Lula x Bolsonaro no 2º turno: A “kelmonização” da política – Yahoo Noticias

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Canibalismo, maçonaria, aborto, candidato padre… teve de tudo nessa eleição que nem chegou na metade do segundo turno ainda. Só não teve propostas. E tem debate no domingo. De dois dos maiores opositores da história política brasileira.
O que esperar desse embate? Certamente a guerra santa vai entrar em pauta, o nordeste, a corrupção, e também Minas Gerais. Mas o principal ator de domingo deve ser a “kelmonização” da política.
Propostas, valores sociais e anseios da sociedade civil deixados de lado para dar lugar a um processo onde o que importa é a lacração. O próprio Estado virou um teatro. Os políticos são os atores em cena. E o que importa é alavancar a audiência. E percebam como os papeis se encaixam: vilões, mocinhos, ataques…é uma novela da vida moderna.
Sai o Padre Kelmon, ou candidato padre, entram em cena, para melhor iludir, Lula e Bolsonaro. Um não quer falar sobre a composição de seus ministérios, mas quer falar sobre canibalismo. Uau, que pauta fundamental em tempos de Jeff Dahmer. Parabéns por saber eleger prioridades.
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O outro é uma apoteose de si mesmo. Sem historicidade sobrevive do “que é bom aparece, o que aparece é bom”.
Vivemos numa sociedade em que nada está inerte ao poder espetacular da kelmonização. O exagero de tudo: da religião, da política, do judiciário. Pautas sérias dão lugar a uma disputa de poder onde a sociedade assiste passiva. Quando constantemente provocada entra em cena para, bestialmente, defender pontos de vista que nem são seus. Vale tudo. Desde o apelo emocional para que se tome um lado na batalha até a agressividade sem subterfúgios. A política antes era de ideias, hoje é de personagens.
A política, afinal, hoje se apresenta para a sociedade apenas como um meio de confirmação e validação de disputas que nem são nossas. Não vi até agora nenhum candidato falar sobre como resolver o problema da saúde com suas filas imensas em hospitais. Ou educação. Alguém falou em educação? Mas é isso que a Kelmonização da política faz. Ela esvazia o conteúdo e oferece todo o destaque para as aparências. E é sempre contraditória, ambígua e cheia de reviravoltas.
Numa sociedade que se acha no direito de questionar instituições, ciência e qualquer discurso que não corrobore seu ponto de vista ninguém tem certeza se vai se beneficiar ou ser uma vítima dessa kelmonização. A única certeza é que a sociedade está anestesiada. Diante de líderes que estão mais preocupados com sua retomada ao poder do que com o fluxo da sociedade. E, olhem, estamos nos matando por eles. “Ah, mas é sim, uma luta do bem contra o mal”. Toda generalização é burra e acreditar que todo bolsonarista é genocidade e todo lulista é corrupto é se entregar a uma narrativa construída com esse objetivo: aniquilar unicamente você. Povo alienado, política feliz.
É isso que a Kelmonização da política faz conosco: nos aliena, mutila e ainda faz que com que acreditemos que estamos participantes e ativos no processo quando somos meras marionetes nas mãos daqueles que estão no centro do poder e só reaparecem de quatro em quatro anos. Não, o Padre Kelmon não é o culpado por tudo isso. Nós somos. Por não trocarmos de políticos como trocamos as fraldas. Pelos mesmos motivos. Bom debate.
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