Marcola votou em Lula? Fake news da véspera da eleição teve forte impacto nas redes sociais – Brasil de Fato

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Em pleno sábado (1º) pré-eleição, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, determinou que o site O Antagonista tirasse do ar uma publicação segundo a qual o líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Camacho, o Marcola, teria declarado voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à Presidência. A informação é falsa.
Após analisar pedido da campanha de Lula, Moraes afirmou que a publicação veicula “fato sabidamente inverídico, com grave descontextualização”, com a intenção aparente de vincular o candidato à organização criminosa.
Relembre: TSE rejeita pedido "absurdo" de Bolsonaro e manda tirar do ar audio de Marcola sobre Lula
O ministro frisou que o TSE já julgou outros casos em que enfrentou a suposta ligação entre o PCC e Lula, concluindo pela falsidade das informações. Voltar a publicar informações inverídicas sobre o assunto configura “evidente intuito de comprometer a lisura das eleições, tendo em vista a higidez das informações a respeito dos candidatos”, escreveu Moraes.
Audiência estratosférica
De acordo com reportagem do Núcleo Jornalismo, veículo especializado em redes sociais, vídeos dos canais Os Pingos Nos Is e Jovem Pan News que repercutiram a informação sem contexto atingiram mais de 1,75 milhão de visualizações no YouTube até serem excluídos na manhã de domingo (2).
O veículo apontou que, antes de serem tirados do ar, os vídeos circularam em 38 grupos de WhatsApp e Telegram monitorados pelo Radar Aos Fatos e figuravam como “não listados” no YouTube — quando o conteúdo não aparece na busca da plataforma, mas fica disponível por meio de links distribuídos. Mais de 100 correntes reproduzidas nos dois aplicativos de mensagens das 19h de sábado (01) até as 12h deste domingo (02) citavam o áudio.
Migração de votos na última hora
As diretoras do Ipec e Datafolha atribuíram as divergências dos resultados de seus levantamentos eleitorais de sábado à possível migração de votos para Bolsonaro na última hora – entre a noite de sábado e a manhã de domingo, justamente quando a notícia falsa teve o auge de seus compartilhamentos.
Luciana Chong, diretora do Datafolha, por exemplo, negou que o chamado "voto envergonhado" tenha sido determinante para mudar os rumos da eleição no domingo. Ela também cita a migração de votos de última hora como possível explicação para os resultados discrepantes, enfatizando ainda que estados como São Paulo tinham um alto percentual de eleitores indecisos.
"Não se pode ignorar o impacto das fake news"
O coordenador do projeto Desinformante, que analisa as notícias falsas nas redes sociais, o doutor em Ciência Política João Brant, debateu o assunto. "Resumir o que aconteceu como exploração de fake news é provavelmente um erro. Assim como seria errado ignorar o seu impacto. A combinação de questões políticas mais profundas com a capacidade de explorar o debate público subterrâneo ajuda a entender os votos de Bolsonaro", declarou.
A publicação de sábado (1º) tinha o título “Exclusivo: em interceptação da PF, Marcola declara voto em Lula”. Moraes, porém, concluiu que “a partir da leitura da reportagem, não se constata qualquer declaração de voto de Marcola no candidato Luiz Inácio Lula da Silva”.
“Na verdade, os diálogos transcritos, além de se relacionarem a condições carcerárias, apresentam apenas conotação política, pois retratam suposta discussão de Marcola e outros interlocutores a respeito de Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro”, ressaltou Moraes. “Embora o teor dos diálogos revele uma discussão comparativa entre os candidatos, não existe declaração de voto, fato constante no próprio título da notícia”, acrescentou o ministro.
A decisão de Moraes atinge também outros veículos que replicaram a notícia, como a Rádio Jovem Pan e o portal Terra, e também perfis do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, entre outras páginas na internet. O ministro estabeleceu multa diária de R$ 100 mil em caso de descumprimento e de R$ 15 mil em caso de reincidência.
Em nota, O Antagonista classificou a liminar como “censura” e disse que “a decisão de Moraes acolhe, sem direito ao contraditório, argumentos dos advogados da campanha do petista”.
Edição: Vivian Virissimo
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