Lula, o ícone da esquerda brasileira tenta voltar ao poder aos 77 anos – UOL Confere
28/10/2022 12h42
Muitos o tinham enterrado politicamente quando foi preso por corrupção, mas o ícone da esquerda brasileira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), busca um terceiro mandato para “consertar” o país e fazer o povo brasileiro “voltar a ser feliz”, após ter vivido a prosperidade em seus dois primeiros mandatos .
Com 77 anos recém-completos, Lula ressuscitou como uma fênix na política após a anulação de suas condenações pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e enfrenta no próximo domingo (30) o segundo turno de sua sexta disputa presidencial com o presidente Jair Bolsonaro (PL).
E as pesquisas o apontam como favorito, ainda que por uma estreita margem.
“Esse país tem que voltar a crescer, tem que voltar a ser feliz”, disse recentemente o ex-metalúrgico, saído da pobreza e que durante sua campanha prometeu devolver o poder aquisitivo ao povo brasileiro para que possa “voltar a comer uma picanha e tomar uma cervejinha” aos fins de semana.
Presidente entre 2003 e 2010, Lula deixou o poder com quase 90% de popularidade, após uma gestão na qual 30 milhões dos mais de 200 milhões de brasileiros saíram da pobreza.
E conquistou enorme prestígio internacional como o líder do “milagre” econômico brasileiro, impulsionado pelos preços altos da matérias-primas.
Ainda que vença, ele não poderá contar com a mesma bonança: embora a economia dê sinais de melhora, com crescimento, menos inflação e mais emprego, está longe da prosperidade dos anos 2000.
Um casebre de taipa, réplica da casa de sua família em Caetés, no Agreste pernambucano, onde nasceu em 27 de outubro de 1945, lembra suas humildes origens nordestinas.
Sétimo filho de um casal de analfabetos, Lula foi abandonado pelo pai antes de a família emigrar, assim como milhões de conterrâneos, para a industrializada São Paulo.
Foi camelô e engraxate. Aos 14 anos, iniciou sua formação de torneiro mecânico, perdeu um dedo mindinho ao manipular uma máquina e ao final da década de 1970 encabeçou, como líder do sindicato dos metalúrgicos, uma greve histórica que desafiou a ditadura militar (1964-1985).
Disputou as primeiras eleições presidenciais após a democratização em 1989, e depois em 1994, 1998 e 2002, quando venceu e se tornou o primeiro presidente brasileiro saído da classe operária.
“Eu até gostaria de ser doutor, mas eu tive sorte por causa de vocês, porque foram vocês que me deram o primeiro diploma que eu ganhei na minha vida, o diploma de presidente da República”, declarou durante um comício.
Lula coroou seu duplo mandato conseguindo para o Brasil a sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio-2016.
Mas sua trajetória política foi ofuscada por escândalos de corrupção.
Foi reeleito apesar do “Mensalão”, esquema milionário montado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) – do qual foi cofundador em 1980 – para comprar o apoio dos congressistas.
Acabou também envolvido na “Lava Jato”, a maior operação anticorrupção da história do Brasil, concentrada em uma gigantesca rede de subornos em torno da Petrobras.
Foi condenado em 2017 a nove anos e meio de prisão pela aquisição de um apartamento tríplex de uma empreiteira em troca de contratos públicos, embora sempre tenha defendido sua inocência.
Ficou preso por 19 meses. Em 2021, recuperou seus direitos políticos com a anulação de sua sentença por irregularidades processuais.
Perdeu um irmão e um neto de sete anos enquanto esteve trás das grades.
“E eu lá tranquilo, me preparando como Mandela se preparou durante 27 anos, me preparando como Gandhi se preparou a vida inteira, para sair da cadeia sem raiva”, disse o ex-presidente.
Pai de cinco filhos e sobrevivente de um câncer, Lula se casou pela terceira vez em março com a socióloga Rosângela da Silva, a “Janja”.
“Eu poderia viver a minha vida com a Janja e largar a política”, mas “tenho uma causa e a minha causa é levantar o direito do povo brasileiro”.
Lula monopolizou a liderança da esquerda brasileira, sem abrir muito espaço para uma renovação geracional. De nove eleições na democracia, incluindo a atual, só terá se ausentado de três.
De qualquer forma, antecipou que não disputará a reeleição se vencer.
“Se eleito, serei um presidente de um mandato só”, prometeu.
“A natureza é implacável”.
bur-jt-mel/app/mvv/jc
© Agence France-Presse
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Juca Kfouri