Para filho de Bolsonaro, Mourão é um 'bosta' – UOL Economia

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Colunista do UOL
03/01/2023 04h00
Não desejo fortuna, deuses imortais; / Rogo por mim, e por ninguém mais. / Que jamais cresça em meu peito um coração / Que confie num juramento ou numa afeição.
Shakespeare
Antes de falar de Mourão, reflita por um instante. Será que um petista raiz, que usa o vermelho como se fosse seu manto sagrado, trairia Lula? Não. Devemos excetuar os exemplos de Antonio Palocci, Delcidio do Amaral e mais um ou outro, que para os petistas nunca pertenceram de verdade ao partido.

Alguns até foram colocados à prova no limite da sua fidelidade. Um deles é João Vaccari Neto, que atuou como tesoureiro do PT, condenado a mais de 20 anos de prisão. Cumpriu pena por um bom tempo sempre de boca fechada. Nem um pio. Outro caso conhecido é de José Dirceu, ex-ministro do governo Lula. Cumpriu parte da pena de 39 anos sem dizer uma palavra.
Será que não disseram nada porque não tinham o que dizer? Provavelmente não foi esse o motivo. Essa lealdade talvez seja uma das características da esquerda para estar no poder. Mais ou menos o lema dos “Quatro mosqueteiros”, a imortal obra de Alexandre Dumas: “Um por todos e todos por um”.
A direita, por outro lado, pelo menos aqui no Brasil, não consegue manter esse “código de honra”. Na primeira oportunidade, por um ou outro motivo, seus membros saem atirando para todos os lados. Foi assim com muitos deputados que se elegeram na esteira do bolsonarismo. Não conseguiram o que desejavam e passaram a atacar o presidente.
Não foi diferente com alguns ministros e ocupantes do primeiro escalão do governo. Só para citar alguns casos bem conhecidos. Weintraub, Mandetta, Moro, Bebiano, Santos Cruz e Ernesto Araújo. A lista é grande. Seus filhos alertaram desde o princípio que o pai viveu sempre rodeado de traíras.
Ele mesmo já brincou com esse fato. Mostrou uma fotografia de quando era menino segurando uma traíra ao lado do pai. Seu comentário foi bem irônico: “Desde cedo convivo com traíras. E o fim delas é sempre dentro da panela”. Pela quantidade de traições de que foi vítima, porém, parece que essa turma não tem muito receio de ir para o fogo.
Brincadeira à parte, a verdade é que aqueles que não foram leais a Bolsonaro e se candidataram, ou não se elegeram, ou tiveram muita dificuldade para conquistar o voto. Até Sérgio Moro, ao ver a viola em cacos, fez campanha associando sua imagem à do então presidente.
Agora vamos a Mourão. Ao apagar das luzes, sem que ninguém esperasse, eis que o vice-presidente, segundo alguns bolsonaristas, emerge das águas como sendo mais um exemplar desse famoso peixe. Como presidente em exercício, fez um pronunciamento de pouco mais de oito minutos em rede nacional. Aproveitou a oportunidade para alfinetar seu chefe:
Lideranças, que deveriam tranquilizar e unir a nação em um projeto de país, deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criassem um clima de caos e de desagregação social. De forma irresponsável, deixaram que as Forças Armadas de todos os brasileiros pagassem a conta, para alguns por inanição e, para outros, por fomentar um pretenso golpe.
Ninguém consegue afirmar qual foi o verdadeiro motivo de ele ter se manifestado da forma como se manifestou. Será que se sentiu diminuído por algum comentário inoportuno de Bolsonaro? Será que desejava mais destaque no governo e o presidente impediu que brilhasse? Às vezes nem a própria pessoa sabe quais são as suas motivações.
Deve ter sido um fato muito relevante, pois basta lembrar que o general até era conhecido no meio militar, mas só passou a ter projeção nacional por causa de Bolsonaro. Se não fosse por esse aval, jamais teria conquistado sua eleição ao Senado.
O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, não ficou calado diante da atitude de Mourão. Sem citar seu nome disse: “Mais máscaras caem”. Seu irmão, Carlos, também não ficou em silêncio: “Nenhuma novidade vinda desse que sempre disse que era um bosta”.
Mourão, provavelmente, ainda não avaliou bem as consequências da sua atitude. Ainda que permaneça por longos oito anos no Senado, se tiver intenção de continuar na política, terá de prestar contas com os eleitores por suas palavras. Sem contar que, agindo assim, foi parceiro de Lula.
O atual chefe do Executivo volta a praticar seu esporte preferido: criticar os antecessores. Foi assim o tempo todo com Fernando Henrique Cardoso e demonstra que não será diferente com Bolsonaro. Já no discurso de posse, aproveitou as primeiras frases para tentar desqualificar aquele que o precedeu.
Lula é experiente e sabe que Bolsonaro sai chamuscado, mas ainda é uma liderança que não pode ser desprezada. Daqui a algum tempo talvez tenha de enfrentá-lo novamente, ou para disputar a reeleição, ou para bancar um candidato que venha a indicar. Por isso, quanto mais puder minar a reputação do adversário, melhor para os seus projetos políticos.
Sendo assim, essa mãozinha inesperada dada por Mourão, sem dúvida, foi muito bem recebida pelo novo presidente. Ele só poderia dizer: obrigado, companheiro senador.
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