Lula comete o erro que prometeu na campanha não cometer – VEJA

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No dia 25 de outubro do ano passado, ainda em campanha para derrotar Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições, Lula disse o seguinte: “Não vou perder tempo com quem quer que seja, quero discutir soluções. Seria muito irresponsável de minha parte. Não vou fazer política pequena para me livrar de alguém. Não vou voltar para ficar procurando sarna para me coçar. Vou voltar para atender o povo desse país”.
Os primeiros vinte dias de governo se passaram. Lula não faz outra coisa a não ser “perder tempo” olhando para o passado. Seu governo passou quase três semanas em discursos de cerimônias de posse que falavam da “destruição do país” na gestão de Bolsonaro. Os eleitores conhecem o conjunto da obra do ex-presidente e, por isso, quem está na cadeira presidencial agora é Lula.
A perda de tempo petista com o passado é quase um esporte. Em vez de alinhar o discurso do governo e mostrar o que efetivamente está sendo feito pela nova gestão, a comunicação de Lula decidiu resgatar outro dia até o debate sobre o impeachment de Dilma Rousseff.
Num clima de vingança política, a máquina petista saiu demitindo deliberadamente servidores, numa generalização já vista justamente na gestão de Bolsonaro. Quem estava no governo de Michel Temer era, na visão bolsonarista, “petista”. Agora, ministérios passam dias com agendas superficiais porque o petismo simplesmente mandou para casa quadros que seriam “bolsonaristas”, incluindo técnicos que nada tinham de… bolsonaristas. Falta gente para carregar o piano, mas sobram ministros para produzir discursos focados no passado.
As tais medidas concretas que farão diferença entre o atual governo e o passado ainda não chegaram. Em defesa de Lula, diga-se que o Congresso só volta ao trabalho em fevereiro, mas o falatório do Planalto poderia ser propositivo. É, no entanto, uma sequência da eleição passada. Lula continua falando de Bolsonaro todos os dias. Briga para baixo, com quem não tem mandato e caminhou para o esquecimento nos Estados Unidos.
Na velha e boa política do nós e eles, Lula não permite que Bolsonaro saia de cena. Precisa dele para entreter a militância. O problema é que, mesmo falando mal, o petista é hoje o principal marqueteiro do ex-presidente. Bolsonaro quase venceu a eleição por ser o grande rival de Lula. Em vinte dias, Lula não fez outra coisa a não ser reforçar essa imagem no eleitorado. Credencia Bolsonaro todos os dias, em todos os discursos.
A reunião com comandantes das Forças Armadas, nesta sexta, é um passo importante para alinhar o trabalho na máquina, mas não deveria ser tratada como algo maior. Cabe à Justiça investigar e punir os indisciplinados militares que mergulharam na aventura golpista de 8 de janeiro. Arrastar o governo para esse confronto com a caserna serve para fazer política pequena nas redes sociais — coisa que fazia o gabinete do ódio bolsonarista –, não para melhorar o país.
Gostando o petismo ou não, a cúpula militar dos quarteis não apoiou o golpe bolsonarista. Como há em todo lugar, alguns se desviaram, mas a instituição seguiu seu papel. Bolsonaro gastou tempo valioso e popularidade fabricando crises no governo. Lula vai pelo mesmo caminho, se não perceber que precisa cumprir a promessa feita naquele dia 25 de outubro, de trabalhar e olhar para o futuro: “Seria muito irresponsável de minha parte”.
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