Lula cruzou linha do ridículo ao dizer que Bolsonaro "se puder, come índio" – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Thaís Oyama é comentarista política. Foi repórter, editora e redatora-chefe da revista VEJA, com passagens pela sucursal de Brasília da TV Globo, pelos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S Paulo, entre outros veículos. É autora de “Tormenta – O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos” (Companhia das Letras, 2020) e de “A arte de entrevistar bem” (Contexto, 2008).
Colunista do UOL
10/10/2022 10h45
“Da minha parte, não haverá jogo rasteiro”, declarou o ex-presidente Lula ao responder hoje pela manhã sobre como pretende se apresentar no primeiro debate do segundo turno realizado pelo UOL, Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura no próximo domingo, dia 16.
Trata-se de uma boa notícia, já que, ontem, Lula parecia pensar diferente.

Durante uma entrevista em Belo Horizonte, o ex-presidente associou Jair Bolsonaro ao canibalismo: “Não é uma mentira. Ele pensa assim. E, se puder, come índio”.
Lula se referia ao trecho de uma entrevista dada por Bolsonaro em 2016 ao jornal The New York Times em que o então deputado federal relata uma visita que fez a uma comunidade indígena de Roraima.
Ao saber que seus integrantes se preparavam para uma cerimônia canibal, Bolsonaro disse ter ficado curioso. “Eu queria ver o índio sendo cozinhado. Daí o cara falou ‘se for, tem que comer’. Eu falei, eu como! (?) Eu comeria o índio sem problema nenhum, é a cultura deles”, disse.
O vídeo com a fala de Bolsonaro circulou furiosamente nas redes impulsionado por perfis de esquerda que se valeram da fórmula clássica das fake news.
Com base numa verdade (Bolsonaro afirmou que “comeria o índio sem problema algum” se essa fosse a condição para assistir à cerimônia, que disse considerar parte da “cultura deles”), constrói-se uma mentira (“Bolsonaro-canibal queria comer carne humana!”) que, pela força persuasiva da simplificação, acaba atingindo indistintamente cínicos e crédulos.
Até agora, o bombardeio de fake news contra o adversário era prática associada aos apoiadores de Bolsonaro. Reforça a constatação de que uma parcela da esquerda resolveu aderir a ela a velocidade com que se propagou um vídeo antigo em que o ex-capitão visita a uma loja maçônica.
Parte dos católicos e evangélicos associa a maçonaria a práticas ocultistas. Para os perfis que disseminaram o vídeo, estimular esse preconceito parece moralmente legítimo, o que curiosamente não ocorre quando os alvos são as religiões de matriz africana.
A dinâmica das fake news contraria a lógica da argumentação, mina o espírito crítico e é o oposto da honestidade intelectual. Na dispersão e cacofonia das redes sociais, porém, é impossível e inútil brigar com elas. O preço de controlar o que dizem ou escrevem milhões de cidadãos anônimos é alto demais — é dar ao Estado o direito de dizer o que é falso ou verdadeiro.
Lula, porém, não é um cidadão anônimo e bem faria se cumprisse a promessa de evitar o “debate rasteiro” e a difusão de simplificações que sabe falsas.
Quando um postulante ao cargo de presidente da República acusa o adversário de querer “comer índio”, uma importante fronteira da compostura é cruzada, para não falar na do ridículo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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