Lula esgotou seus votos no RJ e povo não aguenta mais ataques, diz Cláudio Castro – Yahoo

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), aposta, contra todas as previsões, num segundo turno da eleição presidencial mais propositivo e com menos ataques entre o presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem apoia, e o ex-presidente Lula (PT), de quem não quer falar mal.
“O povo não aguenta mais isso. O povo quer saber quem vai cuidar dele”, disse ele nesta quarta-feira (5), em entrevista à Folha de S.Paulo.
Castro escolheu três regiões pobres da região metropolitana do Rio de Janeiro para os comícios ao lado do presidente. O mote de seu apoio a Bolsonaro será a defesa do alinhamento entre o governo estadual, já escolhido, e do federal -estratégia que remonta à do ex-governador Sérgio Cabral com Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff.
“Um [Bolsonaro] é um aliado. O outro [Lula] ainda vai ter que se conhecer. Então há uma incógnita, uma dúvida sobre a relação. O outro é uma relação consolidada. […] Toda vez que a gente precisou dele, ele esteve do nosso lado.”
Castro avalia que o petista já esgotou os eleitores que poderia obter no Rio de Janeiro com a estratégia de voto útil no primeiro turno. “Acho que o Bolsonaro tem um bom campo para crescer.”
Eleito para uma cadeira na qual cinco antecessores foram presos, ele tem resposta pronta para não ter o mesmo destino. “Trabalhar direito.”
PERGUNTA – Como foi a reunião com o presidente?
CLÁUDIO CASTRO – Falei que acho que a gente tinha que ir mais no povo, que tinha que fazer eventos em locais em que tenha muita muita gente e que a população tenha essa necessidade do poder público. Propusemos três grandes eventos em São Gonçalo, um na Baixada Fluminense, e um na zona oeste.
A gente propôs que ele vá mais para rua, para o povo. O senador Flávio [Bolsonaro] já está vendo as agendas. Ficou de chamar os prefeitos e os [deputados] eleitos na nossa coligação para pedir que continuem ajudando, pedindo voto para ganhar a eleição. Não tem muita tese.
P. – Qual é o cenário para ele aqui no Rio?
CC – Ele ele já fez quase um milhão de votos a mais. Acho que ele ganha de novo e amplia. A gente fez uma pesquisa e [mostrou que] 90% das pessoas queria matar [a eleição] já no primeiro turno. O voto útil foi para um lugar que onde achou que acabaria, para o Lula.
Eu acho está se ele [Lula] já não esgotou os votos no Rio, está bem perto [de esgotar]. Acho que o Bolsonaro tem um bom campo pra crescer, até pela bancada feita.
P. – Qual o principal argumento para a população do Rio votar nele?
CC – Toda vez que a gente precisou dele, ele esteve do nosso lado. Quando eu assumi ele ajudou o estado financeiramente. Depois a gente precisava fazer uma negociação com a Petrobrás e foi a maior recuperação de ativo da história do Rio de Janeiro. Depois o auxílio emergencial, na concessão da Cedae o BNDES foi importantíssimo. Depois teve a questão do regime de recuperação fiscal. Toda a questão de infraestrutura que está vindo para o Rio: a [ferrovia] EF-118, a concessão da [rodovia Presidente] Dutra que colocou a Rio-Santos junto.
P. – No discurso da vitória, o sr. falou que ia fazer campanha para o Bolsonaro, mas que não gostaria de falar mal dos outros. É possível numa campanha polarizada como essa?
CC – Se eu fiz a minha [assim]… Não ataquei o [Marcelo] Freixo. Só expus contradições.
P. – Por que o sr. acha que não se deve falar mal do adversário?
CC – O povo não aguenta mais isso. Quando a gente olha os grupos focais que a gente trabalhou, toda vez que tinha uma peça minha agressiva era muito rechaçado. O povo quer saber quem vai cuidar dele. O povo quer ser abraçado de novo.
P. – O sr. sentiu que o presidente talvez adote essa linha também no segundo turno?
CC – Quem viu a coletiva de ontem, viu ele muito tranquilo. Até falou do Sérgio Moro bem. Até na hora que a jornalista passou um pouco do ponto ele respondeu tranquilo.
P. – Ele disse que o resultado do primeiro turno indicava um sentimento de mudança. O sr. também viu esse esse recado?
CC Não. O povo votou diferente de governador para presidente. Acho que foram eleições bem bem diferentes. No Espírito Santo, por exemplo, o Bolsonaro ganhou e o [governador] Renato Casagrande [do PSB] ficou na frente.-
Eu acho que o povo quer entender quem vai cuidar dele. Independente de quem seja. Não acho que houve onda para nenhum dos lados. Eu acho que será um confronto de quem tem mais capacidade para tocar o país. Primeiro turno foi muita gente zoneando, muita gente brigando. Agora o segundo turno é um plebiscito, é um contra o outro.
A expectativa para o segundo turno não é de um clima muito amistoso. Será dura, mas não o nível de espetáculo que foi, porque agora é um contra o outro. Eles vão ter que debater e falar proposta. Então será um segundo turno um pouco mais de proposta do que foi o primeiro.
P. – Sua aliança era bem heterogênea. O sr. acha que vai conseguir mobilizar toda essa bancada para ajudar o presidente?
CC – Eu acho que uma parte. Tem gente que estava comigo que não estava com ele, como tem gente que estava com ele e não estava comigo. Eu acho que a questão de verticalizar o governador com o presidente é algo que dá muita vantagem para o presidente Bolsonaro. Acho que há um sentimento de que o alinhamento agora é muito importante. Como eu acabei eleito com uma votação expressiva, acho que isso vai vai favorecer o Bolsonaro.
P. – Para o futuro Rio de Janeiro, há diferença entre um e outro?
CC – Sim. Um é o do partido do presidente, um aliado. O outro [Lula] ainda vai ter que se conhecer. Eu tive com o ex-presidente Lula só na posse do ministro Alexandre de Moraes. Sequer o conheço. Então há uma incógnita, uma dúvida sobre a relação. O outro é uma relação consolidada.
P. – Quais são os principais pleitos do Rio para o próximo presidente?
CC – Tem a rota 4B do gás, a concretização da [ferrovia] EF-118, do polo Gaslub, a licitação dos aeroportos. Acho que, assim como Minas Gerais tem o metrô, a linha 3 deveria ser custeada pelo governo federal. Fora questão das fronteiras, que o governo federal vai ter que chegar junto, porque segurança pública não é só o estado.
P. – Os investimentos da União estão quase dominados pelo orçamento secreto? De que forma isso atrapalha a obtenção de recursos do governo?
CC – É uma realidade imposta pelo parlamento, né? Tanto que o presidente vetou e depois o parlamento derrubou o veto dele. É um fortalecimento do parlamento. Eu, como Poder Executivo óbvio que acho ruim. Quebra muito do planejamento que um ente tem de poder fazer o investimento olhando o país para frente. Acredito que com essa bancada grande que foi feita pelo presidente, ele aumenta a capacidade de fazer as mudanças mais profundas. Acho que vai ter que ser revisto essa questão.
Nós entregaremos para todos os eleitos um caderno de investimentos do governo do estado para que eles tenham a liberdade de colocar em emendas em projetos do governo do estado.
P. -NSeu antecessor ficou marcado por ter assumido o Palácio Guanabara já pensando no Planalto. Que lições o sr. tira?
CC – Eu sou uma pessoa muito isenta de vaidade. Sou uma pessoa muito simples, mantive meus hábitos. Eu entendi a contingência pela qual eu entrei. Apesar de eu saber o meu tamanho hoje, e eu não sou o tamanho que a urna me deu, estou muito consciente do que a população do Rio de Janeiro quis com esse resultado. A população quis alguém forte para poder trabalhar com mais intensidade para ela. A população não aguenta mais políticos que só pensem no seu projeto pessoal.
Eu não fui fazer política para fora. Eu não comentei assuntos externos. Eu não entrei na campanha nacional. Falei em cuidar do Rio de Janeiro.
P – Isso explica o comportamento que o sr. pretende ter nesse segundo turno, de não atacar outro candidato?
CC – Totalmente. 60% do eleitorado mostrou que quer alguém ‘low profile’, alguém trabalhador.
P. – Bolsonaro consegue fazer um pouco esse perfil também?
CC – Acho que a eleição nacional e a estadual são bem diferentes. Acabei virando um governador muito próximo. Em junho eu visitei 70 municípios. Eu virei quase um prefeitão, um cara próximo, que atende todo mundo. As pessoas sabem que essa não é a realidade do presidente. Até acho que na nacional as pessoas gostam um pouquinho mais de sangue. Mas eu acho que o Bolsonaro tem tudo para virar e vencer a eleição.
P. – A cadeira de governador do Rio já teve cinco presos e um sexto respondendo por corrupção. O que o sr. pretende fazer para ter um destino diferente? ]
CC – Trabalhar sério.
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