Moro é eleito ao Senado e ganha sobrevida política – DW (Brasil)
Após cortejar bolsonaristas e apostar em discurso antipetista, ex-juiz da Lava Jato conquista "prêmio de consolação": uma vaga ao Senado pelo Paraná. Moro obteve mais de 30% dos votos, derrotando ex-aliado Alvaro Dias.
O ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) interrompeu a série de revezes que vinha acumulando desde que entrou oficialmente para a política. Neste domingo (02/10), ele conquistou seu “prêmio de consolação” após fracassar em se lançar à Presidência: uma vaga ao Senado pelo Paraná, seu estado natal.
Obtendo mais de 33% dos votos válidos, com 96% das urnas apuradas, Moro ficou à frente do senador e ex-aliado Alvaro Dias (Podemos), que tentava conquistar um quarto mandato consecutivo. Com cerca de 23 % dos votos, Alvaro amargou um terceiro lugar na disputa, ficando atrás ainda do bolsonarista Paulo Eduardo Martins (PL), que recebeu mais de 29% e era apoiado pelo presidente.
Além de Moro, outra antiga estrela da Lava Jato foi eleita no estado: o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos), que aparecia como o candidato a deputado federal mais votado no Paraná, com 96% das urnas apuradas.
Depois de tentar apresentar sem sucesso uma candidatura à Presidência e tentar disputar o Senado por São Paulo, Moro se viu obrigado em junho a voltar ao Paraná.
Sem a mesma popularidade dos tempos de Lava Jato, ele enfrentou uma campanha que inicialmente se desenhou difícil, indicando que até mesmo no estado que abrigava a “República de Curitiba” a sua aprovação não era mais a mesma.
Em boa parte da campanha, ele se viu em desvantagem nas pesquisas, nas quais sempre apareceu atrás de Alvaro.
Moro reagiu liderando uma estratégia atípica para os padrões de disputas ao Senado no Paraná, recheada de ataques ao ex-presidente Lula e focando em temas nacionais e agenda de costumes, deixando temas estaduais em segundo plano. Moro ainda lançou ataques baixos ao conservador Alvaro Dias, que havia sido seu primeiro padrinho político, chegando a associar falsamente o senador à “esquerda” e até ao MST.
Além de tentar conquistar o eleitorado paranaense, Moro se dividiu em apoiar a campanha da sua mulher, Rosângela, que disputou uma vaga na Câmara pelo estado vizinho de São Paulo, provocando críticas de políticos paranaenses rivais.
Conforme a eleição se aproximou, Moro passou a cortejar mais insistentemente o eleitorado bolsonarista, deixando de lado que ele havia rompido de maneira estrondosa com o presidente em 2020. Bolsonaro tinha um candidato na disputa: Paulo Martins, que nos debates locais chamou Moro de “traidor”.
O ex-juiz também foi alvo de uma campanha de “voto útil” de setores de esquerda no Paraná, que passaram a defender a contragosto que os eleitores apoiassem Alvaro como forma de derrotar o ex-juiz. Seus adversários também apelaram para sentimentos locais, lembrando que Moro só se candidatou no Paraná após fracassar em sua tentativa de disputar uma vaga em São Paulo.
“Moro quis tentar ser político. E sabe onde ele foi tentar se candidatar? São Paulo. Porque ele achou que o Paraná não era suficiente para ele”, disse a presidente nacional do PT, a deputada curitibana Gleisi Hoffmann, em um comício em setembro.
Sem laços com as elites políticas do Paraná, Moro ainda viu diversos prefeitos de cidades importantes do estado declararem apoio à reeleição do seu rival.
Para tentar reverter esse quadro, ele chegou a aparecer de surpresa em eventos do governador Ratinho Jr. (PSD), tentando surfar na popularidade do chefe do Executivo paranaense, embora o governador apoiasse o candidato Paulo Martins.
Mas, como mostram os resultados deste domingo, a estratégia de Moro funcionou.
Em novembro de 2021, quando ensaiou o lançamento da sua pré-candidatura à Presidência, Sergio Moro foi saudado por aliados e alguns setores da imprensa brasileira ainda nostálgicos dos anos bombásticos da Lava Jato como uma figura que poderia romper com a “polarização” entre o social-democrata Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro.
No auge da operação Lava Jato, o então juiz chegou a atingir níveis de aprovação nacional superiores a 60%. Em seu primeiro ano como ministro da Justiça, sua popularidade ultrapassava a do próprio presidente Bolsonaro.
No entanto, pouco menos de um ano depois do anúncio da sua pré-candidatura à Presidência, Moro viu sua ambição de chegar ao Planalto naufragar sem nunca ter deslanchado nas pesquisas.
Moro também havia sofrido outros revezes nos últimos três anos, como as revelações da “Vaza Jato”, a saída tumultuada do governo Bolsonaro, a anulação de casos da operação e o reconhecimento da suspeição do ex-juiz para julgar Lula.
Após ver sua pré-candidatura à Presidência ser limada e acabar barrado de disputar cargos eletivos em São Paulo por irregularidades na transferência do seu domicílio eleitoral, o ex-juiz, que se notabilizou por ordenar operações estrondosas contra investigados da Lava Jato, também acabou se tornando no início de setembro de uma ordem de busca e apreensão no Paraná. Na ocasião, foi a vez de membros da Justiça Eleitoral baterem na porta do apartamento de Moro em Curitiba pela manhã, após uma denúncia de irregularidades na confecção de santinhos de campanha.
As dificuldades de Moro persistentes de Moro acabaram levando o ex-juiz a redobrar uma estratégia que começou a ser desenhada ainda no final do primeiro semestre: apostar em ataques a Lula e ao PT e se reaproximar de Jair Bolsonaro para tentar conquistar uma fatia do eleitorado bolsonarista do Paraná.
No primeiro semestre de 2022, Moro chegou a traçar equivalências entre o presidente e políticos do PT, classificando ambos como “extremos” e afirmando que a eleição de Lula ou Bolsonaro seria “suicídio”. No entanto, a partir de maio, quando viu sepultados seus planos de se lançar à Presidência, o ex-juiz cessou completamente qualquer menção negativa a Bolsonaro nas redes sociais.
A tendência continuou quando Moro viu frustrada sua intenção de concorrer ao Senado por São Paulo, sendo obrigado a se contentar em disputar a vaga pelo Paraná, estado cuja maioria do eleitorado pendeu para Bolsonaro na disputa presidencial de 2018.
No entanto, o silêncio sobre Bolsonaro logo evoluiu para uma tentativa de reaproximação com o presidente. Em junho, Moro minimizou as acusações que havia feito contra o presidente em uma entrevista, afirmando que jamais disse que o mandatário “havia cometido crime”.
Na segunda quinzena de agosto, quando pesquisas indicaram dificuldades no Paraná, Moro passou a ser mais explícito na sua forma de cortejar o voto bolsonarista. “Jamais estarei ao lado do PT e de Lula, você pode escrever na pedra. Em relação ao Bolsonaro, uma coisa eu posso te dizer: Nós temos o mesmo adversário”, disse Moro.
No mesmo mês, a campanha de Moro procurou o ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, para pedir que ele gravasse um vídeo de apoio à campanha do ex-juiz, mas não obteve sucesso.
Os gestos de Moro tampouco não sensibilizaram o clã Bolsonaro. Em junho, o deputado Eduardo Bolsonaro chamou o ex-juiz de “pato” e criticou o fato de Moro continuar com sua pregação contra a corrupção após ter se filiado ao União Brasil, partido que tem figuras que já protagonizaram escândalos. O clã também reforçou que já tinha candidato ao Senado no Paraná: o deputado bolsonarista Paulo Eduardo Martins (PL).
Além da reaproximação com o bolsonarismo, Moro transformou suas redes sociais em uma vitrine de ataques a Lula e ao PT e de nostalgia pela Lava Jato. Sobraram referências a desvios na Petrobras, o triplex atribuído a Lula e o escândalo do Mensalão.
No dia da entrevista de Lula ao Jornal Nacional, em 25 de agosto, Moro publicou um total de nove tuítes com ataques ao presidenciável do PT. “Lula diz que vai para a Presidência no sacrifício. Preferia ficar em casa. No triplex ou no sítio de Atibaia?”, dizia uma das mensagens.
Após a operação de busca e apreensão dos santinhos, Moro também redobrou os ataques ao PT, já que a acusação de confecção irregular foi apresentada pela coligação “Brasil da Esperança”, formada por PT, PC do B e Partido Verde. “Hoje a velha política tentou mais uma vez me intimidar. Advogados do PT conseguiram uma diligência para realizar uma busca e apreensão lá na minha casa”, disse Moro, evitando mencionar que ele havia indicado sua própria residência como local do comitê de campanha.