Na Garagem: Villeneuve leva pole da F1 em Jerez após empate com Schumacher e Frentzen – Notícia de Fórmula 1 – Grande Prêmio

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A Fórmula 1 calcula tempos de volta em precisas e abrangentes seis casas decimais. Minutos, segundos, décimos, centésimos e milésimos estão contemplados nos olhares dos relógios que registram oficialmente quem fez o quê, com qual velocidade e de que forma. Tamanha precisão é criada também para que as definições não deixem margem ou dependam demais dos olhos humanos, frágeis trechos mortais que não podem acompanhar de maneira apropriada a velocidade sobrehumana dos bólidos da categoria. Mas nem mesmo a precisão de todos os relógios da Fórmula 1 foi capaz de evitar o que aconteceu há exatos 25 anos, no dia 25 de outubro de 1997, em Jerez de la Frontera. Essa é a história de uma pole-position de Jacques Villeneuve, mas também é muito mais.
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O campeonato daquele ano oferecia uma briga das mais interessantes dos anos 1990. Após 16 das 17 etapas do campeonato, Michael Schumacher liderava o Mundial com 78 pontos contra 77 de Villeneuve. O alemão, na briga pelo tri, vencera cinco corridas contra seis de Jacques, o segundo da linhagem Villeneuve nas pistas da Fórmula 1. Era um duelo: os dois um contra o outro e o restante do mundo.
A situação dos postulantes ao título também era a mais dispare possível. Schumacher já era campeão e visto como o piloto mais brilhante da geração daquela década. No segundo ano pela Ferrari, tentava comemorar o primeiro caneco na nova equipe e tirar o jejum ferrarista que já durava desde o fim dos anos 1970.
Um dos grandes nomes da Ferrari no período de seca fora Villeneuve, Gilles. O pai de Jacques tinha as graças e o carinho da equipe, mas morreu tragicamente no começo de um campeonato que tinha condições de ganhar, o de 1982, com um ótimo carro da Ferrari. Jacques era um jovem forasteiro na F1. Tinha 26 anos e estava somente na segunda temporada na categoria, as duas pela Williams, após brilhar na Indy, onde foi campeão e ainda ganhou as 500 Milhas de Indianápolis, de quebra, em 1995. No primeiro ano de F1, 1996, a história conta que não foi bem. E pode até não ter ido mesmo, mas fez o suficiente para que a Williams, que queria contratar Heinz-Harald Frentzen para 1997, decidisse cortar laços com Damon Hill, o campeão de 1996, no meio da temporada em que viveria a glória maior da carreira. Villeneuve seguiria forte, agora com a possibilidade de ser líder da equipe inglesa.
Ferrari em jejum e Williams atual campeã, maior vencedora dos anos 1990, também estavam em pontos diferentes das respectivas histórias, que se encontravam naquele estranho campeonato. Tão estranho que, entre problemas de confiabilidade e azares dos dois lados, Schumacher e Villeneuve não haviam se encontrado em um só pódio até ali.
O último fim de semana do mês de outubro de 1997 receberia a etapa derradeira daquele combate encardido, onde tudo chegaria ao desfecho. O campeão, então, seria conhecido ali, em Jerez de la Frontera, no GP da Europa.
Os treinos livres não colocaram Williams ou Ferrari nas primeiras posições. Muito diferente, inclusive: Olivier Panis, com a Prost, e David Coulthard, de McLaren, foram os mais rápidos. Mas Villeneuve esteve à frente de Schumacher nas atividades que precederam a definição do grid de largada.
Naquele sábado, 25 de outubro, a classificação se realizava entre as 13h e 14h no horário local. O sistema era outro, bem diferente do atual, onde a tomada de tempos se divide em três fases, com direito a eliminações em cada uma delas. Os 22 pilotos no grid participavam da hora cheia e cada um tinha direito a 12 voltas cronometradas.
Perto do desfecho, Frentzen tinha a pole provisória para a Williams após 14 minutos, mas o companheiro de equipe veio para a última tentativa e engoliu aquele tempo. Villeneuve cravou um voador 1min21s072 e abriu mais de 0s9 de vantagem.
Coulthard também superou a volta de Frentzen, mas não tinha carro para competir com Villeneuve. Quem vinha em seguida veloz perto da merca de metade da classificação era Schumacher. Mais lento nos treinos livres, garantira antes da classificação que nada daquilo importava. Na hora de dar a volta, incrível, o mesmíssimo resultado: 1min21s072. O equilíbrio do campeonato estava registrado ali: um empate nos milésimos.
Como ninguém conseguia melhora a volta, o empate persistia conforme o relógio entrava nos últimos dez minutos. Aí, Frentzen fez o motor Renault da Williams roncar. Após os dois primeiros setores da pista, tinha 0s099 de frente para Villeneuve e se aproximava do que tinha condições de ser a volta da pole. Mas o que viria ao fim era algo que nem mesmo os relógios suíços da TAG Heuer, responsáveis por cronometrar a atividade, podiam deixar crer: 1min21s072. Um empate triplo! O primeiro e único empate triplo para definir uma pole em toda a história da Fórmula 1.
Como tinha alcançado a marca primeiro, Villeneuve ficou com a pole, seguido por Schumacher e Frentezen. Hill era o quarto, com a Arrows, seguido por Mika Häkkinen e Coulthard, ambos de McLaren. Eddie Irvine, na segunda Ferrari; Gerhard Berger, na Benetton; Oliver Panis, na Prost; e Jean Alesi, na outra Benneton, formavam o top-10.
A pole significaria pouco, no fim das contas, porque Michael passou Jacques logo na largada do dia seguinte. Frentzen também deixou o companheiro para trás, mas teve de devolver a posição pouco depois após ordem da Williams. A recuperação de Villeneuve viria somente depois da segunda rodada de pit-stops, quando atacou, finalmente, o alemão. Schumacher, em manobra bastante parecida àquela que aplicou em Hill, na decisão de 1994, jogou o carro na direção da Williams de Villeneuve, que ultrapassava de maneira inapelável. Dessa vez, contudo, levou a pior: ficou na brita e abandonou.
O carro de Villeneuve tinha danos, sobretudo na bateria, mas ainda podia continuar. As McLaren alcançaram no fim: Häkkinen passou e venceu, enquanto Coulthard concluiu a dobradinha, mas Villeneuve ficou posição em terceiro, marcou quatro pontos e confirmou o título mundial de 1997. Semanas mais tarde, a FIA puniu Schumacher e declarou que o bicampeão fora desclassificado do Mundial de 1997 com a definição de que “as ações foram deliberadas, mas não premeditadas”. Desta feita, Frentzen ficava com o vice-campeonato.
O que importa aqui, porém, é o sábado. O empate triplo que nunca fora visto e jamais se repetiu colocou uma coroa no grau de memorável que foi aquele fim de semana. A Fórmula 1 nunca mais correu em Jerez, bem como Villeneuve não voltou a conquistar poles. Mas a história estava ali.

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