No Divã Em Paris: Política e filosofia da consciência – O Jacaré

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Sobre política todo mundo pensa que sabe e que domina, mas esse saber e essa dominação vem muitas vezes arranhada pelo ranço esquerda ou direita, dependendo muito de quem passa o ensinamento. Quem deturpa a realidade da política é a imprensa que encontra nela um “padrinho”, uma fonte de recursos escusos.
A política, enquanto ciência teórica, é o ideal ou a doutrina a partir dos quais o governo deve exercer sua ação. Filosofia política é uma reflexão sobre a pluralidade dos governos com finalidade política. A questão da filosofia política aparece desde Platão até Montesquieu para definir o melhor regime. Depois Rousseau transforma o questionamento ao interrogar quais são os princípios que fundamentam a legitimidade do poder dentro da política.
Na filosofia contemporânea que engloba Habermas, Arendt e Rawls, eles batem o martelo sobre a democracia como um regime aberto, com seus erros, mas sem se fechar no ostracismo como a ditadura, o totalitarismo e o fascismo que sequer admitem investigação, pois eles rasgam, queimam, destroem as provas do mal que cometem.
Um exemplo clássico, o DOPS de São Paulo, localizado no Largo General Osório, cometeu muitas mortes e torturas com aparelhos de sevícia, dor, horror, coisas inimagináveis. No prédio do DOPS vários delegados concorriam pra mostrar quem era o mais violento e sádico contra algemados no pau-de-arara, mas o temível, maldoso e frio era Sergio Paranhos Fleury.
O prédio virou Memorial da Resistência, as celas onde os presos políticos estiveram estão expostas, mas as máquinas de eletrochoques e a cadeira do dragão sumiram. Por isso a democracia é mil vezes melhor que este cheiro de chifre queimado chamado fascismo e que o povo ignora, desconhece.
O esquadrão da morte é uma invenção francesa durante a guerra da Argélia (1954-1962), mas fez parte da realidade brasileira com Fleury, cujo método se espalhou por outras capitais.
Outro exemplo impactante, a vala comum no cemitério Dom Bosco, em Perus, inaugurado em 1971 pelo prefeito Paulo Maluf, recebia na calada da noite os corpos clandestinos de pessoas assassinadas durante as sessões de tortura executadas no Doi-Codi e no Dops.
No Doi-Codi, por exemplo, o maior torturador ídolo do presidente brasileiro era Carlos Alberto Brilhante Ustra que levava crianças para assistirem a mãe ser estuprada, seviciada durante a tortura. O sadismo faz parte de pessoas sem nenhum caráter.
Os torturados eram pessoas sem passado no crime, com histórias de famílias pobres, cujo pai saia para comprar cigarro e nunca mais voltava, de estudantes secundaristas e universitários que defendiam seus direitos e lutavam contra a ditadura militar. O regime fascista, das trevas e sombras, odeia a luz e não permite investigação.
O que é mais assustador, segundo Arendt, é a relação criada pelo poder que exerce o terror, a tirania em diferentes níveis contra o povo, e que ao mesmo tempo não compreende e se alia a ela. Quando a chicotada é dócil, tira o alimento e aumenta tudo em nome do divino, o sangue derramado parece unguento. Freud não explica esta relação doentia.
Quando Arendt define o autoritarismo dentro da política, ela mostra o esqueleto e a alma de quem transcende no terror aplaudido pelos que perderam a noção da razão. Ela fala das organizações, dos movimentos sociais, da polícia e amantes do regime que mata.
A filosofia da consciência mostra caminhos pra sair deste mundo sombrio e opressor. Hoje, se perguntar sobre o passado sombrio e tenebroso da ditadura no Brasil, muita gente, sobretudo bolsonaristas e ‘sertanojos’, ficam zangados por desconhecer a própria história.
É uma alienação, reforça Arendt, que atrofia o pensamento e impede a aprendizagem. O papel da filosofia da consciência e dos professores de história é esclarecer fatos relevantes do passado.
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