Mudança na política federal não deve acabar com escolas cívico-militares – Gazeta do Povo
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Com melhorias em metas de redução na evasão escolar, combate à violência e crescimento no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em mais de 73% das escolas de Ensino Fundamental e em quase 50% nas de Ensino Médio, o Paraná é um dos estados que deve continuar investindo no modelo de escolas cívico-militares no Brasil. Desde sua implementação, 207 instituições do estado aderiram ao modelo. O objetivo é ampliar o projeto, mesmo que o governo federal desestimule essa ação a partir de 2023.
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A possibilidade de encerramento do programa tem sido apresentada por integrantes do governo Lula por meio de declarações como a da coordenadora de Educação do Partido dos Trabalhadores (PT), Teresa Leitão. Ela, que participa da alta cúpula do partido para definir diretrizes do plano de governo petista, já afirmou que “o projeto das escolas cívico-militares fracassou” e que o PT não irá bancá-lo, já que parte dos recursos é proveniente do governo federal.
No entanto, o resultado apresentado pelas instituições do Paraná e de outros estados do Brasil – como Goiás – mostram uma realidade bem diferente da divulgada pela coordenadora petista. “Observamos em todas as escolas um grande avanço na participação das famílias, no processo, na presença dos estudantes em sala de aula, no sentimento de pertencimento à instituição e na educação como um todo”, afirma a responsável pelos Colégios Cívico-Militares da Secretaria da Educação paranaense (Seed), Adriana Kampa.
“Mesmo com as dificuldades envolvendo a pandemia de Covid-19, conseguimos crescimento no Ideb em 73% das escolas, pontuando pela primeira vez em diversas instituições que nunca sequer tinham participado do índice”, complementa a educadora.
E o resultado surpreende ainda mais, de acordo com ela, porque só ingressaram no programa instituições de ensino com problemas educacionais graves, já que os critérios para seleção são baixo resultado no Ideb e situação de vulnerabilidade socioeconômica.
“Ou seja, são escolas com dificuldade pedagógica, que apresentam altas taxas de evasão escolar e participação mínima da comunidade”, explica Adriana, citando exemplo de instituições que não atingiam nem 20% de presença dos pais e responsáveis em reuniões trimestrais e que hoje contam com a participação de mais de 70%. “Algumas, inclusive, obtendo a presença de todos os pais”, comemora.
Além disso, cerca de 60% das escolas cívico-militares do estado que pontuaram no Ideb do Ensino Fundamental e Médio atingiram a nota média do estado ou superaram esse resultado — que já é considerado alto e fez com que que o Paraná assumisse a liderança nacional no índice do Ensino Médio e ocupasse o quarto lugar do país no Ensino Fundamental.
Outro fator significativo é que quase 30% das escolas que aderiram ao modelo cívico-militar obtiveram média igual ou superior à meta estipulada para o país no Ensino Fundamental (5,5 pontos) e 10 delas conquistaram notas superiores a 6,0 — valor que corresponde a um sistema educacional de qualidade comparável ao dos países desenvolvidos. As instituições que obtiveram esse padrão ficam nos municípios de Jandaia do Sul, Mandirituba, Rio Negro, Cornélio Procópio, Foz do Iguaçu, Ampére, Ubiratã, Paiçandu, Palmeira e Jaguariaíva.
Segundo a Seed, os resultados foram surpreendentes até nas escolas que não atingiram a meta nacional, pois a maioria apresentava índices baixos e conseguiu aumentar seus resultados em mais de 1 ponto percentual. “No nosso caso, por exemplo, deixamos as últimas colocações para subir nosso Ideb do ensino fundamental de 3,1 para 5,3 e ainda pontuar pela primeira vez no ensino médio”, comemora o educador José Carlos Koehler.
Diretor do Colégio Estadual Cívico-Militar Etelvina Cordeiro Ribas, em Curitiba, ele assumiu a direção da escola em 2021, assim que 93% da comunidade optou pelo novo modelo de ensino. “Era uma escola vandalizada, com muitas situações de bullying, depredações, pichações e péssimos índices educacionais”, relata o professor, que encabeçou o projeto de mudança pautado em valores.
“Demos um choque de realidade nos alunos e na comunidade para que soubessem que a escola era outra, principalmente em relação à segurança”, conta. Para isso, câmeras foram instaladas na instituição e cinco militares passaram a frequentar o ambiente a fim de organizar a entrada e saída dos alunos, ligar para os pais quando seus filhos faltavam às aulas e participar da gestão escolar.
“A frequência dos estudantes aumentou, eles passaram a se comprometer com o ensino e com o cuidado pelo patrimônio, e isso fez com que ficássemos entre as escolas de destaque do estado com bons resultados educacionais e fila de espera para matrículas”, comemora o diretor, ao contar que viu a quantidade de alunos subir de 600 para 930 estudantes. “Inclusive, com grande número de meninas, o que antes não ocorria porque os pais tinham medo”.
E a redução na violência dentro e fora da escola também foi percebida por outras instituições como o Colégio Cívico-Militar Professor Colares, de Ponta Grossa. Localizado no bairro Oficinas, ele era conhecido pelas brigas frequentes entre estudantes, desrespeito aos professores e tráfico de drogas. “Tanto que tínhamos apenas 248 estudantes e hoje, como escola cívico-militar, estamos com 802 alunos”, relata o diretor Douglas Grzebieluka.
Segundo ele, o modelo do Ministério da Educação (MEC) foi implantado na instituição em setembro de 2020 com metas relacionadas ao rendimento escolar, melhoria do ambiente do colégio e valorização dos profissionais e estudantes por meio da ética, do respeito e da honestidade. “A partir disso, professores, pedagogos e militares se empenharam na proposta e os resultados vieram com aumento na frequência escolar, crescimento no Ideb e um ambiente muito melhor”.
Além disso, a última pesquisa realizada pela gestão com estudantes e pais mostrou aceitação do modelo cívico-militar por 97,5% dos entrevistados e o colégio chegou a ser destaque entre as escolas que seguem o modelo do MEC. “Ou seja, nossos índices mostram a melhoria que toda a comunidade escolar teve nesses dois anos”, aponta.
Ao todo, 195 escolas do Paraná seguem a proposta estadual do modelo cívico-militar, com a presença de militares da reserva do estado, enquanto 12 instituições — como o Colégio Cívico-Militar Professor Colares — integram o modelo proposto pelo governo federal com atuação de profissionais das Forças Armadas. No entanto, os gestores entrevistados pela Gazeta do Povo afirmam que o trabalho dos profissionais é o mesmo, assim como os resultados.
De acordo com o Ministério da Educação, em evento realizado no início deste mês para avaliar o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, uma pesquisa realizada com cerca de 25 mil estudantes, pais e professores que integram esses colégios constatou redução na evasão e no abandono escolar em quase 80%, diminuição da violência física em 82%, da violência verbal em 75% e da depredação patrimonial em 82%.
Segundo informa o portal do Governo Federal, há uma aprovação de 85% da comunidade escolar ao modelo de ensino cívico-militar nos 202 colégios geridos pelo MEC.
Ao todo, essas escolas contam com a participação de 1,5 mil militares atuando como suporte à gestão escolar, que é realizada pelos profissionais de educação. Os militares recebem treinamento específico e trabalham como monitores na organização da entrada e saída dos alunos, controle de faltas, auxílio disciplinar e aulas de civismo.
Com isso, diversos estados também perceberam mudança no ambiente escolar e na qualidade do ensino, com destaque para Goiás, que saltou do 16º lugar no Ideb Nacional do Ensino Médio para a 2ª posição do país por meio de estratégias educacionais como a implantação do modelo cívico-militar.
Novo secretário da educação de São Paulo e ex-secretário do Paraná, Renato Feder é um entusiasta do programa. “As escolas cívico-militares têm a intenção de melhorar a disciplina das escolas, o respeito aos colegas e aos profissionais da educação, o que está sendo atingido”, afirmou em entrevista à Gazeta do Povo.
No Paraná, ele diz ter percebido o quanto a presença dos militares nas escolas fez com que os alunos fossem mais pontuais, responsáveis e respeitosos, inclusive levantando para cumprimentar o professor. “Os pais estão satisfeitos e eu estou satisfeito com o projeto”, afirmou.
No entanto, parte dos integrantes do grupo de transição do governo do PT defende que os militares não devem fazer parte do processo pedagógico e que o modelo não continue no país, posição que preocupa quem vê as mudanças positivas no dia a dia das instituições de ensino.
“Não é raro lermos depoimentos de certos deputados falando sobre ‘militarização’ das escolas, ou ‘lugar de militar é no quartel’. Essa visão é muito rasa e denigre a imagem de algo que, provavelmente, não conhecem na prática”, afirma o educador Sandro Francisco Mira Junior, diretor geral do Colégio Estadual Cívico-Militar Beatriz Faria Ansay, uma das escolas de destaque do MEC.
Segundo ele, “não existe extremismo nem ideologias nas escolas cívico-militares e, ao contrário do que falam, há respeito pelas diferenças e pluralidades de toda a comunidade”, garante o gestor, citando ainda que o modelo “só trouxe benefícios e que é muito triste perceber que, mesmo após três anos de sucesso, ainda há visões distorcidas”.
Para a professora Silvane Santos, o que falta é dar oportunidade para conhecer profundamente o programa. “Eu, por exemplo, não me sentia preparada para algo tão diferente e resolvi sair da escola porque não concordava com o novo modelo”, relata a educadora com 27 anos de profissão, que trabalhou no Colégio Beatriz Faria Ansay entre 2011 e 2021.
Ela decidiu sair do colégio assim que ele aderiu ao modelo cívico-militar, mas seguiu acompanhando as mudanças, de longe, por meio de relatos de pais e alunos. “Acabei mudando de ideia porque a comunidade só fazia elogios, e voltei a lecionar aqui em 2022”, conta a profissional, que percebeu pessoalmente a diferença nas turmas. “O professor consegue dar sua aula sem a necessidade de parar o tempo todo por causa da indisciplina e se tornou comum ver os estudantes disputarem quem vai tirar a nota mais alta”.
Além disso, ela conta que atos de vandalismo, que antes eram frequentes, acabaram, ao mesmo tempo em que os alunos passaram a se alimentar de forma organizada no refeitório e a devolver os pratos e talheres no lugar certo. “Sem contar que agora existe mais respeito e um pensa no bem do outro”, completa o estudante Diego Santana Ribeiro, ao relatar um fato que o marcou recentemente: “alguns alunos acharam um celular e divulgaram na frente de todo o colégio para que o dono pudesse buscá-lo”, conta. “Algo que eu não veria antes”.
É por resultados assim que educadores como Mira Junior esperam uma visão diferente do novo governo federal em relação ao programa. “Que analisem os resultados pedagógicos e a transformação trazida para a comunidade”, diz. “Costumo dizer que o que estou vivendo nestes anos de projeto é uma utopia da educação, onde tudo que sonhei e desejei enquanto gestor vem se tornando realidade”, garante.
Ainda que as ações do novo governo federal em relação às escolas cívico-militares não estejam oficializadas, a responsável pelo programa na Secretaria da Educação paranaense, Adriana Kampa, afirma que o estado seguirá com o modelo nas 195 escolas regidas pela secretaria. Além disso, tentará gerenciar as outras 12 instituições de ensino que seguem o padrão do MEC, caso o governo federal decida encerrar o programa.
“O estado já sinalizou com a certeza do governador que vamos assumir essas escolas. A gente só não sabe ainda como será feito”, adianta Adriana, para quem os resultados são muito positivos e não podem ser negligenciados. “Portanto, nossa expectativa é ampliar ainda mais o programa”, promete.
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