O poder da política (por André Gustavo Stumpf) – Metrópoles

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Blog com notícias, comentários, charges e enquetes sobre o que acontece na política brasileira. Por Ricardo Noblat e equipe
22/10/2022 9:00, atualizado 21/10/2022 23:55
Política é fascinante porque tem o poder de mudar os rumos de uma sociedade. O presidente Juscelino Kubitschek implantou a indústria automobilística no Brasil e decidiu transferir a capital da República do Rio de Janeiro para o planalto central. Uma das consequências da implantação da indústria automobilística foi o surgimento de sindicatos dos metalúrgicos. As corporações de ofício surgidas em São Paulo ganharam musculatura para negociar com patrões – a maioria deles constituída por estrangeiros – que sabiam tratar com trabalhadores.
Dentro do movimento sindical apareceram líderes, radicais ou pragmáticos. Entre os pragmáticos, os que lutavam por melhores salários e condições de trabalho, estava um pernambucano, fugido da seca de Garanhuns, que chegou a São Paulo a bordo de um caminhão pau de arara. Fez carreira política. Lula foi longe. Se não houvesse indústrias, não haveria sindicatos.
A construção de Brasília abriu um espaço então desconhecido para os brasileiros: o centro-oeste, o imenso cerrado plano com árvores tortas, muita água e sua longa temporada de seca. Durante muito tempo, essa terra que é enorme porção do território nacional, foi considerada inservível. Não tinha valor. Até que o jovem Alysson Paulinelli tomou posse no Ministério da Agricultura no governo Geisel e decidiu incentivar a agricultura tropical. Até então, agricultura era restrita a clima temperado ou frio. O país importava comida. Soja, no Brasil, era produto do Rio Grande do Sul e do Paraná.
A Embrapa desenvolveu estudos e mexeu na composição das sementes. Surgiu uma soja tropical, perfeitamente adaptada ao cerrado. A terra plana permite a utilização de tratores e todos os equipamentos necessários para produzir com alta produtividade. Em questão de algumas décadas o panorama do interior brasileiro, antes pobre e largado, se modificou. Gaúchos e paranaenses se soltaram pelo interior do país. Hoje as plantações de soja e outros grãos começam no sul de Goiás e chegam perto do oceano Atlântico no Piauí. E dominam o oeste da Bahia.
Todo o interior é utilizado para pecuária e agricultura. O Brasil descobriu o centro-oeste e o Noroeste. Novas rodovias e ferrovias levam a produção aos principais centros comerciais do planeta. Surgiu um Brasil que não existia antes de 1980. Assim como a indústria automobilística gerou um país que não existia antes de 1960. O novo momento econômico ocorrido teve consequência políticas. O PT administrou seu período com dois governos de Lula e um de Dilma Rousseff. Antes, os políticos que combateram o governo militar apoiaram os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso.
O momento de agora é de outra transição. Na música, o sertanejo substituiu a bossa nova e assemelhados. No futebol, Goiás colocou dois times na primeira divisão do campeonato brasileiro e Mato Grosso emplacou um, o Cuiabá. Ninguém poderia prever o fenômeno anos atrás. É o dinheiro originário das grandes safras milionárias, negociadas em dólares, desde a mais remota cidade do interior brasileiro com as principais bolsas de valores do mundo. O agricultor agora emprega trabalhadores qualificados, utiliza tecnologia de ponta, drones controlados por internet, dirige carro importado de última geração e sustenta boa parte do produto interno bruto do país.
A eleição do próximo dia trinta é a fotografia perfeita da colisão de dois períodos históricos. A indústria passa por um processo de redução de influência, enquanto o agronegócio explode na economia, na música e até no futebol. Na política, Bolsonaro não entendeu a mudança do vento. Ele ainda está preso ao passado. Preferiu ser porta-voz informal dos militares derrotados na anistia de 1979, que lutaram pelo regime autoritário, defenderam censura, tortura e a retórica de combate aos comunistas. A questão é que o comunismo também mudou. Tornou-se capitalista. Esse discurso se esgotou.
Lula sabe que é sua última chance. Ele não tem sucessores dentro do partido. Seu eventual governo precisará perceber a mudança para obter sucesso. Nada será como antes. Quem olhar para o futuro vai enxergar em Romeu Zema, em Minas Gerais, ou Tarcísio de Freitas, em São Paulo, possíveis candidatos em 2026. E na oposição, surge Simone Tebet, que vem de Mato Grosso do Sul, região de pecuária próspera e do agronegócio. Uma geração virou a página da política.
JK trouxe a indústria e provocou o efeito colateral do surgimento dos sindicatos. Geisel proporcionou o aparecimento do poderoso agronegócio. A política modificou o país. Mas, neste segundo turno, os dois candidatos representam o passado. É uma disputa entre rejeitados. O eleitor é convidado a votar no que passou e não apostar no futuro. No caso, os políticos fracassaram.
 
André Gustavo Stumpf, jornalista ([email protected])
“Aos evangélicos que não se deixam influenciar facilmente, digo: vocês estão sendo enganados e ludibriados. Sei do que estou falando. Conheço muita gente que está sendo ‘intoxicada’ pela lenga-lenga bolsonarista”. (Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal)
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