Ministério Público faz operação contra corrupção de policiais pelo jogo do bicho – Extra

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Com 26 mandados de prisão, incluindo alvos como os bicheiros Bernardo Bello e Marcelo Simões Mesqueu, o Marcelo Cupim, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) deflagrou nesta terça-feira a operação Operação Fim da Linha. O foco é a repressão a crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro proveniente da exploração de jogos de azar. Um dos endereços dos 57 mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça é a residência do coronel Rogério Figueredo de Lacerda, ex-secretário estadual de Polícia Militar. Até as 8h40, 10 pessoas foram presas.
Bernardo Bello e Cupim não foram localizados em casa. A operação encontrou R$ 435 mil em espécie na casa do sargento da PM Alexandre Ribeiro da Silva, que foi denunciado como integrante da organização.

Foram encontrado R$ 435 mil em espécie na casa do sargento da PM Alexandre Ribeiro da Silva, um dos alvos da Operação Fim da Linha
Foram encontrado R$ 435 mil em espécie na casa do sargento da PM Alexandre Ribeiro da Silva, um dos alvos da Operação Fim da Linha Foto: Reprodução

Na casa de Altamir Senna Oliveira Junior, o Mizinho, as equipes encontraram R$ 31.800 em dinheiro vivo. Ele está entre os presos nesta operação.
A investigação foi conduzida pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-RJ, a partir da identificação do responsável por confeccionar as cartelas para bingos ilegais explorados por organizações criminosas no Rio, entre os quais um bingo descoberto em Copacabana, Zona Sul do Rio. Para viabilizar, potencializar e assegurar vantagens financeiras, as organizações utilizam de diferentes modos de fraudar os resultados dos jogos, corrompem policiais militares e usam violência para a conquista de território.
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Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Especializada em Crime Organizado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A investigação foi aberta após notícia crime sobre bingo clandestino que funcionaria em Copacabana com a permissão de policiais militares.
O Gaeco identificou, ainda, a prática de corrupção sistêmica de batalhões da Polícia Militar, sendo alvos de busca e apreensão quatro oficiais da corporação.
O coronel Figueredo foi destituído do cargo de secretário da PM em agosto do ano passado. Como a decisão foi tomada pelo governador Cláudio Castro num domingo, especulou-se na época que o Palácio Guanabara tomara conhecimento de que o oficial da PM já era alvo de investigação.
Em nota, o Governo do Estado "informa que a troca de comando na Secretaria de Polícia Militar, em agosto de 2021 – portanto, há um ano e três meses antes da operação realizada hoje pelo Ministério Público Estadual – faz parte de uma rotina administrativa. A substituição foi feita assim como em outras secretarias e essas trocas fazem parte da gestão".

MP do Rio cumpre 26 mandados de prisão e 57 de busca e apreensão durante a Operação Fim da Linha
MP do Rio cumpre 26 mandados de prisão e 57 de busca e apreensão durante a Operação Fim da Linha Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Os 23 denunciados na operação Fim de Linha foram divididos em três núcleos: o “Bingo Cascadura”, quadrilha liderada por Marcelo Simões Mesqueu, o Marcelo Cupim; o “Bingo Olímpico”, liderado por Bernardo Bello; e o "Bingo Saens Pena". De acordo com o Gaeco, essas organizações, para manter a exploração de jogos de azar, usam de diferentes modos de fraudar os resultados dos jogos, corrompem policiais civis e militares, ocultam e dissimulam a natureza, origem, localização e movimentação de propriedades ou valores, e ainda se valem de violência, inclusive assassinando pessoas, sempre que preciso.
O marco inicial da investigação foi um relatório, produzido pelo Setor de Análise de Dados do Gaeco, a respeito da atuação de Talles Xavier como o responsável pela gráfica que confeccionaria as cartelas para bingos ilegais explorados por organizações criminosas no Rio. A análise da caixa de e-mails de Talles permitiu concluir que ele, além de confeccionar as cartelas utilizadas em bingos espalhados pelo Estado , atua como intermediário entre os contraventores e outros integrantes que compõem o núcleo gráfico das organizações.
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Os acusados de integrarem o esquema, que foram denunciados nesta operação, estão divididos da seguinte forma:
Núcleo Olímpico: Bernardo Bello Pimentel Barbosa (vulgo Play, Garoto, Bernar ou Bernardo); Marco Antonio Figueiredo Martins (Marquinho ou Marquinho Catiri, em denúncia oferecida antes do seu homicídio); Paulo Roberto Alves Matos (Paulinho ou Coro); Altamir Senna Oliveira Junior (“Mizinho); Mauricio Boechat Zwirman (Patrã); Fabio Dias Ferreira Coelho (Fabio Passarinho ou Fabio); Claudio Braga Elias Jorge (Kaka); Thiago Peixoto Valença; Karla Adriana Brandão de Lima (Karlona); Carla de Paiva Sousa (Carlinha); Roberto Oliveira de Faria Junior (Betinho) e Talles Xavier.
Núcleo Cascadura: Marcelo Simões Mesqueu (conhecido também como Cupim ou Inseto); Adriano Maciel De Souza (Chuca); Carlos Roberto Nassar Junior (Barba,Junior” ou Nassar); Rui Pedro Maia Ventura Fragoso (Fragoso ou Pedro); José Carlos de Jesus Ennes (Carlinhos ou Carlinhos Cascadura); Alexandre Ribeiro da Silva (PM, conhecido como Ribeiro); Marco Aurélio da Costa Scalercio (também PM, Marquinho ou Scalercio); Rodrigo Cardoso da Silva Alves (PM, vulgo Cardoso); Denildes Abreu Palhano; Alan Pagio Catrinck Dalbó; e David Oliveira de Assis.
Núcleo Saens Pena: Marcos Costa Guimarães (Marcão); Julio Cesar Blaso da Costa (Julinho); Ruy de Oliveira Filho; Flavio Teixeira Oliveira (Flavinho); Alexandre Cavalcante Ferreira; Leonardo Lopes Daiha (Leo); Marcio Leite de Castro; Danubia Cristina Rodrigues de Melo; Gustavo Leonardo da Silva Figueiredo; Sergio da Costa Alvaro (Sergio Pastor); Talles Xavier; Julio Cesar Moraes dos Santos; e Alan Pagio Catrinck Dalbó.
Em janeiro, Bernardo Bello foi surpreendido e preso no aeroporto de Bogotá, na Colômbia, enquanto supostamente seguia uma rota de fuga. Acusado de ordenar a morte do rival Alcebíades Garcia, o Bid, na disputa de pontos de caça-níqueis e jogo do bicho, ele acabou libertado e retornou ao Brasil por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
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Investigações concluíram que a morte de Bid foi motivada por disputa com Bello pelo controle dos pontos da contravenção na Zona Sul do Rio. Inconformado com o domínio de Bello sobre os pontos da contravenção na Zona Sul do Rio, Bid teria ameaçado retomá-los.
Já Marcelo Cupim teria arrendado de José Caruzzo Escafura, o Piruinha, as operações do jogo do bicho em parte da Zona Norte do Rio. Em 2016, chegou a ser condenado a quatro anos e seis meses de prisão pela Justiça Federal. Ele é acusado de chefiar quadrilha que explora caça-níqueis em Campos dos Goytacazes, no norte do estado.
O contraventor Bernardo Bello é acusado de ser mentor intelectual da morte de Bid, em fevereiro de 2020, quando voltava da Marquês de Sapucaí. A motivação seria o controle dos negócios ilegais da família Garcia, relacionados a pontos de jogo do bicho e exploração de caça-níqueis.
Bid era irmão de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, ex-sogro de Bernardo, também assassinado, em 28 de setembro de 2004, na Freguesia. Bello foi casado com uma das filhas de Maninho, Tamara Garcia. A morte de Bid aconteceu em meio à disputa por influência.
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As investigações da Polícia Civil e do Ministério Público, que levaram à prisão de Bello em janeiro deste ano na Colômbia, revelam ainda uma íntima relação de Bello com o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020 durante uma operação policial na Bahia. Adriano chefiava o grupo de matadores de aluguel Escritório do Crime e foi acusado de integrar uma milícia no Rio.
O início da conturbada relação entre os dois remonta ao ano de 2006, quando o oficial passou a trabalhar como segurança de José José Luís de Barros Lopes, o Zé Personal, então marido de Shanna Garcia, irmã de Tamara. Em 2008, quando Adriano era investigado por uma série de homicídios a mando do chefe, Bello afirmou, num depoimento à polícia, que sua vida estava em risco por conta de um desentendimento entre Zé Personal e o restante da família de Maninho. Dois anos mais tarde, Bello foi à 16ª DP (Barra da Tijuca) para denunciar um suposto plano de Adriano para matá-lo.
Em 2016 e 2017, período em que o contraventor já integrava a diretoria da Vila Isabel, agremiação que presidiu entre 2017 e 2018, Adriano recebeu credenciais da Liga Independente das Escolas de Samba para desfilar como diretor da escola. Os documentos foram apreendidos numa das ações do Ministério Público para prendê-lo.
Família de Bid: outros crimes
Maninho, irmão de Bid, foi morto em 28 de setembro de 2004, quando deixava uma academia de ginástica na Freguesia, em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Em janeiro de 2008, Bid procurou a Polícia Civil para relatar que sua sobrinha, Shanna Harrouche Garcia — filha de Maninho —, havia invadido sua fazenda, localizada na Estrada Rio-Friburgo, em meio a uma briga familiar que disputa o espólio de seu pai e avô de Shanna, Waldomiro Paes Garcia, o Miro.
De acordo com o relato, Shanna esteve na fazenda com um “capataz”, ordenou que ele expulsasse todos os empregados da propriedade, retirou gado do local e deixou homens armados no local. Ela também teria trocado os cadeados do imóvel.
Em 8 de novembro de 2019, Shanna foi baleada num shopping no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Na ocasião, ela foi atingida por dois disparos e teve lesões graves. Logo após o crime, Shanna acusou o ex-cunhado, Bernardo Bello.

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