O melhor da nossa política – ISTOÉ
Mentor Muniz Neto, 51, é escritor. Mora em São Paulo com suas filhas Manuela, Olivia e Catarina e escreve crônicas do cotidiano que às vezes parecem realismo fantástico
Mentor Neto
21/10/2022 – 9:30
Falta apenas uma semana para a eleição.
E os dois candidatos estão pau a pau, deixando todo brasileiro na dúvida sobre quem vai nos governar pelos próximos quatro anos: serão os publicitários da campanha do Lula ou os da campanha de Bolsonaro?
Porque tenho assistido as propagandas políticas com afinco, todos os dias e estou convencido que, se não temos boas propostas, ao menos temos ótimas agências de propaganda.
Desde o roteiro até a edição final passando pela iluminação, fotografia, direção de arte, casting e figurinos, são programas impecáveis.
Nos seus programas, Lula está elegante demais.
Aparece sempre em uma sala simples, porém decorada com bom gosto, trajando uma camisa azul e com a barba e o cabelo cuidadosamente aparados.
Um avô querido.
Bolsonaro, então, está irreconhecível.
Para ele, uma camisa sempre branca e um discurso leve, numa voz mansa e sedutora.
Um verdadeiro gentleman.
Nenhum dos dois lembra, nem de longe a imagem que aprendemos a reconhecer, amar ou odiar, mas e daí?
Por acaso quando você compra um sanduíche numa rede de fast food, espera o mesmo que está na foto atrás do caixa? Então pronto.
Propaganda não é sobre realidade. É sobre o máximo potencial possível de um produto.
E nessa campanha, os dois são produtos exuberantes.
Mas a campanha não apresenta apenas os candidatos.
Tem também as cenas externas, que mostram os eleitores do País em declarações de deixar os olhos mareados de tanta emoção.
Gente humilde, muito bem escolhida para tocar o coração.
Em ambos os programas, o importante é captar eleitores chorando.
No programa de Lula, uma senhora chora porque seus filhos se formaram na faculdade.
Já no de Bolsonaro, ele mesmo chora lembrando de quando foi esfaqueado.
Em ambos, todo mundo chora pelos preços dos alimentos.
Lula diz que hoje são altos e eram baixos no seu tempo.
Bolsonaro diz exatamente o oposto.
O mesmo acontece com empregos e educação.
Ou inflação. Ou saúde.
Lula garante que se vier outra pandemia, seu governo será o primeiro a vacinar.
Bolsonaro garante que, no seu governo, o Brasil foi um exemplo de vacinação, reconhecido no mundo todo.
Então, chega a hora de mostrar multidões.
As ruas tomadas de gente, os dois em palanques, liderando gritos de guerra sobre um mar de bandeiras.
Algumas cenas de gente chorando, de novo.
Num momento de singela sinceridade, Lula admite que a corrupção é um problema no Brasil, mas que, no fundo, não tem nada a ver com ele, que teve sua condenação anulada pela Justiça.
Corta para ele com o Papa, numa prova que até Deus o perdoou.
Já Bolsonaro admite: as vezes usa as palavras erradas e muitas vezes não é bem compreendido.
Emocionado, lê com muita fluência um discurso, que pelo movimento dos seus olhinhos, está longe, no teleprompter.
Em seguida a essa confissão afirma que, mesmo assim, acredita e deseja o mesmo que seus expectadores.
Estranho, porque palavras erradas dificultam compreender o que ele acredita e deseja de verdade, como seria caso um torcedor do Palmeiras, em pleno clássico, começasse a gritar “Corinthians!”, para depois dizer que usou as palavras erradas.
Mas não importa.
A verdade é que assistindo aos dois programas, qualquer um sai convencido que o resultado desta eleição não é mais tão importante como imaginávamos.
Ambos os candidatos querem o melhor para o Brasil.
Querem comida na mesa, empregos, saúde e tudo que qualquer um de nós deseja.
Aliás, são ambos tão bonzinhos, que faz a gente pensar porque não se unem e intercalam na Presidência.
Dois anos Lula presidente e Bolsonaro vice, nos outros dois anos, invertem.
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