Moro quer 'liderar oposição', mas seu partido caminha para a base de Lula – UOL Confere
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em países como Timor Leste e Angola e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). Diretor da ONG Repórter Brasil, foi conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão (2014-2020) e comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos (2018-2019). É autor de “Pequenos Contos Para Começar o Dia” (2012), “O que Aprendi Sendo Xingado na Internet” (2016), ?Escravidão Contemporânea? (2020), entre outros livros.
Colunista do UOL
03/12/2022 12h15
Diante do avanço das negociações para que o União Brasil faça parte da base do governo Lula no Congresso Nacional e, consequentemente, ocupe espaço na Esplanada dos Ministérios, um comentário tem sido feito entre parlamentares petistas, ora em tom de curiosidade, ora em tom de sarcasmo: “E o Moro? Vamos chamar de companheiro?”
O senador eleito pelo Paraná, que mandou Lula para a cadeia por 580 dias quando juiz federal da operação Lava Jato, já disse que se manterá como antagonista do petista. “É natural que eu me coloque na oposição para liderar uma resistência necessária a políticas públicas indesejáveis em relação ao país”, afirmou, sem humildade, à Folha de S.Paulo durante a campanha eleitoral.
Representantes do União Brasil, sigla que nasceu da fusão do PSL com o DEM, como o senador Davi Alcolumbre (UB-AP) e o deputado federal Elmar Nascimento (UB-BA), vêm dialogando com emissários de Lula. O partido, que terá a terceira maior bancada na Câmara, em 2023, com 59 deputados, pode ficar com dois ministérios e manter sua influência sobre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
Em entrevista que nos concedeu no UOL, nesta quinta (1), o presidente do partido, Luciano Bivar, não quis antecipar o que acontecerá com Sergio Moro. Reconheceu que o ex-juiz tem as suas bandeiras e que seria um contrassenso ir contra elas. Mas também que ser do contra por ser do contra é “insensatez, como político ou como ser humano”.
Defendeu que a situação terá que ser discutida caso a caso e adiantou que o partido fechará questão sobre temas que considerar decisivos.
“Aqueles que votarem sempre contrariando o partido sabem que perdem alguns espaços dentro do partido. Não é questão de retaliação, mas de não inclusão em espaços quando não podemos contar com este ou aquele parlamentar”, disse Bivar.
O presidente do União Brasil esteve com Moro há 15 dias e disse que ele se mostrou consciente de tudo.
O senador eleito teria liberdade para manter o tom crítico, até porque não seria o único com esse perfil na agremiação Mas, como disse Bivar, todos os parlamentares precisam votar em assuntos importantes ao partido. A questão é quando esses assuntos também forem importantes para Lula.
Caso se confirme a entrada do partido na base do petista, as apostas é que ele e sua esposa, a deputada federal eleita Rosângela Moro (UB-SP), busquem se abrigar em outra legenda.
Isso seria o fim melancólico de uma passagem conturbada pelo União Brasil. Em 10 de novembro do ano passado, ele se filiou com pompa ao Podemos. Depois de mais de quatro meses de pré-campanha pelo partido, migrou para o União, em 31 de março, transferindo também seu domicílio eleitoral para São Paulo. O movimento deixou muita gente no Podemos sentindo-se usada.
A nova agremiação não garantiu a Moro legenda para concorrer à Presidência e nem ao governo do Estado. Sobraria a possibilidade de disputar uma vaga à Câmara dos Deputados, se a Justiça não tivesse considerado que a transferência de domicílio eleitoral foi irregular. Diante disso, voltou para o Paraná, mas deixou sua esposa concorrendo por São Paulo.
Uma nova mudança de partido, contudo, não vai reduzir o isolamento do ex-juiz e ex-ministro, que carrega a antipatia de parlamentares no campo lulista, no centrão e entre parte dos bolsonaristas, mesmo com sua reconversão nas eleições.
O atual presidente ganhou, em 2018, graças ao então juiz federal da operação Lava Jato, que tirou Lula, o favorito nas pesquisas na época, do páreo ao mandá-lo para a cadeia. Depois disso, Moro foi escolhido como ministro da Justiça e Segurança Pública, o que lhe rendeu críticas.
A condenação acabou extinta pelo Supremo Tribunal Federal que verificou a existência de falhas graves no processo. E Moro foi declarado parcial no julgamento do petista.
Em abril de 2020, ele deixou o governo acusando Jair Bolsonaro de corrupção e de interferência na Polícia Federal para proteger a si mesmo, sua família e amigos. Desde então, foi chamado pelo presidente de “mentiroso deslavado”, “sem caráter”, “palhaço” e “idiota”.
Mesmo assim, tornou-se cabo eleitoral de Bolsonaro, o que o ajudou a desbancar seu antigo padrinho, Álvaro Dias, e ser eleito ao Senado. Depois, já no segundo turno, apareceu como assessor do presidente no debate realizado pelo UOL, Folha, Band e Cultura. O comportamento provocou críticas até de procuradores da República que participaram da força tarefa da Lava Jato.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Leonardo Sakamoto
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