O risco Lula – Opinião Estadão

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22 de outubro de 2022 | 03h00
No segundo turno das eleições, Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o apoio de importantes economistas, a começar pelos chamados “pais” do Plano Real. Henrique Meirelles se antecipou e declarou o voto no petista já no primeiro turno. Mas se o apoio do ex-presidente do Banco Central (nos governos Lula) e ex-ministro da Fazenda (no governo Temer) é inequívoco, nem por isso deixa de ser lúcido. “Vimos três governos diferentes de Lula”, disse à consultoria Eurasia. “O primeiro com responsabilidade fiscal. O segundo com algum alívio do lado fiscal e mais aberto a demandas políticas. O terceiro (a gestão Dilma Rousseff), não sendo presidente, mas com o apoio de Lula, terminou em recessão. A grande questão agora é qual Lula assumirá se de fato vencer”. É uma excelente pergunta.
Com boas razões e temerosos ante os perigos de um segundo mandato de Jair Bolsonaro para a democracia, nomes relevantes da centro-esquerda à centro-direita declararam apoio a Lula. Em contrapartida, quais os seus compromissos concretos com o centro? Não se sabe. 
Sempre que indagado sobre economia, Lula recorre ao passado e insiste que os resultados de seus dois mandatos falam por si. Mas as condições fiscais de 2023 serão bem mais apertadas do que as de 2003 e não há nada similar ao boom das commodities que abasteceu seus programas sociais. E há também o risco, nada desprezível, de que uma eventual vitória de Lula seja vista pelos petistas como aval para as ideias mais retrógradas do partido. Lula se apresenta como garantia de racionalidade e responsabilidade, mas, em se tratando da estatolatria patológica do PT, é pouco.
Lula e o PT são, como se sabe, irredutíveis. Não só recusaram qualquer gesto de contrição em relação aos maiores escândalos de corrupção da história, o mensalão e o petrolão, como insistem em ultrajes que conspurcam suas supostas credenciais democráticas, como o “controle social da mídia”. Mesmo sob pressão do agronegócio, foram incapazes de assegurar que não tolerarão invasões de terras. Quanto às ditaduras de esquerda, nem sequer são ambíguos, e seguem contemporizando suas atrocidades.
Lula diz que “o PT está cansado de pedir desculpas”. Porém, após quatro mandatos, sua única autocrítica oficial – a chamada Resolução sobre a Conjuntura aprovada pelo Diretório do PT em 2016 – lamenta apenas quatro coisas: 1) ter priorizado “o pacto pluriclassista que permitiu a vitória de Lula em 2002”; 2) não ter “impedido a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público”; 3) ter deixado “de modificar os currículos das academias militares e de promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista”; e 4) não “redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”. Como concluiu outro economista, o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, ao descartar seu apoio a Lula (e a Bolsonaro), “se algum arrependimento houve (por parte do PT) foi o de não avançar o aparelhamento das instituições de Estado a favor dos interesses do partido”.
Meirelles sugere “alguns sinais” de que “pode haver” um encontro com economistas liberais para discutir políticas econômicas num futuro governo Lula. Mas, segundo o ex-ministro, o que está prevalecendo neste momento na campanha petista é “uma visão similar à do terceiro governo do PT, a administração de Dilma Rousseff, especialmente porque quem desenvolveu esse programa foi um grupo de economistas que acreditam fortemente no papel do Estado e de empresas estatais como indutores do desenvolvimento”. Depois da divulgação da transcrição da fala de Meirelles pela Eurasia, o ex-ministro, talvez ciente dos efeitos de suas palavras na campanha petista, tentou amenizar os comentários, dizendo que a consultoria havia “apimentado” suas críticas – mas Meirelles não negou que as tivesse feito. 
Ou seja, noves fora o esforço para minimizar o que disse, o ex-ministro externou aquilo que qualquer um de bom senso já sabe: que, em caso de vitória de Lula, o País deve torcer para que o petista resista aos voluntariosos conselheiros que acreditam que dinheiro público dá em árvore.
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