O papel da primeira-dama e qual lugar ocupará no governo Lula – JOTA

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igualdade de gênero
Janja demonstra romper com estereótipo machista que permeia essa posição no Brasil
Desde 2016, com o impeachment, quando Michel Temer assumiu o lugar de Dilma Rousseff, primeira e única presidenta do Brasil, o tradicional papel da primeira-dama é constantemente reforçado em nossa sociedade. Primeiro com a “bela, recatada e do lar” Marcela Temer e, depois, com Michelle Bolsonaro e projetos assistencialistas voltados a pessoas com deficiência. Nesse papel, reafirma-se a ideia da mulher enquanto responsável pelo cuidado, por amor ao próximo, uma figura de equilíbrio ao lado de um homem altivo, sério, respeitado, quando não, “machão”.
Atribuir um novo significado ao papel da primeira-dama certamente passa pelo envolvimento com as políticas públicas de um Brasil tão desigual. Janja, em evento durante o período eleitoral, já anunciou que “vamos tentar ressignificar esse conceito de primeira-dama”. Afinal, antes de ser casada com Lula, Rosângela da Silva é socióloga, militante de esquerda e filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde 1983, tendo desempenhado papel decisivo na campanha de Lula, articulando encontros, eventos e reuniões em busca de apoio ao presidente eleito. Ela tem reafirmado a luta contra a insegurança alimentar e a violência doméstica contra a mulher – pautas que Lula optou por incorporar em seus discursos por influência dela.
Janja também atua na defesa dos direitos ambientais, animais e das crianças e adolescentes. Trabalhou como coordenadora de programas de desenvolvimento sustentável na Usina de Itaipu, na Comissão de Sustentabilidade de empresas ligadas à Eletrobras (RJ) e hoje participa ativamente da campanha Faça Bonito, combatendo a exploração sexual de crianças e adolescentes.
Por outro lado, Michelle Bolsonaro usou e abusou da imagem das pessoas com deficiência durante os últimos quatro anos, enquanto o governo Bolsonaro reduziu em 70% os investimentos do Programa Nacional de Apoio à Saúde da Pessoa com Deficiência. Além das denúncias de corrupção envolvendo seu nome no caso Queiroz, Michelle sustentou o tradicional papel de primeira-dama ao lado do esposo, enquanto ele discursava no ato do 7 de setembro, comparando-a a outras primeiras-damas ao esbravejar “imbrochável” – fala amplamente divulgada nas redes sociais.
O problema não está em uma mulher ser casada com um político, mas em ser esse lugar de “acessório” do presidente o único possível. Afinal, está no imaginário dos brasileiros uma mulher solteira na Presidência da República? Ou uma mulher casada com outra mulher? Ou um homem sem uma primeira-dama, mas acompanhado de outro homem? Ainda que esse não seja o caso de Lula e Janja, ela demonstra romper com o estereótipo machista que permeia o papel de primeira-dama e atuar no enfrentamento dos problemas sociais do Brasil, ao lado do presidente eleito.
Tamires Fakih – Presidenta da Todaz e doutoranda em Mudança Social e Participação Política na USP
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