O que os líderes internacionais esperam do Brasil após a vitória de Lula – UOL Confere

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Do UOL*, em São Paulo
05/11/2022 04h00
Não são apenas os políticos brasileiros que buscam entender para qual direção irá o Brasil após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no domingo. Desde a finalização das eleições, diversos líderes internacionais cumprimentaram Lula pelo inédito terceiro mandato e sinalizaram disposição para manter ou estreitar as relações comerciais, bilaterais e diplomáticas.
Ainda no domingo (30), eram várias as publicações no Twitter e em outras redes sociais mencionando Lula. De Vladimir Putin, presidente russo, a Volodimir Zelensky, que comanda a Ucrânia contra o avanço das tropas russas, ou de Joe Biden, dos EUA, à embaixada da China no Brasil, houve um rápido reconhecimento das eleições internacionalmente.

E não foi sem motivos. O movimento foi estimulado desde que o presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou embaixadores, em julho deste ano, para apresentar alegações falsas de fraudes nas urnas eletrônicas.
“Os embaixadores europeus e americano estavam já preparados para fazer uma declaração logo que os resultados fossem confirmados, para legitimar o processo eleitoral e evitar que tivesse, do ponto de vista internacional, qualquer discussão sobre os resultados”, avaliou Denilde Holzhacker, professora assistente no curso de Relações Internacionais da ESPM.
Um dos primeiros a publicar sobre o pleito foi Joe Biden. O presidente norte-americano parabenizou Lula por vencer “depois de uma eleição livre, justa e crível”, e disse esperar que ambos trabalhem juntos para “continuar a cooperação entre nossos dois países nos próximos meses e anos”. O estadunidense ligou para o petista no dia posterior.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, também usou as redes sociais para parabenizar o petista, e logo embarcou para o Brasil para ser o primeiro líder internacional a se encontrar com o colega após a vitória.
Emmanuel Macron, da França, além de ter ido às redes sociais endossar seus cumprimentos a Lula, publicou um trecho de uma ligação entre ambos, no qual disse estar esperando por este momento “com muita impaciência”.
Bolsonaro e seu histórico de desavenças. Os presidentes dos Estados Unidos e da França são dois dos principais e mais influentes líderes do cenário político mundial e, também, são autoridades que tiveram históricos de desentendimentos com Bolsonaro.
Em 2020, Bolsonaro apoiou abertamente o adversário de Biden, o ex-presidente republicano Donald Trump. Após ser declarada a vitória do atual presidente americano, o brasileiro levou semanas sem parabenizá-lo pelo resultado, quebrando um protocolo, enquanto Trump questionava o resultado nas urnas.
O presidente da França é um crítico declarado da política ambiental do atual governo brasileiro, mas a troca de farpas entre Bolsonaro e Macron chegou ao nível pessoal. Em 2019, presidente e candidato derrotado à reeleição ironizou a beleza da esposa do presidente francês.
Bolsonaro comentou uma publicação que comparava Michelle Bolsonaro com Brigitte Macron, primeira-dama francesa que tem 66 anos, 24 anos a mais que o marido. Em réplica, o presidente Emmanuel Macron se disse “triste pelo Brasil”.
Para onde foi e para onde vai a diplomacia brasileira? Não apenas pelas desavenças acima, a diplomacia brasileira mudou de cara, propósito e alinhamento nos últimos quatro anos.
Denilde Holzhacker aponta dois momentos distintos, que dividem o período do governo Bolsonaro no meio: um com e um sem Donald Trump à frente da Casa Branca.
“Temos duas fases, uma mais preocupada com questões de comércio e de alinhamento automático ao Trump — um contexto internacional com um parceiro forte e com agenda semelhante à dele. Os dois últimos anos foram de isolamento e confrontação, e a lista de alianças passou a ser muito atrelada aos governos de extrema-direita”, disse a professora ao UOL.
Denilde Holzhacker destaca o isolamento mesmo com alguns avanços, como o acordo entre a União Europeia e o Mercosul — que ainda tem pendências para ser implementado — e os avanços em critérios para a entrada na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Com Lula, a expectativa internacional é que o Brasil retome apoio ao multilateralismo — como a presença ativa em questões da ONU (Organização das Nações Unidas) — e que reassuma um papel de liderança na América Latina nos espaços de tomada de decisão.
No entanto, a diplomacia brasileira dos anos Lula não encontrará o mesmo cenário que deixou:
“Lula assume em um momento internacional muito diferente. Ele tem muitos desafios a serem levados em consideração, como a Guerra da Ucrânia contra a Rússia, a relação do Brasil com os BRICS [bloco formado entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] a partir dessa nova configuração internacional e como equilibrar os interesses brasileiros com a China e com os Estados Unidos”.
Com isso, a professora vê o Brasil instado a tomar mais decisões, mesmo que elas ainda apontem para a neutralidade. “Possivelmente o Brasil tentará ser mais ativo, se posicionar como um bom interlocutor”, avalia Holzhacker.
Amazônia no centro das atenções. A reversão da política de destruição da Amazônia foi uma das promessas eleitorais de Lula que mais conversa com as prioridades da comunidade internacional, que tenta se unir
A vitória do petista rendeu dois acenos positivos sobre o tema: a retomada do financiamento do Fundo Amazônia por parte da Noruega e da Alemanha.
Segundo o colunista do UOL Jamil Chade, fontes em Oslo indicaram que o governo escandinavo enviará um negociador ou até mesmo uma equipe para tratar com Lula o restabelecimento da cooperação para garantir que as taxas de desmatamento sejam reduzidas.
O secretário de Estado do Ministério alemão para Cooperação e Desenvolvimento, Jochen Flasbarth, afirmou disposição de estender rapidamente à mão ao Brasil novamente. “A Floresta Amazônica é crucial para manter [a meta de] 1,5 °C ao alcance!”, escreveu no Twitter, fazendo referência ao limite de aquecimento global estabelecido como meta no Acordo de Paris.
“É uma grande oportunidade para o governo Lula, uma agenda com possibilidades de não só ser um ponto de abertura, mas de discutir outras questões ligadas a climática, como a questão energética, a nova economia verde. Tem uma série de temas relacionados à discussão de mudanças climáticas, o ponto de preservação e o fim do desmatamento é um deles”, afirmou a professora de Relações Internacionais.
Um aceno imediato à pauta foi a confirmação da presença de Lula na Conferência das Partes da ONU, conhecida como COP. A 27ª edição, que começa no domingo (6), será sediada em Sharm El-Sheikh, no Egito.
“Um grande ponto positivo é a pré-disposição de dialogar e repensar políticas. Gestos são importantes nas relações internacionais”, avaliou Denilde Holzhacker.
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