Lula que dorme, a onda leva? – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Felipe Moura Brasil é âncora da BandNews FM e colunista do UOL. Vencedor do Prêmio Comunique-se na categoria Jornalista Influenciador Digital. Maior influenciador político do Brasil no Twitter, de acordo com estudo da empresa de big data Stilingue. Trabalhou nas revistas Veja e Crusoé, no site O Antagonista e na rádio Jovem Pan, onde também foi diretor de Jornalismo. Reúne suas várias frentes de trabalho em www.felipemourabrasil.com.
Colunista do UOL
05/10/2022 14h40
O que você vê hoje foi antecipado no meu Twitter, em 29 maio de 2020:
“Chegar a 2022 com polarização viva, para empurrar antipetistas a votarem em Bolsonaro, sempre foi a meta dos flanelinhas da militância bolsonarista. Por isso, queriam Lula livre. Por isso, tentam assassinar a reputação de qualquer pessoa independente, que expõe males dos 2 lados.”

Em 8 de setembro de 2022, a 24 dias do primeiro turno, escrevi no artigo “A culpa é de Lula, ele coloca em Ciro“:
“Se o antibolsonarismo arrefece no Sudeste, com reativação do antipetismo, Lula fica sem ação, dependendo, portanto, do nível de rejeição ao presidente.”
Estava tudo lá, inclusive o crescimento de Bolsonaro em São Paulo, decisivo, assim como em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, para que o presidente tivesse mais votos nas urnas do que as intenções registradas nas pesquisas eleitorais.
Em 26 de setembro, ainda falei na TV que Bolsonaro precisaria contar com uma alta abstenção e com o erro dos institutos na proporção dos votos de baixa renda (porque há um ponto cego, em razão da falta de Censo), além de conter a migração de voto útil para Lula e obter os chamados ‘votos envergonhados’ ou não captados pelas pesquisas.
Tudo isso, aparentemente, aconteceu.
A campanha do PT pelo voto útil – que tantas vezes descrevi como movimento arriscado, feito de forma arrogante – se revelou um tiro no pé, de modo que a potencial vitória petista no primeiro turno, se gerou mais votos na reta final, foi para o presidente. (O Ipec, por exemplo, afirma que ele recebeu 3 pontos de indecisos, 2 de Ciro e 1 de Tebet.)
A vantagem de Lula (48,43%) sobre Bolsonaro (43,20%) ficou em 5,23 pontos, pouco acima do cenário otimista (de 4 pontos de desvantagem) traçado pela campanha bolsonarista.
Em números absolutos, foram 57.259.504 votos para o petista e 51.072.345 para o presidente. Bolsonaro, portanto, precisa de 6.187.159 votos para alcançar Lula, mais um para vencer, caso ambos mantenham os que já tiveram.
Considerando a base dos votos válidos, que somaram 118,22 milhões, Lula precisaria ter obtido 59,11 milhões para vencer no primeiro turno (com 50% mais 1), ou seja, cerca de 1,85 milhão de votos a mais.
Por garantia, a campanha do PT tenta correr atrás desses votos no segundo turno, embora também possa vencer mesmo sem todos eles, caso o presidente não alcance o petista.
O índice de abstenções de 20,89%, o equivalente a 31 milhões de eleitores, foi o maior desde as eleições de 1998 (21,5%) e, mais do que os 5.452.653 de votos brancos e nulos, segue preocupando Lula, porque geralmente os eleitores que se abstêm são de baixa renda e baixa escolaridade, segmento no qual o petista leva ampla vantagem.
Simone Tebet (MDB), que obteve 4,9 milhões de votos, tenderia a declarar apoio crítico a Lula, sem entusiasmo e sem fazer o L, mas virou alvo das pressões do PT para que faça um gesto maior que o de Ciro Gomes (PDT), que obteve 3,6 milhões.
O pedetista publicou um vídeo sem citar Lula, dizendo apenas que seguiu a decisão do partido, que as opções do segundo turno são insatisfatórias, que não aceitará cargos no governo e que continuará fiscalizando o poder.
Os demais candidatos, somados, tiveram menos de 1,4 milhões de votos. Ao todo, são 9,9 milhões de votos do conjunto dos derrotados, agora em disputa por Lula e Bolsonaro.
O presidente sai atrás nos votos válidos, mas à frente nos apoios, já que conseguiu rapidamente as manifestações em seu favor dos governadores dos três maiores colégios eleitorais do país: Rodrigo Garcia (PSDB-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Cláudio Castro (PL-RJ), que devem colocar as máquinas estaduais a serviço de Bolsonaro.
A campanha mapeia a diferença de 1,8 milhão entre a quantidade que o presidente teve em 2018 e em 2022, e a diferença entre os votos que cada governador que o apoia teve no primeiro turno e os de Bolsonaro, para saber onde estão os eleitores potencialmente mais inclinados a votar no presidente e, claro, falar com cada um.
“Camarão que dorme, a onda leva”, já dizia o velho samba.
Se Lula não descer do salto, leva ele também.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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