O reacionário segundo turno no RS e a necessidade de uma política independente – Esquerda Diário

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O segundo turno no RS está para ser decidido entre o bolsonarista asqueroso Onyx Lorenzoni (PL) e o neoliberal Eduardo Leite (PSDB). Nessa disputa, quem fica de fora são os interesses e necessidades dos trabalhadores e da juventude que sem dúvidas serão atacados por quem for eleito. Como chegamos a um cenário tão à direita no RS e qual alternativa para a classe trabalhadora gaúcha em meio à crise?
Valéria Muller
Giovana PozziCoordenadora Geral do Centro Acadêmico do Teatro da UFRGS (CADi)
No RS, o segundo turno está entre dois inimigos dos trabalhadores e da juventude: de um lado temos um bolsonarista ultra-reacionário como Onyx, ex-ministro de Bolsonaro, e de outro um ultra-neoliberal como Eduardo Leite, que foi algoz dos trabalhadores nos últimos quatro anos de governo. Essa composição não é uma novidade no estado, já que em 2018 a disputa ficou entre Sartori (MDB) (na época auto-intitulado “Sartonaro”) e Leite (que, aliás, também apoiava Bolsonaro). Inclusive é notável registrar que o MDB é um elo entre os dois candidatos, pois são vice na chapa de Leite, com Gabriel Souza, e apoiam Onyx pelo diretório da capital.
Passados 4 anos da vitória da extrema-direita a nível nacional, o primeiro turno foi marcado não só pela polarização entre Lula e Bolsonaro, mas também por um fortalecimento de setores reacionários, com uma maior institucionalização do bolsonarismo. Na composição de um Congresso ainda mais conservador, figuras como o ex-presidente General Mourão, eleito para o Senado, alcançaram votações expressivas.
Leia mais as análises sobre os resultados do primeiro turno: Enfrentar Bolsonaro e as reformas em um país mais à direita
Conforme analisamos aqui, apesar do PT ter conseguido eleger a maior bancada no legislativo estadual, os resultados eleitorais do RS no primeiro turno expressam, mais uma vez, uma situação reacionária no estado e o peso político de uma burguesia conservadora que controla a economia.
Não à toa, Onyx ficou em primeiro lugar na disputa para governador: o bolsonarista, que foi responsável por impulsionar a reforma da previdência, destruidora dos direitos trabalhistas e do futuro da juventude, conseguiu pouco mais de 37% dos votos. Na época da tramitação da reforma, Onyx chegou a defender a política da ditadura de Pinochet no Chile, que segundo suas próprios palavras levou à frente “um banho de sangue para mudar princípios macroeconômicos.” O candidato do PL representa no estado todos os interesses retrógrados do bolsonarismo, o negacionismo, o machismo, o racismo, a homofobia e uma política privatista de reformas contra os trabalhadores. As declarações homofóbicas que Onyx vem proferindo ao longo da campanha contra Eduardo Leite precisam ser fortemente repudiadas e a extrema-direita da qual Lorenzoni é parte precisa ser jogada na lata de lixo da história, uma tarefa que só pode ser levada à frente pela luta de classes com a força dos trabalhadores junto a todos os setores oprimidos.
Do outro lado, temos Eduardo Leite, conhecido inimigo dos trabalhadores e dos estudantes do estado. Continuador da política neoliberal de Sartori, o governo de Leite no RS foi tudo o que a burguesia gosta: privatizações e reformas a rodo. Vendeu a CEEE, a CRM, a Sulgás e aprovou o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) que prevê novas privatizações e ataques aos trabalhadores para garantir o pagamento dos juros da dívida fraudulenta do estado com a União. Numa tentativa de se relocalizar, agora nos debates do segundo turno tanto Leite quanto Onyx fazem demagogia em relação ao Banrisul, afirmando que irão mantê-lo público (sendo que Leite já vendeu ações do Banrisul e o governo Bolsonaro tentou incluir sua venda nas negociações do RRF). Lorenzoni, por sua vez, está realmente focado em mentir para os trabalhadores visando angariar votos, afirmando também que irá rever a privatização da Corsan, logo ele, seguidor do bolsonarismo mais duro, que busca destruir qualquer mínimo direito e entregar aos empresários tudo que resta de público.
Não caímos na demagogia reacionária de Onyx nem do liberal tucano. Foram 4 anos de governo Bolsonaro em que sentimos diariamente o que representa a política da extrema-direita na vida dos trabalhadores e da população pobre, que Onyx quer aprofundar ainda mais no RS. Ao mesmo tempo, também amargamos com os inúmeros ataques e privatizações que Eduardo Leite aplicou durante seu governo, alinhado com Guedes na economia enquanto buscava se diferenciar do negacionismo de Bolsonaro frente à pandemia da covid. Apesar do discurso, no que diz respeito a “aproveitar a pandemia para passar a boiada”, como defendeu Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Leite também esteve alinhado com o governo federal, impondo uma série de ataques e avançando em privatizações nesse período.
A realidade é que nesse duelo de reacionários não há alternativa para a classe trabalhadora e a juventude. Frente à real crise econômica que assola o estado do RS, ambos levam, na prática, uma política burguesa de descarregar essa crise capitalista nas costas dos explorados e oprimidos. Por isso, a única saída é através da auto-organização da classe trabalhadora para construir uma alternativa política de esquerda e revolucionária, em combate a todos os setores da direita e da burguesia, que atue na luta de classes com os métodos da classe trabalhadora, com greves e mobilizações. Esse é o caminho para defender um programa operário, que parta da revogação de todas as privatizações e reformas aplicadas nos últimos anos, incluindo a revogação integral da RRF (Regime de Recuperação Fiscal), e o não pagamento da dívida do estado, para garantir o investimento nos serviços públicos como saúde e educação. Uma força assim seria capaz de responder ao desemprego e à precarização do trabalho que assolam a população gaúcha, defendendo a redução da jornada de trabalho para 30h semanais com divisão da carga horária entre empregados e desempregados. Um programa como esse seguramente seria o pesadelo tanto de Onyx quanto de Leite, uma vez que ambos estão do lado dos capitalistas nessa trincheira, e não no lado da classe trabalhadora.
Já o PT e o PSOL defenderam a tese de que para ir ao segundo turno seria necessário um programa inofensivo aos grandes empresários e que conservasse as privatizações e reformas neoliberais de Sartori e Leite – ou seja, um programa palatável à Zero Hora e à burguesia gaúcha. Esse giro à direita para tentar chegar no segundo turno foi um fracasso completo que levou junto não apenas o PSOL, mas também a UP. O programa do PT e do PSOL para o governo foi algo semelhante ao Alckmin a nível nacional, um aceno aos grandes capitalistas de que não se enfrentariam com eles. Essa movimentação é expressão da busca que o PT faz, junto do PSOL, em se repactuar com os setores que fizeram parte do golpe institucional de 2016, aprofundando a estratégia institucional de conciliação de classes. Uma importante conclusão desse fracasso é que não se derrota o bolsonarismo se aliando com a direita.
Essa estratégia institucional, da qual a paralisia dos sindicatos e o abandono das bases que dirige é parte constitutiva, defende o “voto útil” como mal menor contra a extrema-direita. O resultado dessa política é que ainda no primeiro turno setores da base petista votaram em Leite com o argumento de que ele teria mais chances do que Pretto para derrotar Onyx. Apesar de Pretto ter aumentado bastante o número de votos em relação às primeiras pesquisas, o resultado foi a derrota da chapa PT-PSOL, que por uma diferença de 2 mil votos ficou de fora do segundo turno. Ou seja, a política petista, que assistiu passivamente os ataques de Leite e Bolsonaro ao longo dos últimos 4 anos, negociando com o governo no RS e sem organizar os trabalhadores nos diversos sindicatos que dirige para enfrentar os ataques e privatizações de Leite, combinado com a lógica do voto útil, são também responsáveis por estarmos hoje nesse segundo turno entre dois reacionários de direita.
Agora o PT, o MES/PSOL e até o Alicerce/PSOL chamam “nenhum voto em Onyx”, liberando a militância para votar no neoliberal Eduardo Leite. Manuela D’Ávila chegou a fazer a absurda sugestão que votar em Leite seria parte de construir uma “alternativa popular”. Mas a realidade é que, de mal menor em mal menor, vai se aceitando um mal cada vez maior, e assim os trabalhadores renunciam às suas bandeiras, abrindo cada vez mais espaço para a direita. E nesse caso o suposto mal menor é um neoliberal. Teremos que apoiar nossos algozes para enfrentá-los? Ou batalharemos por uma política independente, com uma estratégia para derrotá-los de conjunto? Para o PT e o PSOL, que buscam assentar seu lugar nesse regime apodrecido e não destruí-lo, o caminho é os trabalhadores votarem “de nariz tampado” no inimigo “menos pior”, pois segundo sua narrativa não há outra alternativa. A eles, o marxista italiano Antonio Gramsci teria importantes lições a ensinar:
“Um mal menor é sempre menor que um subsequente possivelmente maior. Todo mal resulta menor em comparação com outro que se anuncia maior e assim até o infinito. A fórmula do mal menor, do menos pior, não é mais que a forma que assume o processo de adaptação a um movimento historicamente regressivo cujo desenvolvimento é guiado por uma força audaciosamente eficaz, enquanto que as forças antagônicas (ou melhor, os chefes das mesmas) estão decididas a capitular progressivamente, em pequenas etapas e não de uma só vez […]”. (Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, Caderno 16, §25)
Não há outra alternativa para a classe trabalhadora gaúcha?
O primeiro turno evidenciou o fato de que as alianças com a direita e os capitalistas não são capazes de derrotar o bolsonarismo, que não só não vai sumir após as eleições, como se impregna cada vez mais no regime político. Ao longo dos últimos anos, ao contrário do necessário combate a cada uma das reformas, ataques e privatizações que deveria ter sido erguido a partir de cada local de trabalho e estudo, as grandes direções sindicais como a CUT, CTB e seus sindicatos, não fizeram mais do que garantir uma enorme trégua ao governo. Mesmo as expressões de luta que se deram ficaram isoladas, como a própria greve da Carris em Porto Alegre, com o boicote da CUT à greve do começo ao fim, mostrando como não estão interessados em impulsionar a luta dos trabalhadores (se a greve tivesse derrotado Melo, a situação na cidade certamente estaria diferente).
No RS não foi diferente. Os ataques do governo Leite foram sendo impostos, apesar do rechaço da população gaúcha e dos trabalhadores sobretudo às privatizações, com as direções sindicais se negando a batalhar para erguer a força dos trabalhadores contra o governo e também negociando com ele. Leite privatizou as estatais, arrochou salário, avançou no desmonte do Estado e a CUT, a CTB, a direção do CPERS e de outros sindicatos se mantiveram paralisados, apostando exclusivamente nas eleições de 2022. Essa política pavimentou o caminho para que o segundo turno no RS se desse entre dois reacionários inimigos dos trabalhadores, colocando ao povo gaúcho a dura escolha entre ser pisoteado com botas bolsonaristas ou liberais.
A batalha por uma política independente e por um programa para que sejam os capitalistas que paguem pela crise é o que se coloca à classe trabalhadora e a todos os setores oprimidos do RS, seja qual for o resultado das eleições para governador, na qual nosso voto é nulo. É incontornável a necessidade de se enfrentar com os capitalistas e seus representantes políticos, se organizando em cada local de trabalho e estudo e lutando pela revogação de todas as reformas, ataques e privatizações aprovados a nível nacional e estadual, assim como pelo não pagamento da dívida do estado com a União e da dívida pública aos banqueiros. Neste caminho, a batalha por erguer no estado uma alternativa política independente e revolucionária, que supere a política de conciliação de classes proposta pelo PT e da qual cada vez mais o PSOL é parte, se trata de uma batalha imprescindível. É nessa perspectiva que nós no MRT construímos o Esquerda Diário no RS e convidamos cada um que se indigna com o reacionarismo de Onyx e Bolsonaro e que se opõe às privatizações de Leite a serem parte disso.
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