Mercado é para a esquerda cirandeira o que o STF é para a direita delirante – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Madeleine Lacsko é jornalista desde 1996. Participa dos think tanks Instituto Montese pela defesa da democracia e Sociedades Digitais e Relações de Poder, da GoNew.Co. Atuou como Consultora Internacional do Unicef Angola na campanha que erradicou a pólio no país, diretora de comunicação da Change.org para a América Latina, assessora no Supremo Tribunal Federal e do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp. Trabalhou na Jovem Pan, Antagonista, CCR e Gazeta do Povo.
Colunista do UOL
08/12/2022 12h23
A gente ainda convive diariamente com a pessoa altamente nervosa usando uma camisa da seleção que grava vídeo babando de ódio em que culpa o STF e o Xandão pelo que quer que aconteça. Se for prejudicial ao mito, a culpa é do STF. Se deu errado, foi o STF que fez.
Existe um fenômeno chamado conformidade social. Deveria se dedicar mais a ele quem pensa ser imune a ir parar na porta de quartel. “A esquerda jamais iria para a porta de quartel”, me disse outro dia nas redes um rapaz que ficou numa barraca em Curitiba quando o Lula foi preso.

“Falsa simetria!”, gritará o povo que acorda depois das 11h da manhã para salvar o mundo uma tuitada por vez. Assim seguimos.
Voltemos à conformidade social. Vale a pena buscar no You Tube por “Candid Camera elevator”. É um experimento de conformidade social. Dentro do elevador há 4 atores e se filma quando alguém entra.
Todos os atores estão de frente para a porta. Assim que ela fecha, todos se viram para o fundo. O primeiro na pegadinha é um homem sério, de terno, gravata e chapéu. Ele quer acompanhar todos mas tem vergonha, aquilo é ridículo. Vai se contorcendo como se quisesse se convencer a fazer igual aos outros. Acaba cedendo.
O último é um rapaz que nem pensa duas vezes. Vira de costas para a porta, para um lado, para o outro, tira e coloca o chapéu. O que quer que o grupo faça ele imita. É uma tendência nossa, uma característica humana e ninguém está imune.
Saber disso é essencial para evitar cair nas peças que a mente nos prega. Infelizmente, na apoteose da superficialidade, toda a dinâmica dos relacionamentos humanos e da moralidade foi substituída pela cor partidária. Assim, se alguém é luloafetivo, jamais chegaria à porta de um quartel porque acredita na ideologia oposta.
Não tem jeito melhor de cair do precipício do que ignorar a existência dele. Toda a sociedade tende a copiar o que tem se tornado normal pela repetição, ainda que seja contra esses comportamentos. Ter essa consciência é a forma de ter disciplina para evitar.
Estamos há anos convivendo com a dominância de um grupo político que se crê intrinsecamente bom, vê seus adversários como menos humanos, acredita que seu líder é infalível, reage com beligerância quando alguém questiona seu líder, elege uma instituição para bode expiatório.
Passamos anos vendo o STF ser culpado por tudo, de falta de vacina a morte de mula. Agora a esquerda cirandeira está mimetizando o comportamento da direita delirante e arrumou um STF para chamar de seu, o “mercado”.
Falou em teto de gastos? Então você é uma cadelinha do mercado, contra a democracia e os interesses do povo. O mais esquisito é que tratam o mercado financeiro como se fosse o “Xandão” deles, uma pessoa de carne e osso que tem moral, opiniões e deve ser cobrada. A hora que encontrarem apelido para o mercado, já era, estarão a um boné do MST do quartel.
Esta semana, a esquerda cirandeira está salvando o mundo tuitando sobre o escândalo do calote nas bolsas da CAPES. Quem é o vilão? Não é o Bolsonaro não, é o mercado, por mais delirante que pareça.
Há pessoas públicas, adultas e supostamente vacinadas, questionando seriamente se “o mercado não vai ficar nervoso com o corte de bolsas da CAPES”. Seria cômico se não fosse trágico o nível de dissociação da realidade causado pelo fanatismo político e o vício em sinalizar virtude.
A sacada de comparar o mercado ao STF não é minha, é do excelente Igor Falconieri, do podcast Bem-Estar Capital, que explica de forma fácil e profunda grandes temas da política com nomes importantes do mercado e da universidade. “Não sabem o que é ou para que serve, mas escolheram como bicho-papão”, disse nas redes sociais.
“‘Reação do mercado’ não é uma opinião de alguém, é a variação no preço dos ativos. Se você acredita que o bloqueio das bolsas precisa estimular decisões de compra e venda você tem um ponto. Se não, a pergunta não faz sentido”, explicou.
Pode explicar novecentas vezes, como foi explicado sobre o STF aos bolsomínions. Vão ignorar e te atacar. Faça tudo a um fanático político, só não tire dele a segurança do mito infalível e da existência do bicho-papão.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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