O futuro político de Ciro Gomes após quarta derrota para presidente, segundo especialistas – Diário do Nordeste
Diante do mau resultado nas urnas do pedetista, o Diário do Nordeste ouviu pesquisadores e professores de Ciência Política que apontam as perspectivas para o futuro político de Ciro Gomes
Escrito por Igor Cavalcante, igor.cavalcante@svm.com.br 15:00 – 06 de Outubro de 2022. Atualizado às 00:01 – 07 de Outubro de 2022
Amargando o quarto lugar na disputa pela Presidência da República, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) experimentou, neste ano, um dos piores desempenhos eleitorais. Além do mau desempenho nacional, o pedetista ficou em terceiro lugar no Ceará, onde historicamente acumula bons resultados nas urnas.
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O candidato a presidente também ficou em terceiro lugar até na cidade de Sobral, seu berço político. Ciro ainda viu um aliado, o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), ficar em terceiro lugar na disputa pelo Governo do Ceará – perdendo inclusive em Fortaleza.
Ainda no domingo (2), o pedetista disse que pretende “parar por aqui”, em um indicativo de não disputar novamente eleições. “Se eu não vencer, eu quero ajudar a juventude a pensar coisas sem a suspeição de uma candidatura”, disse ele após votar em Fortaleza.
Diante do mau resultado nas urnas do pedetista, o Diário do Nordeste ouviu pesquisadores e professores de Ciência Política que apontam as perspectivas para o futuro político de Ciro Gomes.
Essas eleições foram desastrosas para Ciro e para o projeto político dele. A situação aqui no Ceará o colocou num distanciamento muito grande de um candidato competitivo. Isso pode ser um problema grave para que ele retome essa busca por cargos eletivos, mas eu também não acredito que um homem como Ciro Gomes, que claramente é chamado para o poder, vá concretizar o discurso de que irá se afastar da política.
Ele é jovem, construiu um projeto de desenvolvimento para o País, então deve continuar, mesmo que seja como uma liderança partidária, se manifestando, opinando, independente de que for o próximo presidente da República.
Acredito que o que falta a ele é espaço em um governo que lhe dê projeção, garanta essa chave para acessar o eleitorado brasileiro. Diferentemente do que dizem, que ele não agrada por causa do temperamento forte e fala sem pensar, se esses fossem critérios definidores do voto, Bolsonaro nunca teria sido eleito. Outras pessoas dizem que é porque ele não consegue se comunicar bem com o eleitor, se isso fosse definidor, Fernando Henrique Cardoso não teria sido eleito e reeleito.
Talvez falte a ele o que Fernando Henrique teve ao se projetar nacionalmente como alguém importante para a reconstrução do País com o Plano Real. Se Ciro tivesse essa condição de diálogo com grupos políticos dessa frente democrática e assumisse um ministério importante, talvez ele teria mais chance de voltar ao jogo político em situação confortável.
As eleições deste ano, praticamente, expressaram a decadência da carreira política do ex-ministro Ciro Gomes. Basta ver a votação que ele teve no Ceará, mais precisamente em Sobral, seu berço político onde ele também perdeu. Ciro também não conseguiu alavancar a candidatura do Roberto Cláudio (PDT) nem dos seus candidatos a deputado estadual e federal, além de ter sido abandonado pelo PDT.
Isso significa que o capital político de Ciro, que sempre foi muito concentrado no Ceará – onde ele já vinha perdendo espaço desde a campanha para a Prefeitura de Fortaleza em 2016 – foi drasticamente reduzido.
Agora, Ciro continua no PDT com vice-presidente do partido; o anúncio do seu apoio no segundo turno à candidatura de Lula foi muito crítico e distante, o que dificulta qualquer ponte de Ciro com um possível Governo Lula e coloca mais incertezas no seu destino: se ele vai assumir um cargo nacional, ou se vai cuidar das deliberações do PDT, por exemplo.
O que se sabe, a partir do resultado eleitoral, é que o ex-governador perdeu peso, força e relevância política.
Não dá para pensar no futuro de Ciro sem considerar a própria história política do Ceará. Aqui, os grupos políticos têm a tradição de se organizarem a partir de um chefe. No caso de Ciro, chamamos de grupo Ferreira Gomes, porque existia essa lógica de organização a partir dos irmãos centralizando decisões, com cada um cumprindo um papel: Ciro cuidava de questões nacionais e Cid das questões domésticas.
A minha hipótese é que o Cid já tinha sinais de esgotamento do ciclo e planejava uma transição mais tranquila para uma nova liderança. Quando Ciro atropela o processo interno do PDT ele acaba produzindo rachas internas dentro do partido.
Ciro sai muito fragilizado da eleição, não só porque não elegeu seu sucessor. Dentro do contexto da lógica de grupos políticos, atribuímos a vitória ou a derrota do candidato muito mais ao seu padrinho do que propriamente ao candidato. Então, a escolha que Ciro fez de se isolar nacionalmente acabou isolando os seus aliados no Ceará.
O PDT vai sofrer esse baque de ter encolhido, de ter produzido um racha interno no Ceará que, obviamente, enfraquece o partido. Já o Ciro sai mais frágil do que entrou nessa disputa eleitoral, considerando o que já foi o grupo Ferreira Gomes. Resta saber se o Cid ainda vai ter força, mas o Ciro sai fragilizado nacionalmente, e, no Ceará, ele já é uma figura secundária.
O principal desafio de Ciro após esse processo eleitoral, que foi extremamente desgastante e consolidou o descolamento dele da sua base original de centro-esquerda, é saber como se reestruturar a partir dessa base mais ideológica e como manter uma liderança estando há tanto tempo sem mandato. Sabemos que o peso de um mandato é importante para irrigar as bases e manter ativo um capital político.
Ciro teve uma perda significativa disso em seu principal reduto com a construção de alianças que não foram favoráveis a ele. Além da derrota eleitoral, ele teve uma derrota política em suas bases.
Agora, ele terá um trabalho de ganhar novamente a credibilidade nos espaços onde ele historicamente militou para tentar se viabilizar ainda como uma liderança política. São dois caminhos para quem sofre ostracismo político, como parece estar acontecendo com ele: ou vira uma reserva intelectual, como é o Fernando Henrique Cardoso no PSDB, que tem uma condição de pensar e estruturar ideias políticas, ou ele tenta retomar, como um político de mandato, seu potencial eleitoral. Não vejo, neste momento, viabilidade para Ciro fazer nem coisa nem outra.
No futuro, provavelmente vai se tornar um político menor, buscando por espaços, e muitas tendo que fazer associações de sobrevivência política que talvez não estivessem dentro dos seus planos originais ou dessa base ideológica que parece ter se esfacelado ao longo desse processo de sucessivas disputas sem sucesso eleitoral.
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