Meirelles vê menor espaço para intervencionismo de Lula ou Bolsonaro: 'espero que a realidade prevaleça' – InfoMoney

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Ao InfoMoney, ex-ministro da Fazenda diz ver cenário ainda nebuloso em ambos os casos, mas acredita que conjuntura exigirá maior disciplina fiscal do eleito

A duas semanas do segundo turno da eleição presidencial, os cenários econômicos, tanto para uma possível reeleição de Jair Bolsonaro (PL), quanto para eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não estão claros para parte do mercado financeiro.
As promessas de mais gastos públicos feitas pelas campanhas contrastam com um ambiente externo desafiador − em meio a avanço da inflação, da alta dos juros e de ameaças de recessão em grandes economias – e com as próprias restrições crescentes do lado das contas públicas no plano doméstico.
Para o economista Henrique Meirelles, os cenários são binários para ambos os candidatos. O ex-ministro da Fazenda do governo Michel Temer (MDB) e pai do Novo Regime Fiscal – que culminou com a criação do teto de gastos a partir da Emenda Constitucional nº 95, promulgada em 2016 – recebeu a equipe do InfoMoney em sua casa na última quarta-feira (12) para uma entrevista.

Assista à íntegra pelo vídeo acima ou clicando aqui.
No caso de Lula, a falta de clareza sobre os rumos a serem seguidos sobretudo no campo da política fiscal têm provocado ansiedade entre os agentes econômicos. Falas do candidato e de seu entorno no sentido de um aumento no nível de despesas para bancar promessas de investimentos públicos e programas sociais geram especulações sobre qual seria a face de um eventual terceiro mandato do petista.
Já do lado de Bolsonaro a dúvida é se prevaleceria o candidato que vendeu ao eleitorado um discurso liberal em 2018 ou aquele que driblou sistematicamente o teto de gastos e expandiu o uso da máquina pública em pleno ano eleitoral para tentar aumentar suas chances de conquistar um novo mandato à frente do Palácio do Planalto.
Na entrevista, Meirelles indicou apostar em uma postura mais equilibrada de quem quer que seja o eleito em relação às contas públicas ao longo dos próximos quatro anos – menos por convicções e mais por imposição de uma conjuntura econômica adversa.
Henrique Meirelles foi presidente do Banco Central durante os governos de Lula, comandou o Ministério da Fazenda na gestão Michel Temer (MDB) e mais recentemente esteve à frente da Secretaria da Fazenda e Planejamento do governo de João Doria (PSDB), em São Paulo.

Duas semanas antes do primeiro turno, manifestou apoio à candidatura de Lula ao Palácio do Planalto, destacando resultados obtidos pelo ex-presidente na seara econômica em seus dois mandatos. Ele espera que o pragmatismo de Lula fale mais alto e o petista opte por repetir o modelo, em contraste com a chamada Nova Matriz Econômica, que guiou a política econômica da gestão de Dilma Rousseff (PT). Mas Meirelles reconhece que este não é um jogo já definido dentro da campanha petista.
“O que eu disse, mesmo antes do primeiro turno, quando anunciei o apoio [à candidatura de Lula à Presidência da República], é que esperava Lula mais próximo do primeiro mandato. Não por uma questão de convicção ou profundo conhecimento econômico, no sentido de adotar uma linha que acredita. Mas por uma razão muito simples: ele é muito pragmático”, disse.
“O período em que ele foi presidente, principalmente no primeiro mandato, foi um período de responsabilidade fiscal, superávit primário elevado, controle de despesas e de responsabilidade monetária. Se tomarmos os 8 anos [de governo], o Brasil criou 11 milhões de empregos, cresceu em média 4% ao ano, resolveu praticamente de forma definitiva a questão cambial. Então, meu pressuposto é que, se tem algo que deu certo – que foi o governo dele – e algo que não deu certo – que foi o governo de Dilma –, o óbvio é escolher o que dá certo”, explicou.
A campanha de Lula tem adotado tom pragmático ao longo da corrida presidencial, defendendo teses mais abertas e evitando assumir posições em pontos mais sensíveis do debate econômico. Um exemplo está relacionado ao próprio arcabouço fiscal. O programa de governo da coligação do petista fala em revogar o teto de gastos, mas não traz definição sobre o que entraria no lugar.
Aliados admitem que não há nenhum encaminhamento de regra fiscal descartado no momento e que as discussões talvez precisem avançar para além do próprio segundo turno. Enquanto isso, Lula acena para os mais distintos segmentos do eleitorado: em uma ponta, assegura seu compromisso com a responsabilidade fiscal; em outra, indica a retomada de investimentos em infraestrutura sob protagonismo do Estado.
“Minha expectativa é que isso (as medidas econômicas do primeiro mandato de Lula) seja repetido, e não atitudes que se provaram erradas. No final, espero que a realidade prevaleça, apesar de algumas declarações equivocadas da campanha”, pontuou Meirelles.
A possível reeleição de um candidato normalmente é vista como garantia de um quadro mais previsível em termos de condução de política econômica. No caso de eventual vitória de Bolsonaro na disputa presidencial, contudo, Meirelles também enxerga um cenário binário.
“Apesar de ser um presidente reeleito, também existem dúvidas. Ele gastou muitos recursos, agora em 2022, que tinham finalidades eleitorais. A pergunta é: ele adota o governo que foi prometido de responsabilidade fiscal, de visão liberal, ou continuará em uma postura eleitoral? Não faz muito sentido isso durante o início de governo, mas teremos que ver”, observou.
Desde o início da campanha eleitoral, o InfoMoney tem buscado assessores econômicos dos principais candidatos à Presidência da República. A campanha de Bolsonaro e a assessoria do ministro Paulo Guedes declinaram de todos os convites feitos para discussão do programa econômico de um eventual segundo mandato.

Ventos desfavoráveis

Independentemente do desfecho destas eleições, o próximo presidente enfrentará um quadro desafiador no plano internacional – o que, na avaliação de Meirelles, tornará ainda mais decisiva a realização de reformas econômicas no país.
Apesar de o Brasil ser uma economia mais fechada em comparação com pares internacionais, a avaliação do especialista é que a combinação de possível recessão em grandes economias, inflação elevada e altas taxas de juros terá impactos importantes sobre a atividade a nível doméstico.
“É um período de dificuldades, não há dúvida. E só tem uma saída para isso: o Brasil precisa estar com a casa em ordem. É o momento, mais do que nunca, de fazer a reforma administrativa, a reforma tributária, garantir a responsabilidade fiscal, e, a partir daí, estarmos preparados para enfrentar um ambiente externo mais hostil”, concluiu.
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