Óleo de Dendê pode faltar no Estado da Bahia – Notícia Preta
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O óleo de Dendê pode faltar no Estado da Bahia. O alerta foi dado pelo menos há dois anos, por estudos feitos pelos representantes de toda a cadeia produtiva: agricultores, fornecedores e consumidores ativos, como as baianas de acarajé.
O Estado é o que mais consome o óleo do Dendê, além do mesmo fazer parte da cultura e identidade da população. A ausência de politicas publicas prejudica quem tira o sustento da iguaria. Hoje em dia, a Bahia é responsável por apenas 2% da produção Nacional.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são produzidas 30.964 toneladas de dendê, em uma área de 8.167 hectares. Uma grande diferença comparada ao Pará, maior produtor atualmente e produz 1.533.735 de toneladas. Este é um número quase cinco mil vezes maior que o da Bahia, em uma área total de 100.965 hectares.
Diante desse cenário de crise, entidades de diversas áreas criaram o Salve o Dendê: um movimento multidisciplinar de fortalecimento do fruto na Bahia. O grupo escreveu uma carta para entregar ao governador eleito Jerônimo Rodrigues (PT).
No documento, o movimento pede a criação do programa Dendê na Bahia, com o objetivo de aumentar a produtividade e ampliar as áreas com ações de diversas secretarias, como Desenvolvimento Rural, Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura, Turismo, Cultura, Educação e Ciência e Tecnologia.
Entre as reivindicações estão: Construção de viveiros para produção de mudas; Assistência técnica nas diversas etapas do processo produtivo da cultura; Linhas de créditos de investimentos e custeios para o cultivo e modernização da infraestrutura de produção de azeite e demais produtos da cadeia produtiva do dendê; Apoio a pesquisa tecnológica do dendê e lançamento de editais específicos para a cadeia produtiva do dendê.
Adailton Francisco é um dos membros do movimento e representante do Colegiado de Desenvolvimento Sustentável do Território do Baixo Sul da Bahia (Codeter/Eixo Dendê), disse que a comunidade espera uma mudança com novos governos.
“A gente espera que com a mudança do governo estadual e do governo federal, a gente possa também ter uma mudança de atitude em relação à questão de políticas públicas para a cultura do dendê. Essa é uma discussão transversal, não é só sobre agricultura, também tem a cultura. Precisa ter diversas outras secretarias envolvendo esses municípios”, disse Adailton, em entrevista ao G1.
Ele também aponta o risco da extinção da profissão de peeiro, que são os trabalhadores que sobem nos dendezeiros, através de uma peia, para retirar os cachos com os frutos. E que a falta de profissionais também se deve a geração mais jovem não querer dar continuidade a função.
“É uma profissão que está praticamente em extinção. As pessoas não têm ideia do que é a cadeia do dendê, só veem o azeite e não têm ideia do que está por trás ali. E quem sobe naquela palmeira [dendezeiro] para colocar o cacho abaixo? São trabalhadores que precisam ser valorizados, trabalhadores que precisam de apoio”. Continua Adailton.
Além das empresas produtoras do óleo e do azeite, baianas de acarajé e as comunidades de terreiro consumidoras do Dendê também são afetadas. A presidente da Associação das Baianas de Acarajé (Abam), Rita Ventura, diz em entrevista ao G1 que a instituição tem alertado há muito tempo sobre a falta do dendê .
“Desde 2020 que nós estamos nessa luta, quando recebemos a notícia que faltaria dendê para as baianas. Nós somos o maior estado consumidor de dendê, somos quase oito mil baianas [de acarajé] que utilizam do dendê”, lamenta.
Rita conta que as baianas de outros estados compram o dendê da Bahia. O óleo, segundo ela, sai da Feira de São Joaquim e de Itapuã, e é comercializado nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Fortaleza. “Como é que os governantes do nosso estado não prestam atenção nisto? Nesta cadeia produtiva? Eu estou falando de oito mil baianas e ainda tem os terreiros, que também utilizam o dendê”, disse Rita ao portal.
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O dendê também é ponto importante para a preservação das tradições religiosas no estado. A representante da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afroameríndia (AFA), ressaltou essa questão.
“Todos os terreiros, aqui no Brasil ou fora, consomem o azeite de dendê. Seja no culto às nossas divindades, inquices e orixás, seja a nossa culinária normal do dia a dia também, enquanto religioso e enquanto cidadão também. Então vocês imaginam a quantidade, o tamanho do consumo dessas comunidades tradicionais”, explica.
O Notícia Preta entrou em contato com as secretarias estaduais de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura, de Desenvolvimento Rural e do Meio Ambiente, mas até o fechamento desta nota, não obteve retorno.
Marina Lopes é jornalista e escritora juiz-forana, apaixonada pela palavra e por contar histórias através dela.
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