualquer momento.
Para o azar dos adversários, não é isso que se desenha para os próximos anos. Então, resta à maioria dos clubes se coçarem e buscarem evoluir para acompanhar o rubro-negro carioca, assim como seu rival direto, o alviverde paulista.
Mas isso é parte da evolução do futebol. Nenhuma liga tem 12 candidatos aos títulos, uma ilusão criada por anos de campeonatos estaduais, campeonatos brasileiros quase secundários e porque a competitividade era efeito das gestões equivocadas da maioria dos clubes, incapazes de serem sólidas e sustentáveis.
Sinto informar, mas não teremos 12 candidatos, nem que tenhamos 20 SAFs. Teremos boas equipes, qualidade de gestão, competitividade nas copas e competições mais bem disputadas. Mas, dada a distância que Flamengo e Palmeiras alcançaram, e com a insistência dos adversários no famoso “all in” competitivo, o futebol tende a se concentrar mesmo.
Resta saber quem terá capacidade de entender este cenário e se movimentar para acompanhar os líderes.

Athletico Paranaense

Já o rubro-negro paranaense é o exemplo de que menos pode ser mais e que gestão faz a diferença. Também é chover no molhado falar no Athletico Paranaense como bom modelo. Mas trago um exemplo do quanto ele fez ao longo dos últimos anos e quanto isso é grande.

Em 2012, o Athletico tinha receitas totais abaixo de Bahia, Coritiba e Sport. Desde então, o processo de organização e planejamento fez com que o clube se descolasse em relação a rivais de características semelhantes.
E o rubro-negro paranaense não é uma exceção. Se observarmos as principais ligas europeias, encontraremos casos bastante semelhantes, como a Atalanta, na Itália, o Sevilla, na Espanha, o Leicester, na Inglaterra, o crescimento do Lille na França e a força do modelo Red Bull na Alemanha. Gestão, eficiência e planejamento.
A final da Libertadores, mesmo com derrota, é mais um degrau que o clube, vindo de conquistas da Copa do Brasil e da Sul-Americana, subiu.
O torcedor do Furacão tem motivos para se decepcionar? A derrota é sempre dolorida, mas a trajetória indica que o clube seguirá forte e competitivo, ainda mais se preparando para uma movimentação importante que é a transformação em SAF. Ela permitirá que a instituição não apenas receba mais dinheiro para trabalhar – hoje o clube nem precisa, pois tem montantes expressivos em caixa e praticamente nenhuma dívida além das feitas na construção da Arena da Baixada – mas também garanta a transição de um modelo associativo/corporativo baseado numa liderança como Mario Celso Petraglia para um modelo efetivamente corporativo e sustentável.
Muitos torcedores fazem pouco caso da Copa Sul-Americana, chamando a competição de “Série B da América do Sul”. É a tradicional miopia e arrogância dos torcedores fazendo mal para o futebol.
A conquista da Sul-Americana em 2021 foi o caminho que o Athletico utilizou para chegar à Libertadores, e que possibilitou ao clube disputar a final em 2022.
Na temporada passada, o campeão da Europa League foi o Eintracht Frankfurt, que ganhou o direito de disputar a atual Champions League, competição na qual o clube alemão chega dependendo apenas de si para avançar às 8ªs de final na última rodada da fase de grupos.
Além do aspecto esportivo, as conquistas trouxeram a possibilidade para que Athletico e Eintracht aumentassem as receitas na atual temporada, ajudando os clubes a se tornarem mais competitivos.
Num ambiente em que a concentração de títulos importantes será cada vez maior, é fundamental que os clubes entendam suas realidades e as dinâmicas de disputa do futebol. Para muitos clubes brasileiros, a Copa do Brasil será a possibilidade de conquista, assim como disputar a Sul-Americana pode significar um título e uma vaga na Libertadores.
Menos arrogância e mais inteligência, associados a uma visão de longo prazo costumam ser mais importantes para os clubes do que posicionamentos de dirigentes amadores.
A ideia de copiar ideias de quem faz melhor é ótima. A vantagem de não ser pioneiro é justamente não ter que passar pelo processo de adaptação, que custa caro e leva a certos traumas. Quem vem depois já pega a tecnologia numa fase de maior escala. Portanto, ela é mais barata e tem menos erros.
A Conmebol resolveu que suas competições precisavam seguir o padrão europeu de decisão e espetáculo. Assim, colocou as finais em partida única. Parecia uma boa ideia, pois isso permitia que as decisões tivessem certo grau de dramaticidade e ainda atingissem mercados relevantes, como o europeu.
A verdade é que a solução se mostrou caótica. Ela parece ter sido apenas uma cópia mal-feita, no lugar de uma decisão estruturada. Existem diferenças logísticas e estruturais importantes entre Europa e América do Sul. Falta de voos, instabilidade política, segurança, tudo se soma ao fato de que a renda média do sul-americano é bem menor que a do europeu.
A final de Lima, em 2019, pareceu ter sido um sucesso, mas quem esteve por lá sabe a dificuldade que foi o processo. Na decisão da Sul-Americana entre Athletico e Red Bull Bragantino, em 2021, vimos um estádio às moscas em Montevidéu, assim como a final da Sul-Americana deste ano em Córdoba, na Argentina.
Neste sábado (29), infelizmente o estádio estava com enormes espaços vazios, os torcedores encontraram inúmeras dificuldades em chegar em Guaiaquil e a frustração tomou conta de muitos.
As competições sul-americanas evoluíram muito nos últimos anos, graças a uma visão mais comercial da Conmebol. Mas a solução de final única não está funcionando, ainda mais em uma região complicada, e precisando agradar politicamente eleitores como a federação equatoriana, boliviana, peruana, venezuelana…
Respeitosamente, aceitar o erro é melhor que insistir nele. Vocês conhecem bem o ditado.
Sim, o futebol está mudando, e é preciso estar atento a isso. A final da Libertadores deste ano nos trouxe uma série de insights importantes e que precisam estar não apenas na cabeça dos dirigentes dos clubes brasileiros, mas também na dos torcedores.
É possível fazer melhor e há tempo de recuperar o terreno perdido. Mas é preciso pensar de forma rápida e madura.
O futuro é logo ali. Resta saber quem quer alcançá-lo e quem quer ficar agarrado às glórias do passado.
Cesar Grafietti Economista, especialista em Banking e Gestão & Finanças do Esporte. 27 anos de mercado financeiro analisando o dia-a-dia da economia real. Twitter: @cesargrafietti
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