O combate à corrupção dá-se (também) a nível individual – Diário de Notícias
O Prémio Tágides, que vai na segunda edição, pretende reconhecer o esforço feito pelas pessoas, pela sociedade civil, e, simultaneamente, promover uma cultura de integridade em Portugal.
De uma lista inicial de 100 nomeados, foram primeiro selecionados 45 e depois escolhidos 19 finalistas dos quais resultaram os cinco vencedores.
© Gerardo Santos / Global Imagens
Há dois anos a reconhecer o trabalho feito em prol do combate à corrupção, o Prémio Tágides – criado em 2021, fruto de um desafio lançado pela Associação All4Integrity, tem o mérito, afirma André Corrêa d”Almeida, presidente da associação, de, pela primeira vez, celebrar o papel individual. “Um dos argumentos habituais é o de que o combate à corrupção pertence às instituições”, reconhece, acrescentando que um dos primeiros impactos deste prémio é o de celebrar aqueles que puxam pela inovação institucional e pelas boas práticas. Por outro lado, refere, há que “obrigar” a sociedade civil a exercitar o pensar para além da nossa envolvente. E a verdade, reconhece, é que as pessoas têm dificuldade em nomear indivíduos que contribuem ativamente para a redução da corrupção. Para além das figuras mediáticas as pessoas não têm mecanismos que lhes permitam ter noção de figuras individuais.
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O prémio é ainda recente – vai apenas na segunda edição – mas já se começa a sentir o seu efeito. A prova é que houve um aumento dos nomeados. Mesmo assim “há que envolver ainda mais a sociedade civil e outros atores no processo de nomeação”, aponta André Corrêa d”Almeida. Principalmente porque há um distanciamento dos cidadãos. A prova, afirma, é que Portugal tem os níveis mais baixos ao nível do voluntariado.
“A sociedade civil é fundamental para estas questões”, afirmou Joana Marques Vidal, referindo-se não só ao combate à corrupção, mas também à promoção de boas práticas e a uma cultura de integridade. Para a magistrada “é do nosso interesse termos cidades e sociedades mais confiáveis”. Já Vicente Valentim lembrou que a corrupção tem efeitos negativos na sociedade e na democracia e que podem reduzir o crescimento económico e aumentar a abstenção. Na mesma linha, Mário Parra da Silva afirmou, algo pesaroso, que a palavra “governar-se” está associada a tudo menos a uma boa prática. E acrescentou que para alterar este cenário temos de começar nas escolas a criar uma nova cultura – de integridade.
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A cerimónia de entrega dos prémios decorreu na passada sexta-feira, no Auditório da Fundação Oriente. De um total de mais de 100 nomeados foram selecionados 45 nomes e destes, 19 finalistas. Um júri de 35 membros (7 por cada categoria) teve a dura tarefa de eleger um vencedor. Entre os membros do júri constam nomes como Mário Parra da Silva, Isabel Horta Correia, Maria Leonor Sopas, Vicente Valentim, Sara do Ó, Vanda de Jesus, José Vera Jardim, Álvaro Santos Pereira, Manuela Ferreira Leite, Maria José Morgado, Alexandra Borges, Joana Marques Vidal, e Isabel Jonet, entre outros.
Na edição deste ano houve duas novidades. Por um lado, foi criada a categoria Iniciativa Local, onde se pretende analisar o trabalho junto dos municípios e que teve Helena Roseta como primeira vencedora. A ex-deputada afirmou que “o que temos de fazer, quando estamos do lado do poder, é sermos transparentes”, porque “se formos transparentes nos procedimentos, o escrutínio pode ser feito pelos cidadãos”.
Outra surpresa foi o facto de a categoria Iniciativa Empresarial, excecionalmente, ter optado por não atribuir qualquer prémio. Como referiu Mário Parra da Silva, o membro do júri dessa categoria, “apesar da elevada consideração por todos os candidatos”, não houve um nome que se tenha destacado. Pelo que optaram por deixar a categoria em branco e esperar por novas nomeações para a edição do próximo ano.
Vencedor da categoria Projeto de Sociedade Civil, Luís Rosa aproveitou para enaltecer a importância do jornalismo, “que tem um papel fundamental na democracia”. Afirmações secundadas pelo também jornalista José António Cerejo, vencedor do Projeto de Investigação e que lamentou que os jornalistas não tenham todos os meios que necessitam para prosseguir com as suas investigações.
Na Iniciativa Jovem, Eduardo Figueiredo aproveitou o palco para mencionar a importância de dar voz (e ouvir) os jovens, dado o impacto que a corrupção (e este prémio) têm nessa camada da população, referindo que a sociedade civil muitas vezes acaba por ser subestimada no seu poder e na sua força. João Cravinho, por seu lado, foi reconhecido pelo seu papel na categoria Iniciativa Política, tendo o ex-ministro afirmado que o mesmo é um “encorajamento para continuar”.
dnot@dn.pt