Pamfir: uma “pedrada” na corrupção – C7nema
Se muitos esperam que todos os filmes que saiam da Ucrânia atualmente abordem de alguma maneira o conflito que por lá decorre desde 2014 (e que parece já ter entrado em esquecimento), como vimos este ano em “Butterfly Vision”, dois filmes que este ano estrearam no circuito de festivais epreferiram antes abordar outros temas: “How is Katia?”, um ensaio sobre dilemas morais e luta de classes, e este “Pamfir“, obra estreia de Dmytro Sukholytkyy-Sobchuk, que nos leva a uma região fronteiriça ucraniana que é movida pela superstição e índices de corrupção gigantescos.
É neste mundo corrupto que se insere Pamfir (Oleksandr Yatsentyuk), o nosso protagonista, que regressa a casa após uma temporada fora a trabalhar e vai ter de lidar com esse mundo tenebroso após o seu filho incendiar uma igreja e ele ter de arranjar dinheiro – através de uma rota de contrabando – para custear os danos. E tudo decorre durante a preparação de um ritual pagão, o Malanka, que enriquece sobremaneira a estética (e atmosfera) de uma obra que demora um bom bocado a arrancar, mas quando o faz cria no espectador um burburinho difícil de o largar até ao último minuto.
E se Pamfir aparenta ser, desde os primeiros momentos, uma rocha como o seu nome significa [“aquele que está na montanha”, mais concretamente], o filme vai progressivamente descosendo um conjunto de fragilidades que o colocam em alvoroço, não apenas a nível emocional com a família, com algumas histórias por contar, mas com toda a região, até porque a certo ponto percebemos que ele é visto e tratado como cidadão de segunda pela sua condição de ascendência romena.
Brutal no desenlace, num retrato dionisíaco da masculinidade movida a esteroides e fome de poder, “Pamfir” é uma bela estreia de um cineasta que à primeira faz um belo jogo entre tensões, vulnerabilidades e o lado selvático e egocêntrico do ser humano.
A ver.