Os sete cenários da economia mundial em 2022 – que vão refletir … – Istoé Dinheiro

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Economia
Jaqueline Mendes
Se 2022 pudesse ser resumido em uma palavra, frustração seria a escolha. O ano que começou com expectativa do fim da Covid, recuperação econômica e avaços sociais, terminou com novos lockdowns na China, guerra na Ucrânia e preços em alta no mundo. Fatores que ajudaram a balançar o que já estava fora de lugar desde 2020, quando o mundo foi embaralhado pela maior pandemia em gerações. A alta dos preços da energia, dos combustíveis e, principalmente, dos alimentos empurrou pobres para a miséria, a classe média para o sufoco e deixou governos e bancos centrais na berlinda. A elevação das taxas de juros em todo o planeta encareceu o crédito, esfriou o consumo e gerou uma perspectiva de recessão para 2023. No Brasil, as eleições sentenciaram o governo de Jair Bolsonaro. Sai Jair, entra Luiz. As turbulências políticas contaminaram a economia, mas a democracia resistiu. Até agora. A seguir, apontamos sete pontos críticos da economia, e como isso deve afetar também 2023.
A invasão da Ucrânia pela Rússia tem causado estragos ao mundo e deverá custar à economia global US$ 2,8 trilhões em produção perdida até o fim de 2023, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Esse seria o pior conflito militar no continente desde a Segunda Guerra Mundial, quando países europeus e o Japão tiveram de ser reconstruídos. “Estamos pagando um preço muito alto pela guerra”, disse o economista-chefe da OCDE, Álvaro Santos Pereira. A organização prevê que a economia global crescerá 3% em 2022 e 2,2% em 2023. Ou seja, o que já não bom, deve piorar. Antes da guerra, as projeções eram de avanços de 4,5% e de 3,2%, respectivamente. Isso quer dizer que o conflito custará ao mundo o equivalente à produção econômica gerada pela França ao longo desses dois anos. A OCDE calcula que a Zona do Euro terá expansão de apenas 0,3% no ano que se inicia. A Alemanha, no entanto, maior PIB da Europa, deve ter uma contração de 0,5%.
O descompasso da cadeia global de suprimentos elevou os preços de quase tudo, em todo lugar. Um levantamento do site Trading Economics mostra que 43% dos países registraram inflação acima de dois dígitos no acumulado em 12 meses até outubro. Em alguns casos, o índice chega a três dígitos, como o Zimbábue, com a maior inflação do mundo, de 263% ao ano. Líbano e Venezuela aparecem em seguida (162% e 156%). Países historicamente não acostumados com inflação descontrolada, como Estados Unidos e Reino Unido, registraram taxas de dois dígitos. No Brasil, o IPCA deve ficar abaixo de 6,5%, mas novamente estourando a meta.
O desembarque do Reino Unido da União Europeia, fenômeno que ficou conhecido como Brexit, não é um fato de 2022, mas a agravamento de suas consequências sim. Quase dois anos depois de os britânicos deixarem o bloco, os impactos econômicos ficaram mais visíveis. Apesar de ainda não se saber com precisão qual será a magnitude do Brexit, alguns dados mostram que os danos estão aumentando. Andrew Bailey, presidente do Banco da Inglaterra (o banco central britânico), estima que o Brexit causará redução acima de 3% do PIB do país em cinco anos, sendo que metade disso já aconteceu. Já Agência de Responsabilidade Orçamentária (OBR) estima que a economia do Reino Unido acabará, nesses mesmos cinco anos, 4% menor do que de seria sem o Brexit. Algumas ex-autoridades foram ainda mais longe. “Em 2016 a economia britânica tinha 90% do tamanho da economia da Alemanha. Agora, esse número é inferior a 70%”, disse o ex-presidente do Banco da Inglaterra Mark Carney.
Antes, a preocupação da Europa era o custo da energia. Piorou. O temor agora é não haver energia, nem cara e nem barata. É fato que a guerra deflagrou um salto nos preços de energia, que enfraqueceu os gastos das famílias e minou a confiança das empresas europeias, mas a escassez de petróleo e gás da Rússia amplificou as incertezas sobre a economia global. A União Europeia estima uma queda de 18% na produção industrial do continente, com fechamento temporário de fábricas. O consumo de gás natural, em outubro, caiu 25% em comparação com a média dos últimos dois anos. Países como Itália, Polônia e Bulgária serão os mais afetados por não terem alternativas de curto prazo para substituir o gás russo. Em comparação com a média de 2021, os preços do gás natural na Europa aumentaram seis vezes. Os preços reais da eletricidade doméstica no Velho Continente subiram 78% e o custo gás disparou 144%, em comparação com as médias dos últimos 20 anos.
70% é a chance de recessão dos EUA em 2023, a possibilidade se apoia no maior receio das empresas em investir e uma pressão nos preços que segura o consumo das famílias 
A alta recente no número de casos de covid na China abalou a economia local que registrou, entre janeiro e novembro, um déficit fiscal de US$1,1tri
Chile, Bolívia, Equador, Venezuela, Paraguai, Peru, Argentina e Brasil. A América do Sul viveu um ano de manifestações de rua, conflitos, distúrbios e crises políticas, alguns com mortes e todos com abalo político significativo. No Brasil, o não reconhecimento do resultado das eleições ainda resiste. No caso do Brasil, no entanto, nem isso levou a ondas privatistas como nos governos de Fernando Henrique Cardoso. A instabilidade social e a imaturidade econômica podem isolar ainda mais esta parte do continente.
Os lockdowns na China voltaram a assombrar o mundo. Com o fechamento de fábricas e o isolamento de cidades, o déficit fiscal aumentou para 7,75 trilhões de yuans (US$ 1,1 trilhão) entre janeiro e novembro, de acordo com cálculos da Bloomberg baseados em dados do Ministério das Finanças da China. O montante é mais que o dobro do registrado no mesmo período de 2021 e maior do em que 2020, quando a economia foi assolada pelo surto inicial de Covid-19 e o crescimento foi o menor em muitas décadas. A piora no déficit mostra como a economia vinha enfraquecida no fim de novembro, antes de o governo de Pequim abandonar a rigorosa política Covid Zero. Os lockdowns, a realização de testes e as regras de quarentena que eram a base da política pressionaram os gastos dos consumidores e das empresas. A arrecadação da segunda maior economia do planeta caiu 4,5% de janeiro a outubro em relação ao mesmo período de 2021. No entanto, o total teria aumentado 6,1% se não fosse a volta da pandemia, segundo estimativa oficial.
A combinação entre juros altos, guerra, inflação e risco energético em 2022 cria o cenário perfeito para uma recessão em 2023. A chance de uma recessão nos Estados Unidos é de 70%, segundo sondagem da Bloomberg junto a economistas feita entre 12 a 16 de dezembro. Os gastos do consumidor, cerca de dois terços do PIB americano, devem crescer apenas no segundo semestre.  Na Europa, o risco de recessão também é real, segundo o FMI. O relatório de Perspectivas Econômicas Regionais aponta que Alemanha e Itália deverão ser os primeiros a entrar em recessão em 2023. “As perspectivas europeias se tornaram consideravelmente sombrias, com um crescimento que irá desacelerar bruscamente e a inflação que permanecerá elevada”, disse o FMI, em seu relatório. Numa hipótese menos negativa, espera-se para os desenvolvidos uma temporária estagnação.
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