O futebol como espelho – GAZ

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Antes, durante e depois da decisão da Copa do Mundo ficou evidente, uma vez mais, a incapacidade de seres considerados racionais para administrar emoções e sentimentos
A final entre Argentina e França, disputada no último domingo, 18, serviu para muitas lições, não apenas envolvendo o futebol, mas que resumem o comportamento humano que caracteriza a nossa época. A intransigência, que há muito tempo ultrapassou as redes sociais, extrapola qualquer civilidade. O resultado são discussões agressivas em diversos ambientes, dentro e fora de casa, na família, no trabalho, na fila do supermercado ou no trânsito.
É apenas um jogo de futebol no maior torneio do mundo, mas é inconcebível a quantidade de ofensas proferidas por pessoas revoltadas ao constatar que amigos e conhecidos torceram pelos nossos vizinhos da América do Sul. Parecia um pecado sem perdão, uma ofensa pessoal o fato de a escolha não atender ao gosto de quem agride.
Resido ao lado de um restaurante especializado em parrila, prato típico argentino e administrado por uma família oriunda daquele país. Desde o início da Copa do Mundo, o local serviu de ponto de encontro para onde convergiram simpatizantes da equipe capitaneada por Lionel Messi.
Ali também se concentravam muitos brasileiros que admiram o futebol da seleção que conquistou o tricampeonato mundial. A cada rodada, nos gols argentinos, era uma explosão de alegria e confraternização. O clima era de parceria, de união entre dois povos unidos pela tradição e pela história.
Vivemos o que é considerada a era da comunicação e da liberdade de expressão plena.
Por isso é incompreensível compreender e admitir a radicalização que perpassa as relações sociais. Grupos de WhatsApp, formados por pais de alunos de escolas, por exemplo, se transformam em palco de ofensas e baixarias.
O futebol é um mosaico onde convergem comportamentos humanos sem barreiras. Em um estádio de futebol – e aí se incluem todas as manifestações e ambientes inspirados pelo esporte que é preferência nacional –, a espontaneidade é marca registrada. Lembro-me de ir ao Beira-Rio com meu filho mais novo. Ao passar pelo pórtico de entrada do estádio, ele se voltava com olhar maroto e disparava:
– Pai, agora já posso dizer nome feio, certo?
É nessas ocasiões de grande envolvimento emocional que o futebol mostra as pessoas sem máscaras ou subterfúgios. Antes, durante e depois da decisão da Copa do Mundo ficou evidente, uma vez mais, a incapacidade de seres considerados racionais para administrar emoções e sentimentos.
Soaria ingênuo imaginar unanimidade em torno da seleção tricampeã do mundo. Defendo apenas a liberdade de escolha, opinião e de livre manifestação. O ano novo de 2023 bate à porta. Talvez seja o primeiro ano pós-pandemia onde as ameaças sanitárias permitirão uma vida mais próxima do normal. Quem sabe possamos ser mais civilizados, solidários e humanos?
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