Opinião – Boris Perius Zabolotsky: O que a Rússia pode esperar do novo governo de Lula – UOL

0
87

Acesse seus artigos salvos em
Minha Folha, sua área personalizada
Acesse os artigos do assunto seguido na
Minha Folha, sua área personalizada

Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Gostaria de receber as principais notícias
do Brasil e do mundo?
Expressa as ideias do autor e defende sua interpretação dos fatos​
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Doutorando do programa de pós-graduação em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em Estudos Estratégicos Internacionais pela mesma instituição e especialista em Relações Internacionais Contemporâneas pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana
A eleição presidencial brasileira, uma das mais aguardadas e vigiadas dos últimos tempos, foi descrita como a “mais importante em décadas”. Em uma disputa acirrada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).
Nunca antes na história do Brasil o país enfrentou um cenário de tamanha polarização e violência política. Esses elementos, talvez, sejam reflexos de um país que perdeu relevância nos últimos anos e que precisa agora buscar sua inserção internacional em um mundo cada vez mais desafiador e instável.
As relações entre Brasil e Rússia são historicamente marcadas por períodos de afastamento e de aproximação. Um elemento central e constante que baliza esse vínculo é a influência dos EUA na América Latina. Dessa forma, a natureza do relacionamento (aproximação ou distanciamento) entre Moscou e Brasília é condicionada, muitas vezes, por mudanças políticas e ideológicas no cenário internacional.
O governo de Bolsonaro foi marcado por essa tendência. Durante os primeiros anos da administração, houve uma inflexão aos EUA, um alinhamento automático à política de Washington no mandato Trump.
O Brasil durante esse período se tornou aliado extraOtan e desmontou os principais projetos de integração regional dos governos anteriores, submetendo a liderança regional brasileira aos auspícios da OEA, organização cuja característica principal é circunscrita pela influência norte-americana. Além disso, o Brasil abriu mão do caráter de país em desenvolvimento ao solicitar o ingresso na OCDE.
Outro aspecto que indica esse alinhamento com as estruturas ocidentais, na primeira parte do governo Bolsonaro, foi o apoio ao acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. Nesse sentido, os anos iniciais da administração Bolsonaro foram caracterizados por uma readequação ao sistema euro-atlântico, o que colide com a própria natureza reformista e contestatória dos países do Brics.
Nesse aspecto, se durante os governos do PT o Brics era visto como um catalisador que visava maior inserção e protagonismo internacional do Brasil na busca por mudanças nas estruturas ocidentais de governança global, no mandato de Bolsonaro o Brics perdeu importância na agenda da política externa brasileira e foi rebaixado a uma plataforma para comércio bilateral.
A diplomacia russa foi bastante hábil ao lidar com a mudança de postura na política externa brasileira e buscou atrair Bolsonaro para parcerias bilaterais. Tal reaproximação foi contextualizada pelo relativo isolamento do presidente brasileiro quando Trump foi derrotado nas eleições norte-americanas.
O Kremlin reconhece o Brasil como parceiro importante na América Latina que não pode ser perdido por intempéries, buscando posicioná-lo, assim, como aliado imprescindível no desenho do mundo multipolar.

O pragmatismo e a liderança regional brasileira durante os governos Lula foram responsáveis por lançar as bases de uma relação estratégica entre Brasil e Rússia que hoje estão mais amadurecidas. O posicionamento de Moscou se torna ainda mais relevante no contexto atual de sanções ocidentais à Rússia, porquanto o Brasil deve cumprir um papel importante que pode beneficiar ambos os países. À vista disso, para o Kremlin não interessa um Brasil enfraquecido e subalterno aos Estados Unidos.
Nesse sentido, é importante notar que o governo Lula é reconhecido por iniciar uma série de projetos de integração sul-americana que limitaram e/ou diminuíram a influência norte-americana no processo decisório da América do Sul. Estes fatores eram vistos com bons olhos pelos russos. Mas o mundo no qual Lula governou o Brasil durante 2003 a 2011 já não existe mais, e o ex-presidente brasileiro terá que fazer ainda mais concessões caso queira garantir a governabilidade.
Tais circunstâncias podem obstar a retomada de um protagonismo regional brasileiro em um período no qual Lula terá que concentrar mais atenção ao contexto doméstico. Os desafios econômicos que o Brasil enfrenta e a eleição de um Congresso de maioria de oposição vão forçá-lo a buscar apoios e investimentos externos. Essa realidade, então, pode levar a uma maior ingerência dos EUA e da UE na agenda da política internacional brasileira, freando assim a participação do Brasil em uma ordem que conteste as estruturas neoliberais e ocidentais de governança global.

A posição oficial do Brasil sobre o conflito na Ucrânia permanecerá pragmática sob Lula. Esse fato pode ser atestado pelos votos brasileiros na ONU durante os posicionamentos dos governos petistas nos desdobramentos da crise Maidan de 2014. É improvável que o Itamaraty assuma uma posição mais assertiva, apoiando qualquer lado das partes envolvidas no conflito.
O Brasil necessita dos fertilizantes da Rússia e, ao mesmo tempo, é dependente do comércio com EUA e UE. A possibilidade de uma interlocução entre Volodimir Zelenski e Lula também é bastante improvável. O presidente eleito é considerado “persona non grata” no governo ucraniano por apontar a responsabilidade de Kiev no atual conflito, e Bolsonaro também foi criticado pela postura de neutralidade do Brasil.
Nesse ponto, Zelenski e o Ocidente conseguiram unir adversários tão antagônicos quanto Lula e Bolsonaro, forçando uma coesão entre as elites políticas brasileiras que não é favorável a uma sinalização de mudança de postura em relação à Ucrânia.
Assim, o futuro das relações Brasil-Rússia também está condicionado à capacidade russa de lidar com a pressão ocidental na qual o novo mandato de Lula estará submetido, além da incapacidade diplomática ocidental em construir uma interlocução frutífera com Brasília.
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Leia tudo sobre o tema e siga:
Você já conhece as vantagens de ser assinante da Folha? Além de ter acesso a reportagens e colunas, você conta com newsletters exclusivas (conheça aqui). Também pode baixar nosso aplicativo gratuito na Apple Store ou na Google Play para receber alertas das principais notícias do dia. A sua assinatura nos ajuda a fazer um jornalismo independente e de qualidade. Obrigado!
Mais de 180 reportagens e análises publicadas a cada dia. Um time com mais de 200 colunistas e blogueiros. Um jornalismo profissional que fiscaliza o poder público, veicula notícias proveitosas e inspiradoras, faz contraponto à intolerância das redes sociais e traça uma linha clara entre verdade e mentira. Quanto custa ajudar a produzir esse conteúdo?
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Semanalmente, os principais fatos do globo, explicados de forma leve e interessante
Carregando…
Semanalmente, os principais fatos do globo, explicados de forma leve e interessante
Carregando…
Fundo da TC Pandhora é lançado para o público geral
Cartão de crédito versátil revoluciona pagamentos corporativos
Série de podcasts discute o papel do advogado em uma sociedade em transformação
Novos exames dão precisão ao diagnóstico do câncer de próstata
5G habilita potencial total da indústria 4.0
Vacinas são importantes em todas as fases da vida
Tecnologia da Mastercard garante a segurança de operações com criptoativos
Empresas devem saber acolher colaboradores com depressão
Havaianas celebra 60 anos como exemplo de inovação
Nova lavadora e secadora da LG alia tecnologia e sustentabilidade
Mackenzie é uma das universidades privadas mais reconhecidas pelas empresas
Lalamove oferece soluções seguras e econômicas para entrega rápida e descomplicada
DNA ajuda a identificar tratamento mais eficaz contra o câncer de mama
Cidadania global: formação para além do bilinguismo
Entenda o que é deep fake e saiba como se proteger
Rastreamento pode reduzir mortes por câncer de pulmão
Clara facilita vida das empresas na gestão de gastos corporativos
Tecnologia com inclusão e diversidade gera inovação
Inteligência artificial e automação moldam o futuro das empresas
Tecnologia permite que pessoas recebam pela comercialização de seus dados
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Petista disse 'achar engraçado' não ter visto mercado nervoso nos 4 anos do governo Bolsonaro
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Inquérito foi instaurado após requerimento do Ministério Público Federal
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Presidente chegou a condicionar aceitação do resultado eleitoral à fiscalização dos militares

O jornal Folha de S.Paulo é publicado pela Empresa Folha da Manhã S.A.
Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.
Cadastro realizado com sucesso!
Por favor, tente mais tarde!

source

Leave a reply