O que é política? Crianças dão suas versões e dizem onde ela está presente – folha.uol.com.br
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Falta pouco para o Brasil conhecer seu novo presidente e para alguns estados saberem quem será o novo governador —no domingo (30), serão anunciados os nomes dos vencedores do segundo turno das eleições. E eleições, todo mundo sabe, tem tudo a ver com política.
Mas será que política é só isso, escolher governantes de vez em quando? Ou tem política em outros lugares e momentos da vida das pessoas? “Tem política em todos os lugares”, responde Zaki, 7 anos. Para ele, “política é convivência”.
Carolina também tem 7 anos e acha que uma parte da política tem mesmo relação com o que ela chama de “coisas boas”.
“Tipo governar nosso país, nosso estado”, explica. Mas, para ela, a política não para por aí. “Acho que tem política na hora de comer, porque tem que escolher a comida”, acrescenta Carol.
O irmão dela, Gustavo, tem 8 anos, e acha que política é algo que envolve decisões. “Por exemplo, tem o quarto 1 e o quarto 2, e duas pessoas querem ficar com o quarto 1. Então, a gente precisa decidir quem vai ficar com o quarto 1, e pode ser de várias maneiras. Eu acho que joquempô seria legal, ou algum sorteio, mas também tem votação igual como é com presidente, senador, governador e tals.”
Há um tempo, Gustavo se candidatou a representante de classe na escola. Representantes são como se fossem governadores e prefeitos, Gustavo explica, porque levam questões para o “presidente”, que, em uma escola, seria a diretora ou o diretor.
“Eu e uma amiga ganhamos porque as outras pessoas gostaram das nossas propostas, que elas eram melhores para o povo. No caso, a classe”, ele lembra.
Manuela, 7 anos, também deu sua opinião. “Política é escolher uma pessoa que a gente acha que vai cuidar bem do mundo. Igual minha irmã, que foi escolhida pra ser representante de turma”, diz.
Nicolle é a irmã da Manu, tem 9 anos, e, assim como Gustavo, também virou representante na escola. “Política pra mim é quando você faz uma gentileza, ou quando você escolhe uma pessoa”, acredita.
“Tem política no dinheiro e, se a política for ruim, o preço só vai ficar aumentando. E, se a política for boa, o preço vai ficar diminuindo”, opina Sofia, irmã das meninas Manu e Nicolle. “Se o preço aumentar vai ficar muita gente mais pobre, porque elas não vão ter dinheiro suficiente pra comprar o que elas precisam.”
Política, pelo que as crianças mostram, pode ser muitas coisas. E, para ajudar a organizar as ideias, a Folhinha consultou uma especialista nesse tema, a doutora em ciência política, jornalista e escritora Débora Thomé.
“Nem todas escolhas são políticas, mas a política envolve escolhas. E um representante de classe é uma escolha”, certifica Débora, que acaba de lançar o livro para crianças “Dicionário Fácil das Coisas Difíceis”(editora Jandaíra, R$ 62,90, 112 páginas), junto com o amigo Lucio Rennó.
Débora explica que a política é uma forma de a gente negociar as coisas. “Inventaram uma espécie de técnica, que é a política, para fazer com que as diferentes pessoas possam ser ouvidas, e que elas possam resolver tudo sem violência. Quando começa a violência, é porque acabou a política.”
Ela acha normal que cada um de nós tenha uma ideia diferente do que a política é.
“Porque uma coisa é como as ideias existem, e outra é como elas funcionam no mundo. Tipo: como a gente imagina que vai ser desenhar um elefante, e depois a forma como ele sai no papel. Viver a política é diferente de pensar a política. Quando a gente pensa, tudo é perfeito, mas, na prática, nem sempre é assim.”
Você já deve ter ouvido adultos dizendo que não gostam de conversar sobre política porque não querem “se aborrecer”. Para Débora, esse assunto vira um problema principalmente quando as pessoas deixam de obedecer às regras que têm que ser obedecidas.
“É que nem um jogo de futebol onde tem várias crianças correndo atrás da bola para fazer um gol e, às vezes, uma criança bota o pé para o outro tropeçar. Ainda é futebol, mas é uma parte feia dele”, compara.
E quebrar as regras, lembra Débora, pode gerar uma crise (tipo no futebol, quando alguém se irrita e leva a bola embora). Crises na política são um dos assuntos que Débora e Lucio explicam no novo livro, junto com democracia, ditadura, eleições e desigualdade, entre outros.
No “Dicionário Fácil das Coisas Difíceis”, eles mostram que política pode ser, sim, coisa de criança. A estudante Lara, por exemplo, tem 12 anos e, porque entende que a política está “em basicamente tudo”, gosta de falar sobre o tema.
“Tem quem fale que, porque a gente não tem 16 anos ainda, que é a idade que você deve votar, não deveria estar conversando sobre isso. Eu respondo que, se a gente não começar a conversar sobre isso agora, quando a gente tiver 16 anos a gente não vai ter uma visão muito ampla pra conseguir identificar em quais candidatos deve votar, nem vai ter uma personalidade política.”
TODO MUNDO LÊ JUNTO
Texto com este selo é indicado para ser lido com responsáveis e educadores com a criança
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