Lula promete retorno a uma 'harmonia' política no Brasil – UOL Confere
09/11/2022 23h03
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva prometeu nesta quarta-feira (9) “recuperar a harmonia” entre os poderes públicos no Brasil, após quatro anos de embates institucionais durante o governo de Jair Bolsonaro.
A dois meses de sua posse, o líder do Partido dos Trabalhadores (PT) desembarcou nesta quarta em Brasília para uma maratona de reuniões com os chefes dos poderes legislativo e judiciário.
“É possível a gente recuperar a harmonia entre os poderes, recuperar a normalidade na convivência entre as instituições brasileiras, que foram violentadas com uma linguagem nem sempre recomendável por algumas autoridades ligadas ao governo”, disse aos jornalistas no final da tarde.
Lula, de 77 anos, iniciou sua primeira visita à capital desde a vitória eleitoral com um encontro com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), antigo aliado de Bolsonaro.
“O país precisa de diálogo e normalidade”, publicou ele no Twitter junto com um vídeo em que aperta a mão de Lira em sua residência em Brasília.
Lula também se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD).
Ele busca apoio no Congresso para cumprir suas promessas de campanha sobre políticas sociais assim que chegar ao poder em 1º de janeiro.
Isso inclui, entre outros, abrir espaço em um orçamento apertado para financiar um aumento do salário mínimo, assim como manter o Auxilio Brasil – que deve voltar a se chamar Bolsa Família – em 600 reais.
Entre as opções, avalia-se uma emenda constitucional para modificar o teto de gastos do orçamento de 2023.
Sem maioria no Congresso, o petista provavelmente precisará da ajuda da Lira, que faz parte do Centrão.
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), líder da equipe de transição, insistiu nesta terça-feira que o futuro governo também está considerando outros caminhos.
Em Brasília, Lula também se reuniu com os ministros titulares do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
“Não há mais tempo para vergonha, não há tempo para raiva, não há mais tempo para ódio, o tempo é de governar”, declarou o ex-presidente (2003-2010), que viveu uma amarga campanha com Bolsonaro, repleta de ataques e insultos.
O presidente em fim de mandato, que permanece praticamente ausente da vida pública desde sua derrota, frequentemente criticava os ministros do STF, que em várias ocasiões detiveram medidas de seu governo ou autorizaram a abertura de investigações contra ele.
Bolsonaro também confrontou os membros do TSE com suas alegações de fraude nas urnas eletrônicas.
Lula pediu o retorno à normalidade nas ruas, onde alguns apoiadores de Bolsonaro, furiosos com o resultado das eleições, realizam protestos em algumas partes do país.
“Eu acho que precisa detectar quem é que está financiando esses protestos que não tem pé nem cabeça”, disse o futuro governante.
Na semana passada, seguidores do presidente bloquearam estradas e se manifestaram em frente a quartéis para pedir uma intervenção militar visando impedir o retorno de Lula ao poder.
As estradas foram liberadas, porém, cerca de 100 caminhões chegaram a Brasília nesta quarta até serem detidos pelas autoridades locais.
Enquanto isso, outro capítulo das eleições foi encerrado nesta quarta, quando o Ministério da Defesa finalmente entregou ao TSE seu tão esperado relatório técnico sobre o sistema de votação eletrônica.
O documento de 65 páginas conclui que não foi encontrada “nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”, mas alerta que “não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento” e recomenda uma investigação técnica.
“Há uma legitimidade e aprovação por parte das Forças Armadas para que o processo de transição continue”, disse à AFP Christopher Mendonça, doutor em Ciências Políticas e professor do IBMEC de Belo Horizonte.
O TSE afirmou em nota que recebeu o relatório com satisfação e que se trata de mais uma prova da ausência de fraude nas eleições.
rsr/mls/ic/am
© Agence France-Presse
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Marcio Loréga