Países africanos apostam em uma reaproximação com o Brasil – Opera Mundi
Deutsche Welle
Bonn (Alemanha)
2023-01-19T18:30:00.000Z
“O Brasil irá voltar a ter a África como uma prioridade nas suas relações com o mundo”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva após se encontrar com seu homólogo da Guiné Bissau, Umaro Sissoco Embalo, no início de janeiro, em Brasília.
Os dois últimos mandatos de Lula (2003-2010) deixaram boas lembranças na África. Ele viajou para mais de 30 nações africanas e abriu embaixadas em 19 países. Por sua vez, o ex-presidente Jair Bolsonaro não visitou o continente uma única vez, manifestando seu desinteresse pela África.
“Acho que vamos voltar à estratégia original de Lula de uma relação mais próxima com a África e muito mais estreita com a África do Sul e os Brics”, disse William Gumede, presidente da Democracy Works Foundation, com sede na África do Sul, em entrevista à DW.
“Por maior que seja o Brasil, o país é ainda uma economia em desenvolvimento. As questões africanas também são questões brasileiras”, contou Gumede. “Por exemplo, [a busca por] comércio justo e acesso aos mercados mundiais, para os quais instituições globais como Bretton Woods ou a Organização Mundial do Comércio (OMC) precisam ser reformadas.”
As políticas brasileiras sob Lula levaram a um aumento de seis vezes no comércio com a África durante seus dois primeiros mandatos. Mas o interesse brasileiro na África começou a diminuir sob seus sucessores Dilma Rousseff e Michel Temer, devido à turbulência econômica global e às crises políticas domésticas. Sob Bolsonaro, a África desapareceu do radar político brasileiro.
Analistas afirmam que a África não deveria colocar muita esperança numa ajuda econômica do Brasil, mesmo depois de Lula voltar à presidência. Isso porque as circunstâncias mudaram desde seu primeiro mandato e, além disso, o país está sendo assolado por crise política, inflação alta, dificuldades na economia e problemas de infraestrutura.
Isso é uma má notícia para os países de língua portuguesa, que sempre estiveram particularmente próximos da nação sul-americana. Por exemplo, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, em 1975.
Desde então, cerca de 80 acordos bilaterais foram assinados, impulsionando investimentos. Como resultado, é provável que Angola continue sendo um dos maiores parceiros comerciais do Brasil no continente africano.
Mas essa relação bilateral não é isenta de falhas. Empresas brasileiras, especialmente dos setores de diamantes, petróleo e construção, têm se envolvido em casos de corrupção. Em 2017, por exemplo, a Odebrecht admitiu em um tribunal de Nova York que pagou US$ 50 milhões em subornos para garantir contratos em Angola e Moçambique. A Odebrecht já foi o maior empregador privado de Angola.
Alguns analistas esperam que, devido às acusações de corrupção que levaram Lula à prisão antes que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulasse a sentença, o presidente deve agora dar mais atenção aos negócios das empresas brasileiras no exterior.
O pesquisador e ativista angolano Rafael Marques manifestou dúvidas. “As relações entre Angola e Brasil se tornarão mais transparentes apenas quando os governos brasileiro e angolano se tornarem menos corruptos, e os países tiverem instituições funcionais, especialmente um sistema judiciário funcional”, disse Marques à DW.
Os moçambicanos estão ainda mais cautelosos com o seu aliado sul-americano. Até 2014, e antes de ser superado pela China, o Brasil era o principal parceiro comercial do país.
Mas os investimentos brasileiros em Maputo também foram prejudicados pela corrupção e por questões, por exemplo, ambientais e de direitos humanos.
A Vale foi uma das empresas que abandonou o país em 2021, desfazendo o maior investimento do Brasil na África. Moçambique ainda vive um grande escândalo financeiro que envolveu a Odebrecht e que veio à tona durante as investigações que culminaram na prisão de Lula.
A ativista Fátima Mimbire espera que a volta de Lula ao poder ajude a esclarecer o caso. Mas “se ele tiver alguma ligação com esse escândalo e se não houver independência dos sistemas de justiça brasileiro e moçambicano”, o presidente brasileiro pode fazer exatamente o contrário, disse Mimbire à DW.
A história da África está ligada ao Brasil desde o século 16, quando os portugueses levaram milhões de escravos de suas colônias africanas para a América do Sul. Como resultado, cerca de 50% da população brasileira tem alguma ascendência africana.
Irene Vida Gala, diplomata brasileira especializada em relações com a África, vê muito espaço para futuras parcerias. Entre os interesses comuns mais importantes estão o meio ambiente, a proteção das florestas tropicais, como a Amazônia e a Floresta do Congo, a biodiversidade, a exploração sustentável dos recursos minerais e a luta contra a pobreza e a desigualdade.
“O Brasil tem muito a oferecer, como tecnologia na área de produção agrícola e segurança alimentar, financiamento agrícola e industrialização da cadeia alimentar”, disse Gala à DW.
Os críticos brasileiros de laços mais fortes com a África apontam para escândalos de corrupção no passado e problemas de direitos humanos em alguns países africanos. Karine de Souza Silva, da Universidade de Santa Catarina, disse que as preocupações dos movimentos de direitos humanos são legítimas.
Mas ela também apontou para uma minoria que preferia construir relações com os países “brancos” em detrimento das nações do Hemisfério Sul. “Essa concepção colonial de que a África é um continente pobre e que não tem nada a oferecer é equivocada e racista”.
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São Paulo (Brasil)
2023-01-19T20:13:00.000Z
A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, participou nesta quinta-feira (19/01) de seu último painel no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e afirmou que o Brasil “voltou” para cuidar da Amazônia e para “liderar pelo exemplo” na proteção ambiental.
Chamado de “A Amazônia em um encruzilhada”, o painel ainda contou com o governador do Pará, Helder Barbalho, o cientista brasileiro Carlos Afonso Nobre e representantes internacionais.
Marina fez uma fala rápida porque informou que precisava retornar para o Brasil ainda nesta quinta e reforçou que o país “tem uma boa experiência em controlar o desmatamento e a devastação da Amazônia”.
Lembrando de sua primeira passagem pelo Ministério do Meio Ambiente, nos primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra ressaltou que o país “diminuiu 80% da destruição da Amazônia” e que a nação foi a primeira “a ter metas de produção de CO2”.
“Daquela vez, foi tudo muito difícil porque precisamos criar tudo do zero, criar as metas, criar o monitoramento em tempo real da destruição. […] Mas, agora, será muito difícil também porque o governo [de Jair] Bolsonaro fez um apagão em toda a estrutura”, disse referindo-se aos cortes de equipes de vigilância, enfraquecimento das agências de controle e a redução no orçamento para o setor.
A ministra reforçou as ações já tomadas por Lula assim que tomou posse, como a reativação do Fundo da Amazônia e a recriação de secretarias, destacando que o trabalho de cuidado com o meio ambiente será realizado com a ajuda de 17 Ministérios.
“Compreendemos que a proteção da Amazônia é um dever nosso, e vamos liderar pelo exemplo, mas precisamos de uma forte parceria dos que apoiam a Amazônia”, acrescentou, pontuando que é preciso de ajuda de órgãos internacionais, empresas e diversas organizações não só para proteger a floresta, mas também para levar “desenvolvimento sustentável” para a área.
Sem citar datas, Marina ainda revelou que “em breve” Lula irá fazer uma reunião com os chefes de governo de todos os países que abrigam a floresta amazônica para debater a integração e soluções para a região.
(*) Com Ansa.
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