Mercado não trata Lula como tratou Bolsonaro, diz Helder Barbalho – Poder360

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Governador do Pará afirma que o 3º mandato de Lula será uma mescla de responsabilidade fiscal com social
O governador reeleito do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse, em entrevista ao Poder360, que o mercado não trata o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da mesma forma que tratou o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL). Para ele, seria uma injustiça que será corrigida com o tempo.
A memória do governo Lula traz um governo comprometido com a estabilidade econômica do Brasil e com a agenda fiscal. O Brasil cresceu e foi uma bela oportunidade para as pessoas terem acesso ao emprego e políticas de transferências de renda“, disse.
Assista à entrevista na íntegra (33m24s):

Helder defende que o MDB faça parte da base de apoio de Lula. Segundo ele, o governo será uma mescla de responsabilidade fiscal com social –apesar das desconfianças. Mas o seu discurso se afasta da fama que o MDB do passado tinha, de ser um partido fisiológico. Ele diz que o motivo do apoio é, acima de tudo, a defesa da democracia.
O governo Lula representa a configuração da democracia e precisa dar certo sob pena de corrermos um severo risco vindo daqueles que alimentam a luta ideológica e questionam a democracia com atos criminosos que lamentavelmente temos assistido“, disse.
Nesse sentido, afirma que a luta por espaço no governo, com o comando de ministérios, é secundária.
Helder tem 43 anos, foi ministro de 3 pastas diferentes e prefeito de Ananindeua (PA). Foi reeleito em 2022 no 1º turno com 70,41% dos votos –o maior percentual do país.
Elegeu 9 dos 17 deputados federais do Estado –outro recorde nessas eleições, tanto em número como em porcentagem. É filho do senador e ex-governador do Pará Jader Barbalho (MDB).
Por isso, Helder é um dos políticos mais influentes do país e do seu partido. Ele diz que o MDB deve adotar a defesa do desenvolvimento sustentável da Amazônia. E apoia uma federação com PSDB, Podemos e Cidadania.
Teremos provavelmente a maior bancada no Senado e uma das maiores na Câmara, um protagonismo importante. Tem também as representações estaduais, 6 governadores. É um ativo político extremamente relevante“, disse.
Leia trechos da entrevista:
Poder360: Como foi a conversa com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, na 2ª feira (28.nov.2022)?
Helder Barbalho: Muito positiva. Debater os desafios do Brasil e os cenários político e social, que tanto preocupam. Falamos da situação fiscal, da PEC da transição e da necessidade de fazer a recomposição e os ajustes no Orçamento de 2023. Isso vai permitir ao governo eleito entregar o que se comprometeu, como o incremento do Bolsa Família, para combater as desigualdades e a fome.
Foi discutido o apoio do MDB ao próximo governo?
O presidente Lula deixou clara a sua intenção e desejo de que o MDB possa cooperar e colaborar. É recíproco. Reforcei, ao lado do presidente do MDB, Baleia Rossi, e dos líderes no Senado e na Câmara, que o MDB está à disposição para atender ao chamamento, compreendendo o momento profundamente sensível da história política. Precisamos estar unidos e colaborar para que dê certo este processo de transição e que o novo governo seja exitoso. O Brasil sai das urnas extremamente dividido. O resultado acirrado e a persistência de parcela da sociedade, alimentada por desinformação e estimulada a questionar a democracia e a Constituição, reforçam a necessidade de que o governo tenha hesito, sob pena de o sentimento contrário ao resultado das urnas estar mais aflorado e trazer prejuízos à sociedade e ao Brasil.
A PEC fura-teto estipula um rombo de até R$ 198 bilhões no orçamento. É um valor razoável?
Estamos buscando uma solução que una responsabilidade fiscal e responsabilidade social. A memória do governo Lula traz um governo comprometido com a estabilidade econômica do Brasil e com a agenda fiscal. O Brasil cresceu e foi uma bela oportunidade para as pessoas terem acesso ao emprego, políticas de transferências de renda e a construção civil cresceu. Nunca antes havia tido um processo de crescimento inclusivo como esse. A minha crença é que o governo Lula respeitará a agenda fiscal. Ele defende a tese, e eu também, de que o sacrifício para a agenda fiscal não deve ser de toda a sociedade, principalmente os que têm fome. O desemprego está na porta de todos. O governo demonstra, quando provoca o Congresso, que quer chegar a uma equação para compatibilizar o fiscal e o social. A PEC do senador Marcelo Castro (MDB-PI) coloca à mesa o ponto de partida. A partir de agora, o Congresso tem a legitimidade de discutir a matéria, levando em consideração que ambos os candidatos apresentaram essa proposta. Tanto Lula quanto Bolsonaro disseram que o auxílio, ou bolsa família, o nome que se queira dar, seria de R$ 600. O grave é que o atual presidente, que enviou para o Congresso Nacional a peça orçamentária, defendia como candidato esse valor, mas mandou a lei dizendo R$ 400. Tenho absoluta convicção de que a sensibilidade política e a sensibilidade do mercado irão entrar e confluência para que o bom senso possa pairar.
Uma das críticas do mercado é que a proposta extrapola o teto de gastos. Qual novo sistema de ancoragem deve ser aplicado?
É fundamental que a mesma sensibilidade e a mesma crítica que aplicam à proposta apresentada pelo governo que sequer iniciou não seja distinta de como o mercado se comportou com as reincidentes ações que extrapolavam o teto de gastos. Apresentar a narrativa de que o atual governo se diferencia do próximo na política de avanço sobre o teto de gastos é um equívoco enorme. Acho fundamental ser claro e transparente com o mercado. Previsibilidade e estabilidade têm que acompanhar o governo. Poderemos atuar com planejamento e garantir que saibamos as águas que o Brasil vai seguir. O teto de gastos me parece não apenas esgotado, mas um modelo que foi recorrentemente desrespeitado. Temos que encontrar uma nova solução. Só quem pode responder isso é o presidente eleito e sua equipe econômica. O presidente já sinalizou que sua missão é equilibrar responsabilidade fiscal e social. Na pandemia, a sociedade entendeu que nós estávamos num momento excepcional que precisava abrir uma janela para compatibilizar a agenda sanitária com a agenda econômica e social. Agora temos o vírus da pobreza. Devemos encontrar a solução. E o vice-presidente Alckmin reforçou a mensagem de que quem aposta contra a responsabilidade fiscal, vai errar.
O mercado está sendo injusto com o presidente Lula?
O mercado precisa ter calma, dialogar, ter a sensibilidade que estamos diante de um governo que se depara com um orçamento inexequível. A peça orçamentária está inviabilizada para qualquer gestão. Seja a eleita nas urnas, seja a que enviou. O mercado deve ter a compreensão de que um excesso de nervosismo, excesso de sensibilidade neste momento não coopera. O mercado tem que compreender que terá de conviver com o governo que foi legitimamente vitorioso. Sei que no mercado tem gente que votou no Lula e gente que votou no Bolsonaro. O mercado tem que compreender que a democracia escolheu um candidato. Ele tem que ter o direito de se apresentar e ter crédito e tempo para colocar suas intenções. Lula, quando candidato, deixou claras as suas prioridades: combater a fome e a desigualdade. Quando ele apresenta esta PEC e coloca como central o aumento do valor do Bolsa Família, está sendo igual ao candidato. Não mudou o discurso. Seria estranho se depois de eleito tivesse outro discurso. O mercado tem que precificar isso e ter calma e memória da relação positiva que teve nos 2 governos do presidente Lula para administrar esse processo de acomodação. Por outro lado, acho que cada vez mais o presidente deve habilitar interlocutores empoderados para evitar que muita gente fale. Quando muita gente fala, corre-se o risco de uma mensagem distorcida e uma interpretação correspondente a essa distorção.
Quais ministérios o senhor avalia que o MDB tem condições de assumir?
Acho que tratar de cargo neste momento seria insensível por parte do MDB. O MDB deve, no meu entendimento, compreender o momento histórico que vivemos e saber sua responsabilidade. O que está em jogo não é o sucesso de um governo, mas o momento da história da democracia do nosso país. Acabamos de vivenciar uma eleição extremamente acirrada. Instituições foram questionadas, o pacto federativo fragilizado, e se buscou de toda forma colocar a máquina pública para usos que não são de Estado, mas de interesses do governo. O governo Lula representa a configuração da democracia e precisa dar certo sob pena de corrermos um severo risco vindo daqueles que alimentam a luta ideológica e questionam a democracia com atos criminosos que lamentavelmente temos assistido.
No seu Estado, o MDB elegeu 9 dos 17 deputados federais. O senhor ganhou estatura no partido. Pretende assumir algum cargo na Executiva?
Eu tenho a responsabilidade de me doar integralmente ao governo do Pará. O povo paraense me fez o governador mais votado da história do Estado e proporcionalmente o mais votado do Brasil. Seria desleal de minha parte não estar 100% focado no Pará. Desejo, como governador do Estado de maior PIB e maior população da Amazônia, que o MDB abrace causas que são absolutamente necessárias para a Amazônia, como desenvolvimento sustentável e construção da política de transição do uso da terra para compatibilizar o agro, a mineração e a floresta viva como nova commodity global. Precisamos fazer o sequestro de carbono da floresta, respeitar os saberes das comunidades originárias para agregar conhecimento, consciência e tecnologia com inovação. Esses componentes me interessam profundamente e eu acredito que é uma responsabilidade que o Brasil deve exercer. Temos uma oportunidade extraordinária de estar no centro das discussões do clima e das soluções para o meio ambiente. Isso leva o Brasil ao centro de toda e qualquer discussão diplomática internacional. Precisamos escolher se iremos pelo campo da negação dessa importância, e manter o Brasil como está, um pária à margem das relações diplomáticas, ou se vamos virar a chave e ir para o centro dessa nova realidade. Por isso convidei o presidente Lula para a COP27. Ali ele demonstrou o que será o Brasil daqui para frente. Temos que olhar a Amazônia sob a ótica ambiental, mas não podemos desconhecer que temos 29 milhões de pessoas na Amazônia que precisam de bens absolutamente primários como água, drenagem, saneamento, tratamento de esgoto, acesso à educação, à saúde, à cultura.
Tem como conjugar essas coisas?
O modelo é um tripé: pessoas, floresta e economia. Quando você discute financiamento climático, não pode olhar só para o clima. Tem que preservar a floresta e olhar as pessoas. O desenvolvimento é sustentável, mas tem que ser social. Se não integrar as pessoas, é utópico. Preciso que um produtor rural na Transamazônica que foi estimulado na década de 60, 70 a ocupar a terra, seja convencido de que além do plantio de cacau e da pecuária, pode ter uma outra lavoura, que é a floresta em pé, uma obrigação do código florestal. E explicar que não é um problema, mas uma solução. É solução ambiental e financeira para ele, que precisa receber pela floresta. Precisamos definir de que forma a tonelada de carbono capturada vai ser revertida, quanto cada hectare corresponde e fazer uma regulamentação do mercado para, no final do mês, fazer esse produtor rural receber. Aí ele vai ver claramente que a pecuária, a lavoura de cacau e a floresta em pé geram receita para ele. Isso fará com que o produtor seja nosso maior aliado e tenhamos a compatibilização da preservação ambiental com o desenvolvimento local.
Uma das propostas levadas à COP é que o Brasil sedie uma das próximas edições, provavelmente no Pará. Como estão as negociações?
Eu formalizei o desejo de receber na Amazônia a COP30, que será em 2025. A COP28 será em Dubai. A COP29 no leste europeu e a COP30 na América Latina ou Caribe. O presidente Lula, na sua sensibilidade de costume, comprou a ideia. A partir de sua posse, o Itamaraty deve fazer a interlocução com as Nações Unidas para formalmente apresentar a Amazônia como sede. Eu não medirei esforços como governador do Pará para que Belém, sendo a capital da Amazônia, sediar esse evento. Isso faz com que o mundo volte os olhos para construir soluções que passem por nós, e não apenas opinar sobre nós. E tem uma alavancagem extraordinária no turismo e consolidação de imagem. Mas nos traz uma responsabilidade extraordinária de recepcionar um evento dessa magnitude e apresentar-nos como país e Estado responsável com o meio-ambiente.
O MDB negocia federar com PSDB, Podemos e Cidadania. O senhor é favorável?
É um processo no qual deve ser exercitado o diálogo ao extremo. É o meu desejo. Tivemos um belo papel e um exercício de convívio com a candidatura a presidente da senadora Simone Tebet. É natural que cada partido tenha seus desafios, seus projetos, seus olhares a respeito do hoje e do amanhã. Essas peculiaridades devem ser desdobradas e deve-se discutir a viabilidade, mas acho um passo importante para esse agrupamento partidário buscar suas identidades, valorizar o que nos identifica e verificar a possibilidade de fazermos a federação. Desejo que discutamos ao limite a possibilidade, levando em conta as peculiaridades e os projetos de cada um para não haver sobreposição ou autofagia. No Pará, esses partidos estiveram na minha aliança. Temos uma boa relação. Se for exitosa, teremos provavelmente a maior bancada no Senado e uma das maiores na Câmara, um protagonismo importante no Parlamento. Tem também as representações estaduais. O MDB elegeu 3 governadores: Pará, Alagoas e Distrito Federal. O PSDB, outros 3: Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. É um ativo político extremamente relevante.
Depois de uma reeleição consagradora, o senhor sonha em ser presidente?
Todo o agente público deve sonhar em exercer cargos que possam contribuir com o seu país e com os seus Estados. Eu sou profundamente realizado servindo ao Pará. Fui vereador e prefeito de Ananindeua e deputado e tive um belo julgamento da população nestas eleições. Acredito numa Amazônia cada vez mais como solução para este país. No que puder, elevarei a importância da Amazônia para o Brasil compreender o que representa a nossa região e a colocar no centro das discussões nacionais. Ser ou não presidente é secundário. Mas se tiver que representar alguma função que esteja na proporção desse desafio, estarei pronto desde que em consonância com o meu partido e respeitando todos os que compõem nossas relações. Torço para que o governo do presidente Lula seja profundamente exitoso. Ele representa não o êxito de um governo do PT ou apenas do presidente Lula, mas o êxito dos milhões de brasileiros que dependem deste sucesso para ter uma vida melhor. O Brasil precisa virar esta página com democracia, respeito às instituições e justiça social.
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