Lula chama de golpe o impeachment de Dilma avalizado pelo STF – Metrópoles
Blog com notícias, comentários, charges e enquetes sobre o que acontece na política brasileira. Por Ricardo Noblat e equipe
26/01/2023 6:00, atualizado 26/01/2023 11:36
Em sua primeira viagem internacional depois da posse festiva de 1º de janeiro e dos ataques de bolsonaristas ensandecidos do dia 8º aos prédios dos três Poderes da República, Lula chamou duas vezes o ex-presidente Michel Temer de “golpista” – a primeira na Argentina, a segunda, ontem, no Uruguai.
Se a intenção de Lula com isso é convocar Temer à beira do palco da política, faz sentido; o ex-presidente agradece e se apresenta. Mas se não for, não teria porque devolver-lhe a notoriedade perdida. A intenção talvez seja agradar a ex-presidente Dilma e a esquerda do PT, que reclama de sua moderação excessiva.
Política é assim, e Lula, o único brasileiro eleito pelo voto popular a governar o país pela terceira vez, deve saber muito o que faz. É pretensão tentar ensinar-lhe algo que não tenha aprendido em mais de 40 anos de militância política. As nove eleições presidenciais do Brasil pós-ditadura militar se fizeram à sua sombra.
A história é escrita pelos vencedores. Embora colecione derrotas, Lula ganhou mais do que perdeu até aqui. É possível que queira reescrever a história da derrubada de Dilma. Para isso, não deveria dispensar a colaboração do seu amigo Ricardo Lewandowski, ministro do Supremo Tribunal Federal por indicação dele.
Foi Lewandowski, como presidente do tribunal, quem conduziu o processo de impeachment de Dilma, e disse que estava ok. Segundo ele, o rito de destituição da presidente seguiu todas as regras da Constituição. Verdade que uma vez cassado, um presidente perde também os direitos políticos, e Dilma não perdeu.
Mas esse, digamos, é um detalhe que o ministro e seus pares preferiram ignorar. Dilma, nas eleições seguintes, candidatou-se a uma vaga no Senado por Minas Gerais, e perdeu. Nunca mais se candidatou a nada. Para eventualmente não perder votos, Lula evitou durante a campanha falar em golpe contra Dilma.
Agora, para ele, o tema deixou de ser um tabu. Compreensível. Dilma foi acusada de desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal ao empurrar com a barriga dívidas do Tesouro Nacional. Ela, de fato, pedalou dívidas, como seus antecessores no cargo fizeram, como a Americanas fez e seus donos dizem que não sabiam.
No regime parlamentarista, um governo cai quando lhe falta apoio político; então, o presidente convoca novas eleições e um novo primeiro-ministro é eleito. No regime presidencialista, o Congresso aprova o impeachment do presidente e o vice assume. O motivo é sempre o mesmo: falta de apoio político.
Temer conspirou para provocar a queda de Dilma? Conspirou, sim, por mais que negue. Com a ajuda indireta da própria Dilma, que a certa altura, ao promovê-lo à condição de coordenador político do governo, ofereceu-lhe o mapa da mina – a lista dos políticos detentores de cargos na administração pública.
O impeachment é sempre mais traumático do que a aprovação pelo Parlamento de um voto de desconfiança que remova o primeiro-ministro. Não é um recurso que deva ser banalizado, como o voto de desconfiança é. Chamá-lo de golpe, porém, como disse em 2016 o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é um exagero:
“Golpe é uma palavra um pouco dura, que lembra a ditadura militar. O uso da palavra golpe lembra armas e tanques na rua”.
“Hoje, o Brasil tem 33 milhões de pessoas passando fome. Significa que quase tudo que fizemos de benefício social no meu país, em 13 anos de governo, foi destruído em seis anos, ou em sete anos, nos três do golpista Michel Temer, e quatro do governo Bolsonaro”. (Lula)
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