Opinião – Quadro-negro: Documentário sobre Racionais finalmente mostra a São Paulo preta – UOL

0
46

Acesse seus artigos salvos em
Minha Folha, sua área personalizada
Acesse os artigos do assunto seguido na
Minha Folha, sua área personalizada

Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Gostaria de receber as principais notícias
do Brasil e do mundo?
Uma lousa para se conhecer e discutir o que pensa e faz a gente preta brasileira
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Houve uma época em que apenas a TV construía imaginário brasileiro. As novelas da Globo que se passavam em São Paulo vendiam uma imagem de uma cidade sem negros.
Realities shows, como “O Aprendiz”, apresentado por Roberto Justus na Record, com a imagem do empresário-apresentador que, na abertura de um dos programas, chegou de helicóptero no alto de um prédio, reforçaram essa ideia de que São Paulo é uma cidade habitada apenas por tribos de gente branca. Sejam “faria limers”, “santa cecilers”, netos de donos e engenho de café ou a gang que for.
O documentário: “Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo”, que estreou na Netflix, destrói tudo isso.
Em suas quase duas horas de duração, não há um minuto em que todas as pessoas na tela não sejam paulistanos pretos.
E que paulistanos são esses que o filme mostra? Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, os integrantes do grupo que revolucionou a cultura brasileira? Não só. Aqui, os quatro são praticamente apenas veículos para contar a história de três décadas do cotidiano das pessoas pretas da cidade. Onde moram, o que sonham, no que trabalham, o que pensam do Brasil, o que acham de si. A história dos Racionais é aqui contada como a história de uma cidade que tentam esconder.
Escrito e dirigido por Juliana Vicente, “Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo” toma uma decisão espetacular: radicalmente humanizar os integrantes do grupo que, por um lado, se comportam como griôs contando sua trajetória com epifanias de ouro à respeito da vida. Mas também vemos as pessoas ao redor, que compõem a chamada “Família Racionais” –seja consanguínea, como Dona Ana, mãe de Brown, ou mãe de santo.
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha; exclusiva para assinantes.
Carregando…
Afinal o sangue que corre pela pele preta é o mesmo e Juliana sabe muito bem. Ela evoca a força das mulheres no centro da história dos Racionais sem sair do foco de que os quatro integrantes são sobreviventes do grupo étnico que, no Brasil, só com perseverança chega à idade adulta. A cada 4 horas, um homem negro é morto na cidade de São Paulo.
Embora haja, aqui, motivos para todos serem hipnotizados pelo documentário, ele foi feito para pessoas pretas. Mano Brown, mais de uma vez, repete que, antes de tudo, a música do grupo é feita para pessoas pretas.
“A gente quer o nosso povo longe do álcool, do crack, longe da farinha, longe do crime, mas tem gente que quer ver nosso povo cada vez mais dentro que é pra morrer mais de nós e os playboy cada vez mais no poder e nosso povo cada vez mais se fudendo. E quando você fala que você não quer isso, você é um cara perigoso” –crava Brown em uma fala de um show dos anos 1990, um de uma tonelada estonteante de materiais de arquivo usada aqui.
De fotos de aniversários e churrascos a vídeos de celular feitos há dez anos, tudo no documentário é vivo. O roteiro se esmera em dar rosto e nome a todos os invisibilizados de lugares como o Capão Redondo.
Em um destes vídeos de arquivo, uma imagem linda: a do grupo pegando seu primeiro avião fretado para um show. Um avião lotado com negros retintos, príncipes indo ganhar dinheiro. 400 anos atrás, seus antepassados chegavam ao Brasil acorrentados em caravelas.
Sobre “Sobrevivendo no Inferno”, álbum que imortalizou os Racionais, transformou-se em livro pronto para uma Academia de Letras, “Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo” revela o que já foi dito aqui no Quadro-Negro. Mano Brown demorou, mas um dia percebeu que o álbum é mais um fetiche de pessoas brancas eruditas do que algo que se comunique com a favela.
Corpo negro e poça de sangue são clichês que pouco fazem pela autoestima do periférico e que não quero para mim, diz ele ao explicar o retiro e agora a volta dos Racionais aos palcos.
Ele reconhece que a favela não é mais a mesma. Que é propositiva. Que está procurando ser independente. Os integrantes dos Racionais já têm 50 anos de idade. Mas a juventude preta de cabelo colorido e broche e brios de Marielle vem aí disposta a aparecer.
Fazer como os Racionais fizeram quando apareceram.
Mostrar que a cara de São Paulo não é a de Roberto Justus.
É, na verdade, a de Mano Brown.
Que como a juventude preta que o admira, e para quem compõe, apareceu para salvar a cidade.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Você já conhece as vantagens de ser assinante da Folha? Além de ter acesso a reportagens e colunas, você conta com newsletters exclusivas (conheça aqui). Também pode baixar nosso aplicativo gratuito na Apple Store ou na Google Play para receber alertas das principais notícias do dia. A sua assinatura nos ajuda a fazer um jornalismo independente e de qualidade. Obrigado!
Mais de 180 reportagens e análises publicadas a cada dia. Um time com mais de 200 colunistas e blogueiros. Um jornalismo profissional que fiscaliza o poder público, veicula notícias proveitosas e inspiradoras, faz contraponto à intolerância das redes sociais e traça uma linha clara entre verdade e mentira. Quanto custa ajudar a produzir esse conteúdo?
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Carregando…
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Reviravolta deve afetar a principal patrocinadora do torneio, a fabricante de cerveja Budweiser
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Aumento no valor de benefícios motivou medidas que trouxeram temor ao mercado
Recurso exclusivo para assinantes
assine ou faça login
Coordenador da transição afirma que grupo de trabalho que tratará dos militares deve ser indicado no começo da próxima semana

O jornal Folha de S.Paulo é publicado pela Empresa Folha da Manhã S.A.
Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.
Cadastro realizado com sucesso!
Por favor, tente mais tarde!

source

Leave a reply