Patrice Trovoada: 'Encontrei um país com muita corrupção' – SOL

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O primeiro-ministro abriu o jogo sobre a situação de São Tomé e Príncipe e as relações com Portugal. E o que é preciso mudar para o país avançar
<!– Bruno Gonçalves –> Bruno Gonçalves  
Por Vítor Rainho e João Campos Rodrigues
A entrevista estava combinada para um dos principais hotéis de Lisboa e à chegada falámos com um dos seguranças – tinha um pin com a bandeira do país –, mas haveria de ser um dos homens do corpo de segurança pessoal da PSP que nos chamou para a entrevista. Subimos, de elevador, uns andares, e à porta do quarto de Patrice Trovoada estava mais um homem da PSP e outro da segurança pessoal do primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe. O governante não fugiu a nenhuma questão e à boa maneira africana brincou até com alguns dos temas puxados à liça, isto depois de se ter reunido. em dias alternados, com Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Fernando Medina, a quem veio pedir ajuda financeira imediata. Fala pausadamente, com forte sotaque francês, e quase nunca vacila.
Está em Portugal para pedir apoio económico.
Sim, para fazer face a algumas dificuldades financeiras que nós encontrámos depois da alternância democrática. E que têm a ver com restabelecer alguns marcadores macroeconómicos.
Mas será mais para a indústria, educação ou saúde?
Não, essencialmente, será uma linha de crédito porque a balança de pagamentos, enfim, está um pouco em mau estado, digamos assim. [Depois da entrevista foi anunciado que o Governo português disponibilizou 15 milhões de euros para reforçar o Orçamento do Estado daquele país]
Foi a Washington também fazer a mesma coisa, pedir ajuda financeira?
Em Washington havia uma cimeira dos líderes africanos com os Estados Unidos e foi o que motivou a deslocação a Washington. E também aproveitei para estar com o FMI e o Banco Mundial. Como sabe, o FMI é aquele que dá a luz verde para os outros financiamentos poderem intervir nos nossos países e nós estamos a negociar um novo programa com o FMI. Havia necessidade de discutirmos o novo programa porque o programa anterior, devido a algum descarrilamento, diria assim, a nível das metas, o programa anterior teve que ser suspenso.
E a renegociação foi aceite pelo FMI?
Sim, nós vamos começar a renegociar o novo programa. Abandonámos o programa que vinha, que já não se consegue recuperar em termos de metas, agora precisamos de restabelecer alguns indicadores, nomeadamente a questão das reservas a nível do Banco Central. E vamos em janeiro começar a renegociar o novo programa.
Como está a situação em São Tomé e Príncipe, houve uma tentativa de golpe de Estado, entretanto a oposição acusa-o de ter estado por trás do golpe de Estado…. Dizem que disse logo quem é que foram os homens que iam ser detidos, nomeadamente o Delfim Neves e o Arlécio Costa… O que diz disto tudo?
Digo-lhe que quando um Governo sofre uma tentativa de golpe de Estado e menos de doze horas depois convida a comunidade internacional, nomeadamente Portugal, a participar na investigação, a nível da medicina legal, a nível da PJ, da procuradoria, isso significa que esse Governo está tranquilo e quer saber a verdade da maneira mais concreta e pura, sem intoxicações. Nós estamos a aguardar o fim dos inquéritos.
Que estão a ser conduzidos com a polícia de São Tomé e a portuguesa. Mais alguma?
Portuguesa. Todos os organismos que quiseram acompanhar a questão foram recebidos em São Tomé e Príncipe. Tivemos o representante especial do secretário-geral Guterres, que esteve lá, tivemos a comissão dos direitos do homem da ONU, tivemos a CEEAC, mais transparente que isso não sei. Agora, a oposição tem as suas teses.
Dizem que estaria a tentar fazer uma revisão constitucional e estaria a tentar usar o golpe militar para puxar os deputados que faltam.
[Risos] Revisão constitucional para quê? Nós estamos num regime parlamentar, em que o primeiro-ministro quando tem uma maioria absoluta tem imensos poderes. E não tem a limitação de mandatos que é quase todos os casos dos limites presidenciais em África, que têm a sua limitação de mandatos, mesmo na Europa. O primeiro-ministro não tem limitação de mandatos. A Merkel fez quantos mandatos? O Tony Blair fez quantos mandatos? Por isso os primeiros-ministros de países como São Tomé e Príncipe, Cabo Verde ou Etiópia tem imenso poder. Se era uma questão de ter imenso poder, não precisava de uma revisão constitucional.
Mas o que dizem, pelo que li, é que pretende dar mais poderes ao Presidente e transformar o seu Presidente num regime presidencial
O Presidente está limitado a dois mandatos.
Quer alterar a Constituição?
Não, não estou preocupado com isso. A oposição pensa como ela pensa, se calhar por pensar assim é que não ganha as eleições. Vamos lá ver, eu ganho as eleições depois de estar ausente do país por quatro anos. Fiz uma semana de campanha. Ganho as eleições com maioria absoluta. Por que preciso de fazer um golpe de Estado contra mim mesmo? Não entendo isso. E a primeira revisão que eu tenho é a revisão constitucional? Quer dizer, tenho um Presidente da República que é um antigo ministro meu, do meu partido. Que coloquei, no sentido em que me engajei pessoalmente, anunciei a candidatura dele há um ano e pouco. Então qual é o interesse que tenho em estar a pensar numa reforma constitucional, de estar a fazer um golpe de Estado contra pessoas que já foram derrubadas pelas urnas? Não faz sentido. Acho que estão a criar uma cortina de fumo para esconder alguma coisa. Então, eu estou tranquilo a aguardar que a polícia judiciária portuguesa, que é competente, que é idónea, que é isenta, que se calhar quer preservar o seu bom nome, faça o seu trabalho, apresente os seus resultados com procuradores-portugueses, que estão também associados a essa operação. E digo mais, não é a primeira vez que a PJ portuguesa intervém nessas questões em São Tomé e Príncipe. Em 2018 houve uma tentativa de golpe de Estado em que havia mercenários espanhóis envolvidos.
Mas que foram libertados.
Pelo Governo que acabou de sair agora. A PJ portuguesa trabalhou nesse caso, ajudou a procuradoria de São Tomé e Príncipe a constituir a acusação. E quando houve mudança de Governo, o que entrou pegou os espanhóis e toda a gente envolvida no caso e libertou-os. Bom, imagine que, se naquela altura, quando pedimos a Portugal para intervir, para nos ajudar, fazia um inquérito para ajudar um país e dá-se por conta que o primeiro-ministro na altura inventa coisas, que é um homem pouco sério, eles regressariam em 2022? Não regressariam. Vamos ser racionais, não faz sentido. Há o segredo de justiça, mas vamos ser razoáveis. Não vejo muito bem, com os meios próprios de informação de Portugal, uma coisa dessas acontecer, venho para Lisboa e sou recebido com pompa e circunstância. Vou a Washington e sou recebido com pompas e circunstâncias, o mesmo no FMI. Não faria sentido. A oposição está a fazer muito barulho, é normal que faça, mas não é normal fazer barulho com algo tão sério. A não ser que tenham provas, elementos que nós não sabemos. Aí tem de as apresentar ao Ministério Público para ajudar ao inquérito.
 
Porque é que é a quarta vez que é primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe? Porque sente essa necessidade? E o que fez nesses quatro anos fora, esteve em França ou em Portugal?
Não sinto essa necessidade, até dizia que não queria mais ser primeiro-ministro depois de três vezes.
A primeira das quais foi muito pouco tempo.
Da primeira vez fui primeiro-ministro de uma coligação, durou três meses. Depois fui primeiro-ministro de um Governo minoritário, durou dois anos. Depois fui primeiro-ministro de um Governo maioritário durou toda a legislatura. Tive a experiência de todos os modelos possíveis. Penso que, depois desses quatro anos, recordo a toda a gente que ganhei as eleições. Não ganhei por maioria absoluta, mas ganhei. Só que preferiram uma geringonça, uma outra fórmula qualquer. E eu também na altura queria um bloco central, os dois maiores partidos a fazermos as reformas. Eles não quiseram, ok. Fui-me embora, fiz a minha vida, estive em Portugal, onde tenho a minha esposa e os meus filhos, há mais de dez anos. Tive em Portugal uma parte, tive no Dubai nas minhas atividades privadas, fui administrador de empresas, fiz outras coisas. O que acontece é que quando houve as eleições presidenciais, a nossa população é bastante politizada. Ela sabe quais são as competências do Presidente, quais são as competências do Governo e do chefe do Governo. Então, do lado das eleições presidenciais votaram em Carlos Vila Nova, que foi apresentado pelo meu partido, nas condições de que eu depois assumisse o cargo de primeiro-ministro.
Que concorresse.
Que concorresse, sim. E os que votaram Vila Nova votaram em Patrice Trovoada como primeiro-ministro que foi o que aconteceu. Era difícil nessa altura virar as costas e dizer que não me engajo. E então fui de novo para concorrer e ganhei.
Neste momento, qual é a grande ligação entre Portugal e São Tomé? Onde é que há mais ajuda? Portugal colabora com muitos PALOP com a formação de polícias, por exemplo. E também há a questão da saúde, de muitos cidadãos dos PALOP virem a Portugal ser tratados, nomeadamente na questão de casos muito complicados de oncologia.
Penso que as duas ligações mais fortes continuam a ser a saúde e provavelmente a Defesa, com a presença de uma equipa militar portuguesa a nível da guarda costeira, que nos ajudam a fazer a segurança marítima a nível do Golfo da Guiné. Depois a Educação também continua a ser um setor forte. Agora, nós pretendemos reforçar aquilo que é a assistência técnica a nível do aparelho central do Estado. Quer dizer, a assistência técnica aos ministérios, por exemplo Ministério das Finanças, Ministério da Justiça, que é um grande pacote que nós temos agora com Portugal, que é a reforma da Justiça. Quer bilateralmente com Portugal, quer com Portugal a nível da União Europeia. É aí também que vamos buscar bastantes meios disponíveis nos próximos anos. Isso quer dizer que Portugal é central em tudo o que é a política de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe. Agora, é verdade que a saúde é um encargo para os dois, porque nós também sobrecarregámos até aqui o sistema nacional de saúde. As ajudas médicas são muitas, as pessoas à espera de juntas médicas são muitas, no caso da hemodiálise são pessoas que não regressam depois, ao fim de uns tempos. É um peso financeiro, só na hemodiálise devemos estar a falar de mais de um milhão de euros por ano em encargos da parte portuguesa. É um peso social, moral para essas pessoas que não regressam mais para São Tomé e Príncipe.
É o Governo português que sustenta?
Nós pagamos as passagens, tentamos dar um subsídio às pessoas aqui.
E para onde é que as pessoas vão viver, para casa de familiares?
Para casa de familiares. E não é só um peso, diria que é um drama social essa questão. Que só poderá ser resolvido quando melhorarem as condições do sistema nacional de saúde em São Tomé e Príncipe.
Mas que não prevê que seja rapidamente.
Sabe, há melhorias que podem ser feitas. Primeiro, há a questão do diagnóstico precoce. Muitas vezes, não havendo um bom diagnóstico, sendo o diagnóstico tardio, só resta a evacuação porque já estamos na urgência. Essas melhorias no próprio sistema nacional da São Tomé e Príncipe é que temos de fazer, de modo a evitar que as pessoas cheguem a uma fase em que só é mesmo possível a evacuação para Portugal. Depois, é também nós termos um centro de hemodiálise em São Tomé e Príncipe, que faz falta também. E são também capacidades que perdemos em São Tomé e Príncipe, há pessoas novas que deixam os seus empregos, às vezes até são bons quadros, quadros superiores da administração central do Estado que depois têm de vir para aqui [Portugal], sem poder trabalhar aqui, sem poder integrar-se. São dramas. Mas penso que temos de melhorar as condições nos hospitais de São Tomé e Príncipe, com a ajuda das autoridades portuguesas. Porque também é um custo para Portugal, mas estou convencido que vamos encontrar outras soluções, mais economicamente sensatas e humanamente mais sensatas.
Para permitir ficar nas proximidades, mais próximo de São Tomé ou…
Mesmo em São Tomé. Oiça, quando se vê quanto é que custa um centro de hemodiálise e quanto é que Portugal paga há décadas para pessoas que vêm fazer hemodiálise cá, talvez seja melhor investir em São Tomé.
Mas aí vocês é que vão pagar, enquanto aqui é o Governo português.
Não, porque o Governo português também nos pode ajudar, Sabe que muitas vezes é porque não vamos ao fundo das questões ou há um pouco de falta de imaginação. Porque a vontade existe. Nós temos programas de cooperação que são substanciais. É preciso às vezes reorientar um pouco as prioridades. O que acontece muitas vezes em São Tomé e Príncipe, e noutros países, é que só olhamos para os recursos. Se me tem vinte milhões para me dar, só olho para isso. Não estou a pensar no que está por de trás, que se calhar poderia dar 15 milhões e eu fico melhor. É um pouco uma questão de apropriação da cooperação. As pessoas vêm colaborar connosco, querem-nos oferecer coisas. Mas têm de saber primeiro o que nós queremos. E a partir daí temos um outro tipo de diálogo.
Mas porque acha que África tem de estar sempre de mão estendida?
África não tem de estar de mão estendida.
Mas se tem de pedir a um país: ‘trata aqui dos meus doentes’…
Acho que há uma mudança de paradigma que é preciso fazer a nível africano. Não precisamos de estar sempre de mão estendida. Aliás, quando se fala de desequilíbrio na troca, é uma boa razão não é?
Está a dizer que Portugal investe lá e trás para cá, é isso?
Não fundamentalmente, não é propriamente o caso de Portugal. Sabe que cada parceiro tem a sua matriz de interesses. E pode ser que a matriz de interesses de Portugal seja mais equilibrada que os Estados Unidos, a França ou a China ou outros. Somos nós que, em relação a essas parcerias, temos de saber o que estamos a dar e o que é que pretendemos receber em troca. E, muitas vezes, talvez sim, tenham razão, os africanos não conseguem definir da melhor maneira esse toma lá ou dá cá.
A sua mulher é portuguesa?
Não, é do Mali, nós temos seis filhos que nasceram no Texas e que estavam cá na escola americana, e que hoje estudam todos na Inglaterra. Mas o meu avô materno é português.
Ou seja, a sua ligação a São Tomé e Príncipe não é a de uma pessoa que passou lá a vida, passou muitos anos fora.
Mas isso não significa nada. Obama tem origens quenianas, viveu numa série de outros países, foi Presidente dos Estados Unidos, temos de descrever as coisas de uma forma mais fora da caixa.
Perguntando-lhe uma coisa mais fora da caixa. Estive recentemente na Guiné-Bissau e nos Bijagós e uma coisa que me fez confusão, que estranhei foi as crianças virem todas e dizerem: Bounjour, bonjour. tudo a falar francês. Acha que o Estado português está a apostar o suficiente para que a língua portuguesa se mantenha ou até aumente a sua influência nesses países como São Tomé?
Acho que sim, aliás, se me perguntar digo sempre, que onde devemos pôr mais ênfase, mais meios a nível de educação é no Português, Matemática e no Inglês. Porquê? Porque o português é a nossa raiz, a nossa cultura, para falar bem qualquer língua, é melhor falar bem o português, a nossa língua mãe. Nas matemáticas porque temos de saber fazer, o espírito tem de ser um pouco lógico e cartesiano. Depois o inglês, porque a maioria dos nossos clientes e a maioria do negócio internacional faz-se em inglês.
Não falou no francês propositadamente?
Não falei no francês por uma boa e simples razão, Porque as pessoas pensam que eu sou francófilo, mas isso é uma caricatura, que felizmente em Portugal já baixou. É normal, eu nasci no Gabão, sou cidadão do mundo. Mas o meu avô é português, a minha esposa e os meus filhos passaram doze anos em Portugal. Então porque é que não falo do francês? Porque a uma hora de São Tomé e Príncipe tenho a Nigéria, que são duzentos milhões de consumidores. E se faço um arco entre Angola, a sul, a menos de duas horas de São Tomé e Príncipe vou à Costa do Marfim, tenho quatrocentos milhões de consumidores dos quais uns 250, 280 milhões falam inglês. Só pouco mais de trinta milhões em Angola é que falam português. O que digo é que os meus clientes principais falam inglês. E se quiser desenvolver o meu país, ir buscar turistas a esses países, as pessoas têm de falar também um pouco de inglês. É uma questão que até é uma exigência dos nossos vizinhos. Quando falo com o mercado turístico da Nigéria, vejo que a Nigéria tem mais de três milhões de milionários em dólares. Estão a uma hora de São Tomé em Príncipe. Se eu quiser desenvolver uma oferta turística para essa gente, que tem poder de compra, o nigeriano só fala inglês. Só fala essa língua, não fala outra coisa.
Recebem muito dinheiro da China, de Portugal, como desaparece?
Isso é uma boa pergunta. No fundo, nós somos um país que beneficia muito de ajuda internacional. Mas diria que há dois aspetos. Primeiro, com alguns parceiros, quase 70% da ajuda regressa. Porque são estudos, são financiamento para assistência técnica, equipamentos e não sei que mais. Há outros parceiros com os quais a nossa capacidade não é tão boa para poder absorver essa ajuda. Isso faz com que a performance da ajuda não seja aquilo que se espera. Mas, de um modo geral, penso que com isso tudo consegue-se fazer melhor.
Sobre a questão de como é que os fundos desaparecem, quando chegou ao seu posto e olhou para as contas, havia um enorme lastro de corrupção ou não?
Sim, sim, e nós estamos a lidar ainda com isso. Que é, por exemplo, contratos que foram assinados e que a nossa primeira vontade era suprimir. Mas depois temos que ver quais são as consequências a nível jurídico das organizações, as compensações. Por isso é que só podemos intervir na redução das despesas extraordinárias desnecessárias, etc. Ou a implementação de novas normas informáticas para que haja mais transparência e rastreabilidade das operações, digamos assim. Nós vimos um contrato com uma empresa de venda de nacionalidade são-tomense. Pergunto: estamos habituados aos Vistos Gold, etc. Em Portugal, se eu venho com um Visto Gold eu sei que vou ter uma residência, que vai-me permitir viajar no espaço Schengen, um passaporte português dá-me uma grande liberdade de circulação. Por que vou comprar uma nacionalidade são-tomense para ter um passaporte que não me dá acesso a nada?
Era o que estava a pensar francamente.
O que me ocorre? Então é como se tivesse um passaporte que me vai proteger de outras jurisdições. Quer dizer, vou-me esconder em São Tomé, não há extradição do cidadão são-tomense e tudo bem. Não faz sentido. Alguém que me explique porque é que vou vender a nacionalidade são-tomense e quem é que vai comprar uma nacionalidade são-tomense.
Quem precise de não ser extraditado.
Exatamente. Estamos a abrir a porta à criminalidade internacional. Bom, então, esses contratos nós suprimimos, pronto. Depois, havia uma cidade privada em São Tomé para 35 mil pessoas, em que as regras de funcionamento interno não têm nada a ver com as leis da República. Evidentemente que deitámos isso abaixo. É uma seita, o que é que se passa? Depois há um operador de portos com mais nenhum outro porto no mundo, que tem a concessão do porto de São Tomé, do porto do Príncipe e do local do próximo porto de águas profundas a ser construído. E ele só tem a obrigação de investir duzentos mil dólares. Como é que osso aceitar um contrato desses? Só que está muito bem cozinhado, se vou quebrar o contrato tenho de pagar vinte e cinco milhões de dólares de indemnização. Bom, é o país que encontrei. Encontrei um país cujas reservas de câmbio [gesticula, como se algo tivesse desaparecido], por isso é que estive hoje com António Costa. Portugal tem de me ajudar, porque sou dependente da importação para tudo, nomeadamente do combustível que é o que me dá eletricidade no país. Sim, encontrei um país com muita corrupção. Um país com muitas ilhas, em que cada um quer um instituto com regime privativo [risos]. Por exemplo, eu quero um assessor político para o meu gabinete. Onde é que estão os bons assessores jurídicos? Estão a trabalhar nos projetos de assistência internacional. Porquê, porque a um assessor jurídico que fez Coimbra aqui, etc, eu só posso pagar 400 euros por mês.
400 euros?
400 euros. E se ele for trabalhar para uma agência de cooperação já ganha uns dois mil euros. Então como é que faço?
Um pequeno aparte que eu fiquei muito curioso. Uma cidade privada de uma seita?
Não sei se é uma seita, mas é uma cidade privada, são uns alemães e suíços. O anterior Governo deve saber quem são, mas nós travámos o projeto, não faz sentido, não vemos como é que podemos ter uma cidade privada em São Tomé para umas 35 mil pessoas num país com 200 mil.
Tendo acontecido isto tudo no mandato anterior, como é que quando vai falar com o FMI ou com o Governo português, como é que lhes consegue dar algumas garantias de que o mesmo não se passará com os fundos que enviem agora?
Sabe, acho que isso faz parte. Primeiro, felizmente as pessoas conhecem-me, fui quatro vezes primeiro-ministro, tenho o historial das minhas passagens pelo Governo. A segunda questão importante é ver qual é o programa do Governo e aí também há alguma diferença, mesmo que seja a nível de blá,blá, blá. Porque há o business as usual e depois há alguém que trás um programa mais concreto, focado. Depois há a condicionalidade. Quando você ajuda um país, você impõe também as suas condições. E é por isso que, por exemplo, o Banco Mundial antes de desbloquear dinheiro impõe condições e vê se podemos respeitar as condições. No Governo anterior houve oito condições que eles impuseram para ter uma ajuda orçamental ainda este ano de 2022. Das oito condições eles cumpriram uma. E eu em menos de um mês cumpri seis.
Estamos a falar de que género de condições?
Várias, por exemplo, no que toca à empresa nacional de eletricidade. O FMI e o Banco Mundial disseram, ‘não, a partir de agora os diretores das empresas têm de ser escolhidos por concurso’. Bom, para si parece normal, mas quando está num país em que é jobs for the boys, o Governo quer nomear todos os diretores, mas o FMI e o Banco Mundial dizem não. Disseram-nos que o único que podíamos nomear sem concurso era o diretor-geral. Cheguei e disse que não, seria incluindo o diretor-geral, eu não quero nomear, ele vai por concurso. É um sinal. Eram oito medidas, uma das quais era o IVA a 15%. Eu cumpri em menos de um mês todas as outras medidas, mas disse que o IVA não, não faço. E não digo que vou fazer quando não faço. Porque é que não faço? Porque estou a 24% de inflação. Estou num país pobre, vou ainda carregar com 15% de IVA? Sabe, depois das discussões disseram-me, ‘bom, sr. primeiro-ministro, estamos de acordo que essa questão temos de discutir um pouco melhor’. E acabou-se. Se dissesse eu aceito, só para o desembolso, eles iam querer ver se ia fazer antes de desembolsar. Provavelmente porque disse que não aceito vão poder desembolsar enquanto estamos a discutir se é 15%, se 10%, se é 5% para a restauração e 8% para a indústria… Vamos ver. A questão de dizer sim quando sabe que não pode fazer e não apresentar alternativas, ou aceitar condições de que não se é capaz não funciona. Nesse jogo é uma questão de credibilidade e seriedade. E de vontade muito concreta de discutir os detalhes das soluções para o país.
Num tema menos orçamental, voltando ao tema do golpe de Estado. Há pouco mencionou que a oposição tinha as suas teses sobre o que sucedeu. Sabendo que ainda aguarda o resultado do inquérito, quais são as suas teses? Quais foram os objetivos da intentona e, sobretudo, quem matou os quatros sujeitos assassinados?
Quem matou os quatro sujeitos não sei e eu quero saber. Sabe porquê? Porque o que me parece – e é uma situação muito delicada, porque eles morrem quando estavam sob custódia das Foras Armadas – é que ou é um ato de selvajaria, barbarismo, mas se havia pessoas que filmavam, consta que foram pessoas de alguma patente, então é complicado. É sinal que esse exército está com uma indisciplina que é uma coisa terrível. Se foi queima de arquivo, porque são testemunhas, também é bastante grave. Não quero pronunciar-me sobre uma questão assim, quero é saber e perceber. O inquérito irá dizer quem pode estar por de trás dessa tentativa. Eu penso que, com o país que nós encontrámos, com os graus de compromisso, de contratos, acho que aqui se calhar há um grupo de interesses que viu os seus interesses contrariados. Porque também estavam muito confortáveis. Diziam: ‘Esse Patrice Trovoada, há quatro anos que ele não está no país. A campanha começou ele não aparece no primeiro dia da campanha, aparece na segunda semana’. Provavelmente não estava nos cálculos que eu fosse ganhar as eleições. Ganho as eleições e na primeira noite o que é habitual é dar os resultados provisórios. A comissão eleitoral nacional não quis dar os resultados provisórios. Nós que tínhamos o nosso sistema de cálculo, na primeira noite dissemos que tínhamos trinta deputados. Ao fim de uma semana chegou-se à conclusão que tínhamos trinta deputados. Além disto, que a nova assembleia tinha de tomar posse até trinta dias depois da publicação dos resultados. O então presidente da assembleia [Delfim Neves] cessante disse que só dava sessenta dias depois. Bom, nós assistimos de facto ao atrasar, atrasar, da mudança de poder. E depois, quinze dias depois de eu tomar posse, onze dias depois do Governo tomar posse, uma tentativa. Qual é a explicação que dou? E disse bem, devia haver aí interesses fortes que ficaram surpreendidos com a alternância e que ficaram inconformados. Mas é a minha tese, não vou muito para além porque deixo o inquérito falar. E depois do inquérito falar a única coisa que tenho a certeza é que não tenho nada a ver com isso. Depois do inquérito falar veremos. E note bem uma coisa, as pessoas falam, falam, falam, mas mais uma vez a independência da justiça são-tomense tem dois aspetos. Que é que por um lado a investigação é internacional, algo inédito em África que aconteça. E por outro lado você tem um arguido, que é o Delfim Neves, que não foi ainda interrogado pela PJ e pela procuradoria de São Tomé. Em São Tomé e Príncipe ele só foi apresentado ao juiz para medida de coação. E a juíza disse para ir para casa, apresentar-se umas vezes por semana. A mesma juíza ainda disse: ‘Você tem de fazer a revisão às costas, pode ir para Portugal’. E ele ainda não foi interrogado.
Mas tudo isto aconteceu num quartel, pelo que percebi, com militares. Isso quer dizer que estes fizeram o golpe e pararam o golpe?
Não, não, os militares não fizeram o golpe. Foi um assalto ao quartel. Agora, havia cumplicidade no seio dos militares. Uma cumplicidade que, no fundo, é marginal, porque senão o golpe teria tido lugar. Então o que é que acontece, há um assalto que é feito por indivíduos – que lhes chamam civis, mas que têm treino militar, estavam vestidos de camuflado, tinham AK’s, G3, etc. – com cúmplices no interior do quartel. Mas a operação falha. Os indivíduos e aqueles que denunciaram, que estavam fora, foram presos. E o chefe deles, que eles denunciaram, mais três dos assaltantes morrem depois de estarem sob custódia dos militares. A tortura e morte foi ajuste de contas? Queima de arquivo? Quando cheguei no poder o chefe do Estado Maior não foi nomeado por mim, vinha do anterior Governo. Todo o comando da polícia não foi nomeado por mim, continua do anterior Governo. Os serviços secretos vêm do anterior Governo. Como é que com toda a estrutura nomeada não por mim, mas pelos outros, como é que vou fazer um golpe de Estado? Como é que faço isso? O que estou a dizer é que não conseguiram o golpe, mas o facto de terem desaparecido essas pessoas dessa maneira bárbara… Agora, tenho de olhar para isso tudo com muita calma. Porque estamos a falar de Forças Armadas. Indivíduos armados que se podem solidarizar se têm a impressão que estamos a crucificar todas as forças armadas.
Sente-se descansado quanto ao seu regresso a São Tomé?
Descansado como?
Como acha que não corre perigo de vida?
Eu sempre vou correr. Mas sabe, o que lhe estou a dizer hoje é que a maioria das forças armadas não entrou nisso. É por isso que o regime continua. Há dentro das forças armadas certas pessoas que foram entrando nessa estratégia. Quem são eles? Nós não sabemos. Então temos de saber.
Quando chega a São Tomé tem muita força à sua volta então.
Mas será que isso é eficaz? Não sei. Pode ser que seja dissuasivo. Nessas coisas conto primeiro comigo próprio. Sabemos como é que é. Mas até mais do que isso. Sabe que aqui – não lhe vou dizer quem – aconselharam-me e disseram que da próxima vez não vão fazer um golpe de Estado. Da próxima vez vão-me apanhar num lugar público e puf, acabou-se, é mais simples. Foi-me dito aqui por responsáveis.
Portugueses?
Sim. Que me disseram até para ter um pouco de cuidado, que não é só São Tomé, é em todos os sítios. Porque na análise que eles fizeram chegaram à conclusão que eu era o alvo.
Eles, está a dizer, o Governo português.
Não o Governo, pessoas que eu encontro. Pessoas que seguem as coisas e documentam.
Ou seja, serviços secretos, podemos estar a falar da CIA.
O meio internacional da inteligência, digamos, e que lida com os perigos todos. São profissionais e dizem que os riscos são multiformes. Não faço disso uma obsessão.
Não gosta de viver? O que o leva a regressar?
Nesse caso, o senhor não faz política. Porque na política, mesmo num Estado democrático, uma das variáveis é a pessoa morrer. E morrer de uma maneira violenta. E o que é que se vai fazer? Em Portugal não há riscos? Olhe para o caso do Olof Palme. Não morreu?
Mas não é o mesmo risco que São Tomé ou a Guiné-Bissau.
Guiné-Bissau tem um risco diferente, São Tomé não tinha esse tipo de riscos. As pessoas que lidam com esse tipo de riscos é que dizem muitas vezes, se o fulano é o alvo não é preciso ir inventar muita coisa. Pode ser que um fulano esteja a passar na rua e pumba.
Sabendo da situação do país o que o leva a regressar, sendo um empresário de sucesso, que até aparece como um dos homens mais ricos de São Tomé.
A minha paixão é a política. Mas não sei disso, há de haver pessoas mais ricas do que eu em São Tomé, de certeza.
Há dois anos aparecia como a terceira pessoa mais rica [no ranking da Africa Trendy], com Manuel Pinto da Costa como primeiro e Evaristo Carvalho depois.
O Evaristo? Por amor de deus [risos], não, não.
Mas interrogo-o, como é que volta pela quarta vez?
Acho que posso contribuir para o país.
Mas porquê? Se não tem as raízes lá, a família está toda fora. Tem algum familiar em São Tomé?
Tenho, tenho o meu pai que é vivo. Tenho a minha família que não está em São Tomé mas está em França. Nasci na política, no exílio, no tempo da luta, etc. A paixão é a paixão, às vezes é irracional.
Acha que o facto de ter crescido no seio de um partido de libertação, onde a ameaça era permanente, o ajudou a lidar melhor com ameaças à vida?
Nós tivemos uma luta de libertação relativamente pacífica, comparando com os outros movimentos de libertação. Penso que nós fizemos um salto a nível da violência no seio da política que, na minha análise, tem como fundamento a promiscuidade entre os meios políticos e meios económicos ‘mafiosos’. Isso é que leva a esses interesses e essa violência. Porque o jogo político sempre foi um jogo competitivo em São Tomé e Príncipe, com alternância. Mas desta vez, quinze dias depois fazem-me uma tentativa de golpe de Estado violento. E eu repito, com indivíduos que não são as forças armadas, tiveram cumplicidade. É por isso que temos de perceber qual é o grau de contaminação da política são-tomense por interesses económicos mafiosos. Porque quando se fala do narcotráfico é uma coisa, vimos isso em certos países como a Guiné-Bissau e não só. Quando há a penetração por organizações terroristas, seja do foro islâmico ou outra coisa parecida, também. No nosso país temos de perceber o que leva pessoas que acredito terem uma ligação com a política a um ato violento que precisa de alguma preparação e dinheiro. Quando não há os catalisadores sociais que justificam isso. Não há contestação social porque eu tinha tomado posse há quinze dias, não há conflitos religiosos ou problemas de tribos. Então o que justifica isso?
Quando falo com amigos africanos, uma das questões de que mais se queixam é que há pouca urgência dos líderes em resolver os problemas porque acabam por não os experienciar. Se ficam doentes vão ser tratados a uma clínica na Europa, se têm filhos vêm para Portugal estudar, para França. Dado que viveu a sua vida toda fora, tem negócios no Dubai, a família está cá em Portugal e em França, acha que isso fá-lo de facto ter menos urgência em resolver os problemas?
Entendo aquilo que diz. Porque às vezes fui para países africanos e perguntava a um ministro: ‘Então como é que está a situação da greve na Educação’. E ele respondia: ‘Há greve, onde?’. Ele não sabe, porque os filhos não estão no sistema de educação público. Isso é recorrente, infelizmente. Mas, se me pergunta a mim, sou um defensor da escola pública. Isso quer dizer que será que amanhã tenho de pôr os meus filhos numa universidade pública que não lhes consegue dar formação, se eu tenho possibilidade de os pôr noutro sítio? Mas isso não deixa de fazer de mim um homem público, interessado no desenvolvimento da escola pública. O meu balanço fala por mim. Vejamos bem, porque será que a população escolhe alguém que fala mal português como eles dizem, porque esteve em França, que é o único líder muçulmano, casado com uma maliana. Estamos em democracia, porque é que escolhem alguém assim? Por causa da performance, porque querem um dirigente que resolve os problemas. Eu sou quem eu sou, não vou mudar. O homem político tem de ser visto pelo que faz.
Por falar em mudança. Tenho curiosidade, cresceu no seio da luta política, como disse, num partido de inspiração marxista-leninista. Hoje em dia é um empresário de sucesso com negócios no Dubai. Conte-me um bocadinho mais como foi essa transformação ideológica.
Vou-lhe dizer, nasci na luta. À minha irmã Daisy, Amilcar Cabral mudou-lhe as fraldas. E eu chamo-me Patrice Émery Trovoada por causa de Patrice Émery Lumumba, do Congo Democrático. Quando você carrega isso tudo, não pode virar as costas às suas origens. Nasci nisso, cresci no nacionalismo, a acreditar no socialismo, no homem novo, a falar de reacionários e progressistas. Aos 14 anos disse ao meu pai que queria ir viver num país socialista. E ele mandou-me para a Roménia de Ceausescu. Fui socialista, mas fiquei com algumas perguntas [risos]. Perguntei, voltei a perguntar e quando comecei a crescer um pouco mais afastei-me desses modelos que não correspondiam ao que eu pensava. Não quer dizer que deixei de ser alguém que acredita nos valores do humanismo e da justiça social. Depois, o meu pai sempre foi Internacional Socialista, continua a ser cor de rosa. Eu lido com o Partido Popular do Parlamento Europeu. Porquê, porque não deixo de ser um africano de um país pobre subdesenvolvido. Mas refiro me relacionar diretamente, concretamente, defendendo a minha posição, com aqueles que estão connosco numa parceria competitiva, muitas vezes antagónica, que é o capital. Eu sem o capital não desenvolvo o meu país, tenho de ter esse diálogo, sem complexos. Sou uma pessoa pragmática.
Pegando nesse pragmatismo. Qual é o peso do turismo e da pesca na economia?
O turismo é aquele que terá o maior peso, no meu ponto de vista. Falo do turismo em que você põe o país no mapa, que precisa de grandes nomes. Mas o que estou a desenvolver ao mesmo tempo? Uma espécie de Airbnb em que o nacional pega três/quatro casas de madeira, em que se toma banho com a caneca, desde que haja internet, seja seguro e limpo. E quando o local puder pôr no mercado um produto desses, que tem clientela e com o qual poderá poderá ganhar dinheiro, ele vai estar muito mais aberto a receber turistas. Se em vez disso houver um hotel de cinco estrelas com pessoas a tomar champanhe, em que o habitante local não participa, vai ter rejeição aos turistas. Mas é o Estado que tem de organizar essas coisas. E lá, mais uma vez, talvez seja o tal espírito ainda do sistema socialista que sou um bocadinho Estado dirigista para organizar a sociedade. E na pesca tenho de fazer uma opção. Porque se deixar de tratar com a UE, se disser niet aos barcos espanhóis, o que acontece? A União Europeia corta-me o dinheiro. Então, tenho que deixar ir pouco a pouco negociar com a União Europeia, negociar a questão das pescas, de alguma pesca um bocado quase ilegal.
Última pergunta. Há uma operação especial em curso na Ucrânia ou uma invasão da Ucrânia?
Operação especial não sei.
Sabe muito bem o que estou a dizer.
O que estou a dizer é que nós, por princípio, não podemos aceitar que os russos ou qualquer outro país invada outro.
Mas agora se estivesse na ONU quando foi aquela votação, votaria a condenar a Rússia ou não?
Sim, pela invasão, quaisquer que sejam as razões não se pode invadir.
Penso que seria o primeiro PALOP que votou contra a Rússia. 
Eu acho pessoalmente que os problemas existem. É preciso é encontrar soluções aceitáveis. Os russos podem ter as suas razões, o posicionamento da NATO à volta deles. Agora a solução é invadir a Ucrânia? Não pode ser uma solução.
 
 

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